Capítulo 46

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Acordei sentindo como se meu corpo pesasse uma tonelada, meus olhos estavam pesados, as pálpebras pareciam grudadas. Era por isso que eu odiava tomar aquela droga de remédio, me sentia destruído no dia seguinte.

Porra! As lembranças do dia anterior enchem minha mente naquele instante e eu me arrependi de estar ali. Deveria ter ido embora, fugido para qualquer lugar, quando Sean conseguiu com que Alicia saísse daqui.

Precisei fazer um esforço descomunal para me sentar na cama, mas agora todo meu corpo pesado, provavelmente por ter dormido de mais, nem era minha maior preocupação e sim as perguntas que eu teria de responder.

Estava remoendo como faria para continuar mantendo Isabella em segredo, quando o som de risadas me alcançou. Não era algo longe, na rua ou em outra casa por perto, vinha do andar de baixo.

Me levantei curioso com a euforia das gargalhadas, não esperei por mais e sai para o corredor.

Eu conhecia aquele som, era Alicia rindo em completa felicidade e tranquilidade. Mas quem poderia estar lá com ela? Júlia talvez?

Andei mais rápido, porém bastou alcançar as escadas para que estancasse me lembrando da cena ontem. Ver Isabella caída no chão e coberta de sangue era algo que eu tinha me acostumado ao longo dos anos, reviver aquele momento horrível da minha vida. Mas não estava preparado para ver a mesma imagem, só que agora com Alicia no lugar dela.

Meu cérebro se recusou a processar ela parada me esperando, ele criou uma cena onde ela não parava a tempo, rolava pelos degraus e parava ao pé da escada, com a cabeça rachada e sangrando o chão todo.

— Você é maluco! — ouvi o grito dela e tratei de sacudir a cabeça, espantando aqueles pensamentos.

Sean estava certo, ela estava viva e bem, e com toda certeza preocupada comigo.

Corri os últimos degraus e virei em direção a cozinha. O som foi ficando ainda mais alto, então eu parei na soleira da porta.

— Anda baby, se mexe! — Sean girava pela cozinha, com um avental preso no peito nu, acompanhado de uma calça jeans surrada e os pés descalços.

Ele estava dançando algo parecido com lambada e tentava fazer Alicia acompanhar seus passos.

— Sean! — ela gritou, mais entusiasmada do que querendo que ele parasse. — Você vai queimar as panquecas!

Fiquei ali observando a entrosação daqueles dois, leve, divertida. Aquilo era o que Alicia merecia, manhãs como aquela, se divertindo em volta do fogão, cantando e dançando.

Não um homem fodido, com a cabeça perturbada pelo fantasma da ex mulher.

— Jack! Finalmente você acordou. — ela exclamou quando em um rodopio me flagrou parado ali.

Alicia se desvencilhou dele e jogou os braços em volta do meu pescoço, abracei seu corpo macio, apertando-o junto ao meu. Merda, o medo de perdê-la me varria só de lembrar a cena criada em minha mente.

— A quanto tempo está aqui? — Sean perguntou se concentrando no fogão

— Tempo suficiente pra observar sua saliência com a minha mulher. Eu passo mal e você já está querendo roubá-la de mim?

— Nunca se sabe irmão, você tem uma mulher de ouro nas mãos, se bobear não vou hesitar em fazer dela senhora Smith! — olhei bem nos olhos do safado e ele me deu uma piscadela, antes de deslizar as panquecas em um prato e colocar no balcão.

Alicia se afastou me olha só de cima a baixo, conferindo meu corpo antes de me puxar para uma das cadeiras.

— Vamos tomar café, você dormiu ontem o dia todo, deve estar morrendo de fome!

Eu não ia negar, o cheio das panquecas estava me matando.

— Quando terminar estava pensando em nós dois darmos uma volta na cidade, preciso de ajuda com um negócio no apartamento e você de um pouco de ar fresco.

