Capítulo 55

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Desci para tomar café, já sentindo o cheiro tentador de lá de cima. Já que estávamos apenas Sean e eu em casa, era óbvio que o grandão estava cozinhando.

— Você está fazendo seus sobrinhos se revirarem com fome. — falei entrando na cozinha e avistando Sean usando uma espátula para revirar os ovos na frigideira.

A cafeteira tinha acabado de fazer o café e ele tirou um bolo do forno. Me perguntei quando ele tinha tido tempo de fazer aquilo.

— Essa é a intenção! — ele se aproximou da minha barriga e apoiou a mão esperando sentir algo. — Eles vão sair dessa barriguinha já amando o tio Sean, não é meninos?

— Não sabemos ainda o sexo dos bebês. Jack afirma com toda certeza que é um casal.

— Hummm, não sei. Jack não é bom em apostas, eu acho que são dois meninos.

Sorri indo até a mesa e comecei a atacar a comida, sendo acompanhada por ele.

— Ótimo, façam um bolão e o dinheiro que fizerem é dos bebês.

— Vai ver que eu estou certo, logo teremos dois meninos abrindo o berreiro por aqui. — ele falou com convicção.

— Jack me pediu em casamento. — soltei querendo ver sua reação, se Jack tivesse dito algo a ele eu veria em sua expressão.

Mas tudo o que Sean demostrou foi choque, as sobrancelhas erguidas, os olhos esbugalhados e o queixo caído.

— Ele te pediu? Quando?

— Ele não pediu, pediu. Não fez o pedido oficial ainda — eu estava sendo confusa. — Acordei com um bilhete dele dizendo que tinha um presente pra mim na janela e quando olhei lá estava a caixinha com o anel.

Estendi minha mão para que ele visse o anel prata, com uma pedra enorme, rodeado de outras menores.

— Aquele filho da puta não me falou nada. — Sean segurou minha mão, olhando de perto o anel antes de dar batidinhas leves. — Estou feliz por vocês, espero muito que sejam felizes pro resto da vida. Porque vai por mim, vocês dois merecem! Já tiveram uma parcela grande de merda na vida.

— Está na hora de ser feliz. — coloquei minha outra mão sobre a dele e de um aperto de leve. — Todos merecemos ser felizes, assim como você também merece! — Sean forçou um sorriso amarelo. — Como está a Diana?

Bastou ouvir o nome que ele tratou de soltar minha mão e se afastar.

— Nem começa, Alicia...

— O que? Você gosta dela, está claro como a luz do dia e ela quer algo com você, mesmo que eu não tenha certeza do que. — insisti. — Não entendo porque não tentar?

— Acho que o fato de eu ganhar a vida vendendo o corpo, seja mais que suficiente para não tentar! — ele falou dando de ombros.

— Você não precisa disso, pode trabalhar de qualquer outra coisa se quiser.

Sean tinha me contado sobre a história deles, sobre como tudo começou com uma grande confusão, mas não importa como as coisas começaram e sim se ele queria fazer dar certo.

— Vamos esquecer esse assunto, ok? Jack me mataria se algo acontecesse entre nós e ela me vê apenas como um amigo, com um trabalho inusitado.

A campainha tocou interrompendo minha fala.

— Eu não esqueci! Vamos falar disso de novo. — gritei enquanto ele se afastava indo conferir quem era e ataquei mais uma vez o bolo.

Sean era um cozinheiro de mão cheia e eu repetia que era um motoqueiro com coração enorme e que merecia ser feliz.

— É minha filha e eu quero vê-la! — ouvi o grito da minha mãe mesmo de longe e suspirei.

Pelo tom de voz as coisas não estavam nada bem pro lado dela. Mas eu estava feliz que ela tivesse voltado mesmo depois de tudo o que aconteceu. Ser enfrentada por mim e apanhar de Júlia poderia ter sido fatal para o ego dela, mas pelo visto ela tinha voltado.

— Sean, está tudo bem, pode deixar ela entrar. — ela não esperou que o grandão se afastasse, já foi empurrando ele e vindo até a mim. — Oi mãe, que bom que voltou.

— Aí querida, sabe eu pensei melhor e vi a besteira que estava fazendo. — ela apoiou as duas mãos em meus ombros quando me alcançou. — Você é a única família que me resta e eu a sua, não podemos ficar longe uma da outra.

Aquilo era novidade pra mim, ela nunca demonstrou se importar com alguém alem de si mesma.

— Vem, vamos conversar ali na varanda.

— Lá fora não, gorduchinha. Está muito quente, vamos conversar aqui dentro mesmo.

Ignorei o apelido que ela usou e segui para a sala, sendo seguida pelos saltos batendo no piso de madeira.

— Não sabia que estava por aqui por perto ainda, se passaram tantos dias.

— Estava pensando na vida e em tudo de errado que fiz com você. — ela se sentou na poltrona de Jack, ao invés do sofá ao meu lado, e tentou alcançar minha mão. — Sabe, eu errei muito com você ao longo desses anos, fui uma péssima mãe e você Não merecia isso.

Aquilo era inesperado, desde que me conhecia por gente minha mãe nunca tinha sido capaz de pedir desculpas ou de reconhecer um erro.

Meu pensamento foi rápido em juntar as peças ali, ela nunca gostou de mim dessa forma, nunca falou comigo tão amigável assim, nem mesmo quando precisava de algo.
E depois do que aconteceu aqui no outro dia, era impossível que ela viesse tão mansa e amável.

— Você contou ao Paulo que eu estava aqui? — as palavras deixaram minha boca antes que eu me desse conta.

— O que?

— Foi você, não foi? Você foi até ele e contou que eu estava morando aqui apenas para me atingir! — me ergui rápido me afastando dela e algo caiu na cozinha. — Sean? Sean? — corri quando tive resposta e o encontrei caído no chão com a cabeça sangrando. — Sean!

Tentei correr até ele, mas um braço me segurou por trás e rapidamente uma faca foi colocada em meu pescoço.
Pelo força do braço em volta de mim eu soube que não era minha mãe.

— Paulo! Seu desgraçado nojento! — gritei e mesmo querendo me debater eu me controlei, não era apenas minha vida que estava em risco ali.

— Oi docinho, sentiu minha falta? — ele beijou minha nuca, me causando um arrepio de nojo e meu estômago se revirou em repulsa. — Vou ter que te ensinar a ser uma boa garota de novo, não é mesmo? Parece que esqueceu o beijo do seu marido.

— Você não é meu marido, seu porco! — falei e ele intensificou o aperto em minha barriga.

— Agora não é a hora e nem o lugar pra isso, temos que ir antes que o outro venha ou algum vizinho veja. — minha mãe falou e eu quase quis chorar por ter sido estúpida e deixado ela entrar ali.

— Como você pode estar fazendo isso? Você odiava Paulo quando estavamos juntos e agora se aliou a ele?

— Digamos que temos interesses em comum agora. — ela sorriu de forma diabólica para ele e se aproximou deixando que ele a beijasse.

A bile subiu por meu estômago queimando tudo e eu me curvei para vomitar. Mas Paulo me puxou com força, apertando a faca contra minha pele e arrancando um filete de sangue.

— Sugiro que você pare de se mexer e não invente de vomitar em mim de novo, porra! Ou vou cortar você, em uma parte inofensiva ou nem tanto.

Eu não podia acreditar naquilo, não podia acreditar naqueles dois escrotos.
Minha mãe foi na frente abrindo a porta e se certificando que ninguém os veria, antes que ele me empurrasse para o carro.

Como tinham ficado na minha vida por tanto tempo sem que eu os conhecesse de verdade?

Segunda Chance - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora