CAPÍTULO 61

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CAPÍTULO 61

Jackson parecia acabado.

Lembro-me que a primeira coisa que reparei em Jackson quando o conheci era que ele mantinha o cabelo perfeitamente arrumado e a barba sempre parecia que tinha acabado de ser feita, mas agora, olhando para Jackson, tudo que eu via era um emaranhado de cabelos um pouco grandes demais e uma barba por fazer. Tudo isso, misturado com as feições de uma pessoa que não dormia há pelo menos três dias o deixavam com uma aparência de pelo menos cinco anos mais velhos.

Um aperto no meu coração foi inevitável. Minha cabeça não parava de girar e todos os meus pensamentos iam de "como foi que chegamos aqui?" para "parece um milagre ainda estarmos vivos", e esse último pensamento deve ter saído em voz alta pois a resposta que recebi de Jackson foi:

-Concordo! – Um pigarreado com a garganta foi o que me tirou do transe – Oi...

-Oi. – Foi tudo o que eu consegui responder.

Um silêncio se instaurou por alguns segundos constrangedores demais antes de Andy interferir.

-Ok, eu sei que os pombinhos têm muito que o que conversar, mas eu acho que isso pode esperar, temos uma pouco de urgência aqui...

-Você está certo, - o fato de que Jackson estava apenas concordando com Andy sem nenhuma provocação chamou a minha atenção, a coisa devia realmente ser séria – Ele me procurou...

-Ele quem? – Respirei fundo sentindo o peso do meu peito ficar ainda maior – Ele quem, Jackson?

-Ele! – Eu não precisava de muito mais para saber que ele estava se referindo ao assassino.

Me sentei na poltrona de frente para Jackson e deixei que ele falasse:

-Você lembra da noite em que eu e Andy discutimos?

-Acho que você vai ter que ser um pouco mais específico, Jackson...

-Na noite em que eu saí da cabana e fui para o bar... – Jackson respirou e eu me lembrei exatamente da noite em questão e do estado que Jackson tinha voltado para a casa.

-Sim. – Foi tudo que eu respondi.

-Bom, naquela noite eu fui para o mesmo bar em que nós fomos dias depois... – Jackson passou a mão pelos cabelos como se relembrar aquela noite fosse um grande desafio – Assim que cheguei no bar eu comecei a beber, doses duplas de whisky. No terceiro copo eu já estava completamente bêbado. O barman reparou, mas não parou de me servir. Quando eu pedi a sexta dose, um envelope veio junto da bebida e o garçom me disse que minha conta tinha sido paga por um amigo... Quando abri o envelope... – Jackson suspirou mais uma vez me deixando ainda mais agoniada – Bom depois disse eu fiz questão de pedir ao garçom que só me servisse apenas suco de maçã, não importasse o quanto eu insistisse por álcool, pois eu tinha a certeza de que estava delirando... – Me lembrei por um instante o garçom perguntando a Jackson "o mesmo da outra noite" quando chegamos ao bar.

-O que tinha no envelope, Jackson?

-Um cartão com um número em série, assim como os números que estavam no diário dos seus pais, e uma carta.

Jackson me esticou um envelope e eu retirei o cartão e a carata em questão de dentro. A carta dizia "se quiser a verdade, precisa deixá-la ir ou as consequências serão drásticas. Você não quer perder mais uma, quer?".

Eu não pude acreditar no que eu estava vendo. A carta em questão vinha em um papel diagramado branco com letras e margem douradas, como um convite... Um convite de casamento. Eu sabia exatamente o que aquilo significava, mas eu precisava ouvi-lo dizer.

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