Capítulo 8

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CAPÍTULO 8

Eu não podia me dar ao luxo de pensar em tudo que estava acontecendo. Francamente eu pensei que a pior parte tinha passado. Afinal, o que pode ser pior que perder tudo o que tem?

Bem, se parar para pensar, tem muita coisa pior, como a possibilidade de ter sido estuprada!

Jackson me levou a sala de atendimento médico e explicou tudo a médica que estava de plantão. Ele me avisou que iria falar com o delegado sobre meu caso que me encontraria assim que a médica me liberasse. Ele falou mais alguma coisa sobre meu depoimento, mas tudo que eu ouvia agora eram ecos. Minha mente não parava e ao mesmo tempo não era capaz de processar as coisas mais simples.

-Melina? – ouvi meu nome abafado ao fundo - Melina? Senhorita Melina?

-Oi. – Despertei quando me dei conta de que era a médica que falava comigo. – Desculpa...

-Tudo bem, eu sei que é muita coisa para processar e você provavelmente está exausta. Meu nome é Dra. Katniss e eu vou fazer os seus exames, ok?

Eu concordei com a cabeça e ela pegou uma ficha e começou a preencher. Ela me explicou que primeiro começaria com o exame físico para ver se eu tinha alguma lesão. Depois ela faria a coleta de sangue e saliva para análise e por fim faria o exame íntimo. Ela me explicou com detalhes como o exame íntimo seria feito e deixou bem claro que nada seria feito sem meu consentimento e antes de cada etapa eu seria questionada se estava bem e se ela poderia prosseguir.

Não vou negar, foi mais difícil do que imaginei. Só a possibilidade de alguém ter violado meu corpo sem minha permissão já me deixava enjoada, tonta e sem forças. Meu corpo doía agora mais do que nunca e não era mais só fisicamente.

Ao final do exame físico ela me explicou que eu não tinha fraturas, mas que a lesão era bem séria e que eu precisava de repouso e medicamento para dor. Ela coletou cinco tubos de sangue e saliva antes de prosseguir para a última etapa.

Na mesa de materiais tinha uma prancheta com papeis de autorização e a descrição de cada procedimento que seria feito na coleta do exame íntimo.

Foi mais rápido do que eu imaginei, mas bem mais delicado e doloroso também.

Quando acabamos, a médica me informou que todo o material seria enviado para o laboratório e que ela pediria urgência nos resultados. Agradeci mentalmente e sai da sala.

Voltei para a sala de interrogatórios e me encontrei com Jackson. Contei a ele tudo que a médica tinha falado.

-Como você está? – ele perguntou.

-É para ser sincera? – uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu sequei rápido. Eu estava exausta. Fisicamente machucada, mentalmente esgotada e emocionalmente destruída. Eu precisava urgentemente de um tempo para mim. Um espaço que eu pudesse gritar e chorar por uma hora no mínimo sem ninguém para ver.

-Eu sinto muito! – Ele disse por fim.

Eu me sentei na cadeira e fitei o teto. Jackson pegou os papeis que estavam na mesa e me olhou. Eu pude sentir ele travar antes de me perguntar:

-No que seus pais trabalhavam mesmo?

-Não tenho ideia, – disse sincera – eu tinha nove anos quando eles morreram.

Contei a ele tudo desde o início, as viagens de aniversário, o acidente, os lares adotivos, a herança. Tudo, cada detalhe. Me perguntei por um breve instante em qual momento eu fiquei tão à vontade na presença dele a ponto de tocar nesse assunto com tantos detalhes, coisa que nunca tinha feito antes com absolutamente ninguém. Talvez por não ter tido a oportunidade, talvez por não confiar em ninguém para tal ou talvez por não ter coragem de reviver tudo aquilo.

-Onde o vestido estava? – Ele me jogava perguntas e eu as respondia sem pensar muito – Digo, antes de aparecer no seu flat?

-Na casa dos meus pais, fica em Ashford. – Ele checou o relógio em seu pulso e eu prossegui – Cerca de uma hora e meia daqui indo de carro.

-Nós precisaremos ir até a casa.

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