Capítulo 100

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Megan

Quando abri os olhos naquela manhã, não sentia nada, o meu corpo, a minha mente, nada.

Era uma sensação familiar para mim, intrínseca no que sobrou da minha alma.

No fundo, desejei não senti-la, implorei que a dor não fosse sentida, mas foi em vão. Dessa vez foi mais intensa, brutal, como punição para cada estocada que Ron desferiu. Eu gemi, mas não foi de prazer, eu gritei, mas não foi de gozo e eu desmaiei de exaustão.

Não sei por que nutri o sentimento de que as coisas poderiam diferir agora. Que o universo giraria ao meu favor e que só esperasse pelo meu desejo para atendê-la.

Esqueci que a esperança poderia ser uma cadela traiçoeira.

É como se ela fosse um filhote abandonado no meio da estrada e você o adota porque é lindo e fofo. Você o leva para casa e lhe dá o nome de Expectativa. Você o alimenta com desejos e ilusões e ele cresce e não para de crescer até você descobrir que ele não era uma esperança e sim, uma decepção, quando descobre, é tarde demais, ele te devora.

Me sinto na boca do seu estômago, deglutida lentamente.

Alimenta expectativas de que tudo seria diferente com Ron, foi um erro e eu estava decepcionada, não com ele, mas comigo.

Eu conseguia ouvir o ronco leve do Ron, o farfalhar dos galhos de alguma árvore por perto. Eu não sabia que horas eram, provavelmente o começo da manhã.

Ronmand se mexe virando para o lado em direção a parede e logo volta a dormir.

Solto o ar que prendi por esse breve instante.

Eu queria sair correndo para bem longe dali, mas o meu corpo estava cobrando o seu preço. O que me restou foi me ergue lentamente, sentindo os meus membros pesados e o sentimento de que uma bigorna estava sobre meus ombros.

Minhas roupas estavam disciplinadamente jogadas pelo chão, emboladas juntos as roupas do homem sobre a cama. Arrasto os meus pés até pegar peça por peça e vesti-las. Por último, avisto a minha jaqueta, um pouco mais distante do amontoado, o meu celular estava parcialmente fora do bolso. Na tela conseguia visualizar várias mensagens que James, provavelmente o garoto as mandou enquanto Ron fodia o meu corpo e Mark a minha alma.

Ponho o aparelho de volta ao bolso ignorando as mensagens. Eu não estava com ânimo para lê-las. Em outro momento eu não hesitaria em abrir o aplicativo, sedenta por informações que meu sobrinho tenha descoberto, mas agora, isso é o que menos importa.

Visto-me e dou uma última olhada para o corpo nu de Ronmand.

Um pensamento passa pela minha cabeça. Será que se tivesse o conhecido antes, eu teria me apaixonado, o amado?

Não.

Ele é um homem bom, bom demais para mim. Nunca daríamos certo, algo no meu subconsciente gritava que sonhos e desejos estavam longe da minha realidade.

A felicidade não está em meu destino.

Morri quando meu companheiro se foi e estou condenada a vagar por essa terra como uma morta viva ou, pior, uma marionete, sendo manipulada, usada para um objetivo desconhecido. Nada mais que um pião que não pode pular uma casa a mais em seu tabuleiro. Só há uma pessoa com esse poder sobre mim, a única que puxa as cordas, que move as peças.

Ah... como dói.

Dói.

Dói.

Um suspiro doloroso sai da minha boca, e acho que meus pés fraquejaram por um instante.

Alfas em GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora