Eu acordei atordoado, meu corpo estava dolorido e o frio da noite me fazia tremer mesmo com a jaqueta. Foi só então que me dei conta do que tinha acontecido, adormeci ali, em cima da grama ao lado da lapide de Isabella.
Me ergui sentindo os músculos reclamarem, eu não bebi, ainda estava mantendo a promessa que tinha feito a Isabella anos depois de sua morte.
Eu sei que poderia parecer patético, mas não tive outra alternativa depois de todo o estrago que causei, se ao menos tivesse destruindo apenas minha vida, não teria problema em continuar, mas feri pessoas próximas a mim.
— Tudo bem ai filho? — a voz grave e calma me fez girar nos calcanhares em alerta.
Moisés, um dos coveiros que costumavam fazer o turno da noite. O homem branco e de cabelos grisalhos andava quase curvado, um problema nas costas, ele já tinha me contado sua história. Mesmo que a vida não fosse gentil com ele, Moisés escolheu tratar as pessoas com gentileza, tinha perdido a conta de quantas vezes ele tinha me erguido do chão, me ajudado a chegar em casa, até mesmo me dar banho o senhorzinho já fez.
— Tudo sim. Acho que peguei no sono.
— Sim, sim. Fred me contou isso quando cheguei, achávamos que você tivesse voltado a beber. Mas pelo seu cheiro estou vendo que não é nada disso.
Cocei a cabeça e senti algumas gramas grudadas nos fios longos.
— Não, dessa vez foi só a tristeza. — resmunguei sentindo um pouco de vergonha por ter caído no sono após chorar.
Agora que o efeito choque da ligação havia passado, eu estava finalmente raciocinando e revendo a forma que agi.
— Ela vai ficar menor com o passar dos anos, sei que já te disse isso outras vezes, mas é a verdade filho. Vai ver que quando se abrir para a vida , quando deixar as pessoas entrarem em seu coração, você vai começar a esquecer.
Deixas as pessoas entrarem no meu coração... aquilo estava fora de cogitação.
— Eu sou uma bomba relógio, destruo tudo o que está a minha volta, é apenas uma questão de tempo. — sacudi minha roupa e comecei a andar em direção a saída, precisava voltar pra casa.
— Não, não pense assim. Você é uma boa pessoa Jack, eu vejo isso em você. Só precisa de ajuda. — nem ao menos me dei ao trabalho de escutá-lo, Moisés já tinha dito isso para mim várias vezes.
Mesmo que usasse outras palavras isso não mudava o fato de que eu ainda era a mesma pessoa. Uma esposa morta, em luto eterno, não podia arrastar ninguém para o meu pesadelo.
— Eu só preciso de um pouco de paz, isso é tudo o que eu preciso.
— E quem tirou a sua paz?
Tossi, como um pigarro, não queria falar daquilo com ninguém, podia já ter contado sobre a família de Isabella a ele quando estava bêbado, mas sóbrio a conversa não ia acontecer.
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Segunda Chance - Concluído
RomanceAlicia sempre teve que lutar muito por tudo o que quis na vida, começando com seus estudos e um lugar de destaque no trabalho. Na vida amorosa não era diferente, depois de um divórcio conturbado com um marido abusivo, ela finalmente achou que tinha...