Capítulo 54

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Skyler

Conviver com Kalel esses dias, está se revelando melhor do que imaginei, com exceção de momentos constrangedores em que ele fala sobre mim para o bebê — ou o que eu era antes de perder a memória. — antes daquela feiticeira aparecer.

Ainda não sei quando ou como vou recuperar minha memória.

Perdi as contas de quantos livros eu li sobre o assunto, mas não encontrei nada que poderia me ajudar. Nada que poderia me explicar como voltar a sentir um sentimento pela qual não faço ideia de como era. Tem momentos que sinto que estou no corpo errado, vivendo a vida de outro alguém, outro eu que viveu e experimentou a mais do que poderia imaginar.

Sobre o confronto das nossas famílias, Kal não fazia a menor ideia se o plano de evitar a guerra tinha dado totalmente certo. Ele afirmou que se algo tivesse dado errado na tal reunião e que a alcateia do sul precisasse de sua ajuda, sua família saberia onde nos achar, e o fato de ainda não termos recebido sua visita comprovava que conseguimos.

No momento, estávamos convivendo pacificamente, sem o peso de um conflito grandioso em nossas costas, nas costas dessa criança não nascida. Mas de alguma maneira, sinto algo estranho se agitar dentro de mim, não algo bom, não, mas um pressentimento de que essa calmaria precede...

— Você está muito pensativa hoje. — Kalel senta ao meu lado nos pequenos nos degraus da varanda olhando para o límpido rio. Resisto a vontade de relembrar como era calor dos seus lábios em minha mão.

— Isso é ruim? — pergunto olhando para ele que sorriu em resposta o que provoca uma leve ruguinha nos cantos dos seus olhos. Tento resistir a vontade de relembrar como era calor dos seus lábios em minha mão. Ele era lindo, graças aos deuses eu poderia pensar livremente agora que aprendi a levantar meu escudo mental, cansei de me repreendeu por achá-lo atraente. Ainda mais convivendo com ele 24 horas por dia, ouvindo ele contar da nossa curta história, a sua infância e os anos que passou convivendo com os humanos.

Descobrir algo sobre ele, os seus gostos e desgostos, fez nossa amizade se torna mais íntima do que o bebê em meu ventre ou aquele beijo no casebre. Agora eu sei porque cheguei até aqui, porque eu tenho nossa marca de reivindicação em meu braço.

— Não, de maneira nenhuma isso é ruim. Só incomum, você não está grudada com um livro de feitiços ou procurando outros no armário mágico. — ele dá de ombro.

— Eu estou cansada de rodar, rodar e sempre parar no mesmo lugar, que é nada. É isso que estou encontrando nas minhas pesquisas, nada.

— Você não deveria estar se preocupando com isso.

— E se eu nunca recuperar minha memória? Você vai conviver com isso? Sabendo que a mãe do seu filho não sente o mesmo que você? — Kalel recuar com as minhas palavras inesperadas. Engole em seco.

— Para ser sincero, não parei pra pensar sobre isso de maneira tão crua. — ri sem humor. Me pergunto por onde seus pensamentos foram com o meu questionamento.

— Eu falei no sentido de não sentir o fio que nos liga.

— Ah! — ele solta um pequeno suspiro de alívio. Pelos deuses, ele não pensou que eu estivesse falando...

Kalel

Eu estou parecendo a porra de adolescente virjão perto dela. Por um momento pensei que ela se referia aos seus sentimentos ou a falta deles por mim. Eu reparava que ela olhava para mim com outros olhos, curiosidade, desejo. Sabia que seus sorrisos relaxados eram por minha causa, por isso perdi um pouco do ar quando ela disse que não sentia o mesmo que eu. Não percebi que se referia ao fio que nos liga e não o que sente por mim.

Alfas em GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora