ESPECIAL DE NATAL

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Helena Hayes

― Dança, Leninha! ― Minha mãe dizia, com alegria, enquanto dançava ao som de Flor de Lis de Djavan.

Eu, sentada a mesa da cozinha, sorria enquanto via minha mãe. Não esperava duas vezes senão correr até ela e dançar, desengonçada.

Aquela era a melhor memória que eu tinha da minha infância. Em casa, sentindo o calor da Bahia, assistindo minha mainha preparar a ceia de Natal a tarde inteira. Às vezes meu pai aparecia por lá, brincava com a gente, mas seu trabalho principal era comprar a bebida para toda a família. Ainda tinha Bento, meu irmão mais velho, que na época só ficava pelas ruas, brincando com os amigos. E quando a noite chegava, era pura festa.

Sempre gostei de estar em família, dançar, cantar, aproveitar todos os momentos possíveis com aqueles que eu amava. Sair de casa jovem, casada, e ir direto para outro país que tinha costumes diferentes do meu, que não carregava o mesmo fervor, foi difícil.

Prometi a mim mesma que meus filhos teriam o fervor, que eles continuariam a tradição de sempre passar datas comemorativas em família, como sempre foi comigo. E elas fizeram. Alice e Camila cresceram, construíram suas famílias, me deram lindos netos, mas sempre voltavam para casa, para comemorar junto a mim e seu pai, como sempre quis que fosse.

Aquele Natal era o mais especial pois era a primeira vez que todos os meus netos passariam juntos. Avery tinha alguns meses apenas, minha neta mais nova, e finalmente comemoraria conosco. Ainda tinha Margie, que já era quase uma adolescente ― poucos beijos e abraços para a vovó, triste para mim ―, Phillip que era o garoto mais sapeca e Duncan e Ryder que eram inseparáveis.

Seria muito bom, foi a primeira coisa que pensei ao levantar da cama naquela manhã fria de 24 de dezembro. Enviei mensagem para as meninas, lembrando da hora, e então enviei um áudio para minha mãe, desejando feliz natal. Conto nos dedos as vezes que passei o natal junto com minha mãe desde que me mudei para cá. A saudade era a maior das desgraças.

O que me confortavam eram suas mensagens.

"Oi, Leninha. Tá tudo bem por aqui, meu amor. Mainha já tá preparando a ceia, teu irmão vem pra cá mais tarde com a mulher e os meninos. Queria que você estivesse aqui com as meninas, com Robert. Eu prometo que em breve vamos todos estar juntos. Te amo muito, minha filha. Feliz natal."

Fechei os olhos com força e senti uma lágrima escorrer por minha bochecha quando o áudio terminou. Eu já tinha mais de cinquenta anos, mas sempre precisaria da minha mãe e do seu amor. Sempre.

Suspirei quando senti os braços de meu marido rodearem minha cintura e sua cabeça descansar em meu ombro.

― Chorando a essa hora, querida?

Acariciei seu braço e deixei o celular em cima da bancada da cozinha.

― Minha mãe mandou mensagem. Sinto saudade.

Eu falava na minha língua natural e ele na dele, e nos compreendíamos perfeitamente – e éramos fluentes em ambas. Era assim a nossa comunicação desde o nascimento das nossas filhas e agora fazíamos o mesmo pelos nossos netos, para que eles sempre lembrassem da minha cultura, que também era deles.

― Natal não é o mesmo se todo mundo que você ama não estiver, certo?

Neguei com a cabeça e enxuguei o rosto.

― Fui criada assim, você sabe. Sei que devemos nos amar diariamente, mas é em dias como esse que nosso amor pela família reascende e fica mais forte, como meu pai dizia.

Ele me virou para si e analisou cada feição minha. Nunca tive vergonha disso, mas de uns tempos pra cá isso havia mudado.

― Vamos combinar para passarmos o próximo natal no Brasil ou então trazemos sua mãe para cá, ok?

Lições de Uma Boa Garota | Livro 3 - Trilogia "Garotas Más"Onde histórias criam vida. Descubra agora