Capítulo 93

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Kalel

— A alfa Cristine está sendo um problema para nós. — murmura Felippe sentado em frente a mesa do meu escritório, ele estava visivelmente cansado, era de se esperar, esses últimos dias estavam exigindo muito dele, de nós, de todos. A alcateia passava por momentos de tensão e medo de uma nova invasão, talvez pior, por isso não deveria ser fácil para ele manter a matilha sob controle, e agora, corremos o risco de outras alcateias sofrerem com a insegurança.

Só existia eu, Sky e ele no comando de tudo. O beta David partiu sem muitas explicações quando meu pai morreu, Matt já tinha deixado explícito que não assumiria o papel de beta muito antes de ser preso. No final de tudo, sobrará eu e minha companheira para comandar isso tudo, a não ser que aceite a ideia de Skyler de nomear um novo beta.

— Ela só está tentando evitar o inevitável. O seu marido foi mordido e não existe outra forma de mudar isso. — digo massageando a têmpora sentindo, a agora, habitual pontada insistente em minha cabeça.

— Eu entendo que ela não esteja preparada para ver um dos membros mais importantes da sua família ser julgado à morte, mas estamos correndo contra o tempo para que uma revolta entre outras alcateias não aconteça devido a ausência dos alfas. Há rumores de que estão organizando um motim caso os seus líderes não retornem para suas alcateias em uma semana.

— É, Wolney me contou, ele conseguiu enviar uma mensagem tranquilizando o seu povo, atitude essa que os outros alfas se recusaram a fazer. Eles sabem que uma pressão nesse momento faria qualquer líder receptivo às suas vontades, o que não vai acontecer comigo. — digo entre dentes.

— Então, o que você planeja para fazê-los aceitar se reunir conosco.

— Mentir. — solto.

— O quê?

— Pedirei que lhes envie cartas não muito claras, mas que os fará acreditar que estou favorável a qualquer decisão que eles tomarem.

— Mas eles não vão gostar... —

— Eu lidarei com isso, não vou permitir que me tratem como se eu fosse uma criança inexperiente, querendo ou não, eles vão conhecer quem é o verdadeiro alfa do Sul.


Megan

Eu nunca ouvi o meu sobrenome soar tão hostil nos lábios de outra pessoa.

O que quer que a minha família fez a esse homem não foi nada amistoso. Se eu estava com medo? Morrendo a cada segundo em que encarava o feiticeiro, bruxo, não sabia como definir aquele velho.

— O que faz em minhas terras? — pergunta, a voz sempre ácida. Não deixo de notar que ignorava o homem ferido ao meu lado como se não existisse.

— Preciso de sua ajuda. — respondo. A sua gargalhada não me surpreendeu, imaginei que ele acharia ridículo o fato de alguém como eu pedir a sua ajuda.

— Você acha que acredito que está em meu território com boas intenções?

— Bem, no fundo, no fundo, não há uma boa intenção com minhas reais motivações — decido ser sincera. Ron solta alguns xingamentos por minha ousadia.

— Eu não trabalho com magia obscura.

— Eu não estou à procura disso, eu só queria a sua ajuda sobre... — paro evitando olhar para Ronmand a qual eu sabia que me fitava.

Droga, não queria que ele ouvisse os meus planos, já bastava James, e Ron, eu não queria arriscar descobrir de quem ele daria sua lealdade a mim, meu pai ou a si mesmo? Foda-se, eu não cheguei até aqui para desistir agora, lidarei com isso depois.

— ... Sobre uma investigação que dependendo do resultado, pode derrubar Olaf Highnorth, o meu pai. — eu não fazia ideia de como isso daria certo, como as provas que eu tinha poderia de alguma forma prejudicar o alfa do Norte, mas esse era o único argumento que sabia que prenderia a atenção do velho. Novamente ignorei o olhar de Ron.

— Você está tentando me enganar, garota? A floresta está encantada, se o seu pai estiver nos cercando terá uma surpresinha nada agradável. — ele sorriu mostrando os seus dentes amarelados e desgastados. Nenhum pouco nervoso com a hipótese de uma emboscada.

— Não há ninguém lhe cercando, eu a trouxe aqui porque confio nela. — Ron finalmente se manifesta. Estava de joelhos, as suas costas sangravam, mas felizmente a flecha não atingiu nada em lhes estabilizasse, ele ainda poderia correr e se salvar se tudo desse errado. O velho tira o capuz revelando um rosto enrugado e íris da cor preta, os cabelos brancos caíam soltos na altura do queixo.

— A floresta não tirou o seu sangue. — disse pensativo, como se esse fato explicasse alguma coisa. Suas palavras só reforçaram a minha suspeita de que o pequeno acidente que tive no começo da colina foi proposital. — Você já esteve aqui — continuou. — Então és um traidor. — rosna.

— Não há traidores aqui. — chamo sua atenção ignorando a pontada de dor em minha coxa pelo pequeno movimento que fiz. Se eu fosse apostar, pela ausência de dor intensa a ponta da flecha não era feita de prata, mas estamos falando de um feiticeiro, tudo era possível.

— Eu posso ser filha Olaf, ter o sangue Highnorth, mas não significa que eu esteja do seu lado, assim como você, eu tenho contas a cobrar a ele. — O homem me encara por um longo tempo, tempo suficiente para me sentir desconfortável com o seu silêncio.

— Você mente? — pergunta inclinando a cabeça.

— Não. — respondo.

— Prove. — instiga. — A flecha em sua coxa contém um veneno preso a ponta, se você estiver mentindo a toxina lhe matará em poucos segundos quando a retirar, agora, se tudo o que disse for verdade posso pensar em ouvi-la.

— Megan, não retire! — Ron protesta, no mesmo instante o velho faz um gesto brusco com a mão e um dardo se projeta no pescoço do Ronmand, ele não tem muito tempo para reagir antes de cair desacordado no chão.

— O que voc...

— É um tranquilizante, ele logo acordará, você verá... — fez um gesto de desdém. — ... Se estiver viva, é claro. — ignorando o sarcasmo em sua voz, eu fito o cabo cravado em meus músculos. Ok, eu não tinha o que temer, certo?! Eu estava falando a verdade, tudo vai dar certo se ele estiver sendo sincero com suas palavras. Eu só tenho essa chance para conseguir o que queria.

— Tudo bem. — minha voz saiu sussurrada, mas pelo sorriso em seu rosto pude ter certeza que ele ouviu.

Eu não tinha muito a perder se morresse agora, mas ainda não seria um fim grandioso.

Não penso muito quando retiro a flecha de mim, doeu como uma cadela, mas não lhe dei o prazer de soltar nenhum som. Assim como imaginei a ponta ficou dentro de mim, a minha pele se regenera e esperei pela sentença do feiticeiro. Quando voltei a lhes encarar, o capuz tinha retornado a lhes cobrir. Logo senti o meu corpo gelar e meu sangue parou de correr em minhas veias. Eu abri a boca para gritar, a dor era insuportável, mas nada acontecia. O desespero me tomou e tudo o que passava pela minha cabeça era que o meu fim tinha chegado, que fui enganada da maneira mais patética que poderia imaginar. Ouvir os seus passos vindo em minha direção, tão leves como se flutuasse sobre o chão.

— Inacreditável. — ele riu. Foi a última coisa que vi antes de cair sobre a neve. Esse não foi um grande dia, não poderia ser o meu fim, não agora.

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Até a próxima... bjs.

Alfas em GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora