Capítulo 13

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CAPÍTULO 13

Ao chegar no departamento logo fui conduzida a uma sala menor, na qual não tinha estado presente na noite anterior. Fui informada que o chefe de perícia e exames clínicos logo apareceria com meus resultados. Jackson se juntou a mim para esperar sem deixar uma única palavra soar.

Não demorou muito para que um homem de aproximadamente um metro de oitenta de altura entrasse na sala segurando uma pasta lotada de papéis. Me lembro de ter tido uma visão tão bela como aquela pouquíssimas vezes na vida.

O homem entrou e parou na nossa frente para me cumprimentar. Estendeu a mão abrindo um leve sorriso e eu congelei por alguns instantes. Ele vestia uma calça social preta com sapato de ponta quadrada, um suéter cinza e por cima de tudo aquilo um jaleco tão branco quanto seus dentes.

-Meu nome é Andrew, mas pode me chamar de Andy. – Ele disse e eu sai do meu transe estendendo a mão para cumprimenta-lo de volta e podia jurar ter visto Jackson revirar os olhos – Sou o chefe do departamento de perícia e da parte exames laboratoriais também. Tudo bem, senhorita Melina? – Ele olhou um dos papéis para confirmar meu nome

-Sim, tudo bem. - Disse sem conseguir formular uma resposta maior que aquela e me sentei, sendo seguida por Andy e Jackson.

-Bom, assim que o vestido chegou para mim hoje de manhã eu me dediquei inteiramente a ele. Não temos dúvidas que de fato era o vestido de sua mãe, o tecido, apesar de bem conservado mostrava que havia sido feito há mais de vinte anos. Ele foi lavado e remodelado recentemente, diria que há uns dois dias, no máximo. As pedras eram de fato diamantes, a equipe da perícia está investigando todas as joalherias de Londres para tentar identificar uma compra grande o suficiente do material. Estamos tentando rastrear as peças pelo número, mas está bem difícil, até o momento não conseguimos nada. A peça não apresenta nenhum DNA, a não ser... – ele deu uma pausa

-A não ser? – Eu o incentive a continuar já mais nervosa do que deveria.

-A não ser pelo seu, senhorita. Mas, não são digitais. Seu DNA está em toda a peça. – Ele continuou tirando os olhos do papel e direcionando a mim – Meu palpite é que vestiram a senhorita com esse vestido na noite que acordou na rua.

Minha mente tentava processar todas as informações de uma só vez, mas não conseguia acompanhar. Jackson se endireitou na cadeira e Andy continuou.

-Fizemos todas as inspeções no isqueiro também e a resposta foi a mesma, apenas o seu DNA foi encontrado. Seja como for, não acho que este objeto tenha ficado no seu flat por engano. Quanto aos seus exames... – ele parou novamente e eu pude sentir a compaixão em suas palavras – bom, nenhuma amostra de sêmen foi encontrada. – Eu respirei aliviada por um momento – mas...

-Mas? – dessa vez foi Jackson que o indagou e sem tirar os olhos de mim ele continuou:

-No seu exame de sangue encontramos amostras de flunitrazepam, ácido gama hidroxibutírico e cetamina. – Fiquei confusa por uns instantes, Jackson se levantou nervoso e percebendo isso, ele explicou melhor – O flunitrazepam é um medicamento que induz o sono rapidamente, ácido gama hidroxibutírico diminui o nível de consciência da pessoa e cetamina é um anestésico. A combinação dos três é o que costumamos chamar de...

-Boa noite Cinderela. – Eu disse murchando na cadeira incrédula. Lembrava bem daquela combinação das aulas de criminologia na faculdade. Eu tinha sido drogada, por isso não lembrava de absolutamente nada.

-Você não tem com o que se preocupar, a essa altura eles não tem mais efeito em seu organismo...

-Não tenho com o que me preocupar? – Respondi debochada enquanto levantava e começava a caminhar de um lado para o outro como uma barata tonta – Nos últimos dias eu fui drogada, acordei de madrugada no centro de Londres, meu apartamento foi pelos ares, eu perdi absolutamente tudo que eu tinha. Meu flat não tinha nenhum sinal de arrombamento, o que significa que a pessoa que entrou lá para me drogar tinha livre acesso, sabe lá Deus quantas vezes mais esse indivíduo entrou na minha casa ou quantas vezes me drogou. – Eu parecia uma maluca falando sem parar nem para respirar - Descubro que tem um lunático por trás de tudo isso e não tenho ideia de por onde começar a procurar qualquer ligação... – parei de falar.

Minha cabeça deu um estalo mudo como se tivesse acabado de juntar todas as peças do quebra cabeça.

-Me dá um mapa de Londres! – Os dois ficaram me encarando como uma louca – ME DÁ UM MAPA DE LONDRES! – Sem pensar muito e com uma cara um tanto assustada Andy estendeu o iPad que tinha em sua mão na minha direção. Peguei abrindo o navegador, pesquisando e falando ao mesmo tempo – Eu acordei na Old Queen Street, mais precisamente quase no início da Dartmounth St, - eu falava mostrando o mapa esperando que os dois entendessem meu surto –vinte e oito anos atrás, na esquina que une as duas ruas, houve uma demolição de um prédio antigo histórico, - eu puxava a matéria antiga sobre o fato no navegador e mostrava aos dois – teve diversos protestos sobre o ocorrido pela história do lugar. As autoridades alegaram que o prédio em questão não condizia com a arquitetura do centro da Grande Londres e condenaram o mesmo. Acontece que ali ficava a Capela Little Queen, - parei encarando os dois sem acreditar no que ia dizer – foi onde meus pais se casaram.

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