Eu queria dizer que sim! Por Deus, sim! Era tudo o que eu precisava ficar longe de Alicia e torcer para que o assunto da escada estivesse esquecido quando eu voltasse. Mas me contive, não queria parecer muito entusiasmado.

— Eu preciso ajudar Alicia com uma publi que ela tem que...

— Não precisa, Sean já me ajudou a gravar ontem. Pode ir, hoje vou provar algumas e tirar fotos, podem ter o dia de homem de vocês.

Atacamos as panquecas de Sean e eu não poderia dizer o quanto estava grato por não ter que explicar tudo a ela.

Mas quando saímos de casa algumas horas depois, o convite de Sean fez sentido, um sentido bem ruim.

Nem ao menos tínhamos chegado em seu apartamento, ele parou algumas quadras a frente de casa e abriu a boca.

— Você tem que contar a ela, Jack. Quanto tempo mais acha que vai esconder isso? Alicia já foi até a casa do pai de Isabella é só questão de tempo até que a verdade caia em seu colo.

Merda! Sabia que ele tinha razão, ao mesmo passo eu só queria esquecer qualquer coisa sobre meu primeiro casamento, assim nada iria interferir na minha relação com Alicia.

— Sei que preciso contar, mas ao mesmo tempo algo me impede, não sei se é apego a Isabella, ou por medo que Alicia possa me deixar se souber...

— Cara ela nunca vai te deixar por conta disso! — ele bradou parecendo mais irritado que o normal. — Mas o segredo, essa coisa grande crescendo entre vocês, isso sim pode destruir tudo.

— O que ela perguntou ontem?

— O que você acha? Ela quis saber se eu tinha ideia do que poderia ter te deixado naquele estado. — ele inspirou e quando soltou o ar deixou os ombros caírem juntos. — Cara, você vai acabar perdendo a melhor coisa que te aconteceu em anos.

— Eu não quero perdê-la! Queria poder esquecer tudo o que vivi, apenas para não haver nada para esconder dela.

Bati a cabeça no porta luvas, me sentia um completo idiota, de mãos atadas quando a coisa que precisava ser feita era simples.

— Jack... você escutou o que disse? É a primeira vez que eu ouço você dizer que prefere esquecer o que viveu com Isabella. Nem mesmo quando estava se afogando em dor e desespero te ouvi dizer algo assim.

Foi aí que me dei conta do quão especial Alicia era para mim, eu não ia estar escolhendo ela ao invés de Isabella se contasse toda a verdade, se abrisse meu coração e deixasse ela entrar.

Essa escolha nem ao menos existia, já tinha sido feito por meu coração, minha mente e meu corpo. Escolhi Alicia!

Ela era quem eu queria pra minha vida e por mais especial que possa ter sido meu casamento com Isabella, tinha acabado e não havia nada que eu pudesse fazer para concertar. Mas eu podia concertar com Alicia, podia fortificar nossa relação lhe contando toda a verdade, enterrando meu passado e me abrindo cem por cento para o meu futuro.

— Me leva pra casa agora! Preciso falar com ela!

Sean não pensou duas vezes, ligou o carro e voltou em disparada pela rua. Nem esperei ele estacionar o carro, corri para fora, afobado e querendo por um ponto final a todos os segredos.

Abri a porta da sala chamando seu nome, mas eu sabia que estaria tirando fotos no nosso quarto. Subi os degraus de dois em dois e paralisei.

— Jack, eu posso explicar! — Alicia falando saindo de dentro do quarto intocado.

O lugar onde eu guardava minhas memórias e que tinha dito que estava cheio de bagunça.

Bastou olhar em seus olhos culpados para saber que ela não estava prestes a entrar, mas sim saindo. Provavelmente me ouviu chamar seu nome e tentou correr para fora a tempo, mas foi pega.

— Porra... — ouvi o sussurro de Sean atrás de mim. — Acho que vocês dois tem muito o que conversar.

Segunda Chance - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora