Capítulo 27

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Eu estava com as mãos apoiadas no fundo da banheira, meus joelhos enfiados entre as pernas de Jack e me aproximava dele bem devagar. Sabia que devia esperar ele se recuperar, esperar ganhar sua confiança até que ele se abrisse falando de sua ex mulher, mas o tesão que ele me fazia sentir era de mais para me segurar, nem mesmo doente o homem parava.

Mas o toque da campainha soou alto me parando, Jack abriu a porta enquanto eu ria da ironia, porem o som voltou a tocar ecoando na casa dessa vez acompanhada de batidas fortes. Quem quer que fosse tinha pressa e não parecia disposto a desistir.

— Jack! Abra a porta eu sei que você está ai! — a voz masculina fez o corpo de Jack congelar a minha frente.

— Vou abrir atender e já voltou para tirar você da água. — falei já saindo da banheira.

O olhar dele se perdia, como se estivesse voltando no passado e depois de saber que ele escondia seu passado, eu não duvidava que aquele homem lá em baixo tinha participação com seu passado.

Me enrolei na toalha encarando Jack, ainda estático na banheira, parecia até que ele não respirava de tão tenso, meu coração se apertou no peito com a mera ideia que ele estivesse novamente remoendo o passado.

Em uma questão de quinze minutos ele tinha se perdido daquele jeito duas vezes, provavelmente com Isabella habitando seus pensamentos.

— Ignore ele. — sua voz me alcançou assim que pisei fora do banheiro. — Ignore que ele vai embora.

Eu quis discutir e dizer que era melhor que eu descesse e dissesse que ele não estava, mas me limitei a ficar calada.

Fui até o closet em busca de uma blusa e calça que pudesse colocar, minha roupa tinha sido arruinada estava completamente encharcada, e como não tinha clima mais para nada, o melhor era me vestir.

As batidas e gritos não paravam, mas me forcei a ignorar apanhando uma blusa larga e uma calça de moletom, me vesti rápido já voltando para o banheiro. A água estava gelada e Jack precisava se secar e voltar para a cama.

Tinha ajudado ele a se sentar na cama e estava ajudando-o a se secar, quando notamos que a campainha assim como os gritos haviam cessado.

— É parece que você estava certo afinal. — falei tentando puxar assunto, mas escutamos a porta sendo aberta no andar de baixo.

— Filho da puta! — Jack rosnou se mexendo querendo voltar para a cadeira, mas parei seus movimentos.

— O que pensa que vai fazer? Vai brigar com alguém que invadiu sua casa, se já está mais quebrado do que tudo? Ou está querendo voltar para o hospital se costurar de novo?

Ele bufou e se rende ficando quieto na cama, peguei o vaso que tinha ao lado de sua cama e fui saindo do quarto.

— Alicia! Volte aqui o que pensa que vai fazer? — seus gritos ficaram longe conforme eu marchava em direção as escadas.

Enfiei a mão no bolso da calça tirando meu celular, quem tinha invadido iria levar uma pancada na cabeça e esperaria a policia aqui.

— Jack seu desgraçado! — o homem vinha da cozinha, pisando duro, mas estancou quando me viu parada no meio da escada, com o vaso em uma mão e o celular na outra.

— Acho que você está invadindo. É bom que saia antes que eu chame a polícia. — falei firme, mas estava tremendo, assim como meu coração explodindo no peito com medo de que ele fizesse algum mal a mim ou até para Jack.

O senhor era alto, cabelos brancos e muitas rugas no rosto, estava vestido todo social, quase como se tivesse vindo do trabalho e não a uma visita casual.

— Mais uma na lista daquele infeliz. — rosnou abanando a mão com desdém. — Moça saia do meio, tenho coisas a resolver e não é com você!

— Sinto muito te decepcionar, mas não vou a lugar nenhum. — apertei o botão na tela. — O único que vai sair é você, estou lingando pra polícia!

— Eu tenho direito de estar aqui, essa casa também é da minha filha, assim como aquela cama em que vocês estavam transando!

Aquilo me irritou, porque eu realmente queria estar transando com Jack, mas quando assimilei as palavras dele suspirei baixando a guarda, agora eu entendia porque ele tinha reagido daquele jeito. Desliguei o celular e desci mais alguns degraus chegando mais perto do homem.

— Você é o pai da Isabella? — perguntei baixo com medo que pudesse ouvir e o homem a minha frente franziu o cenho.

— Ele... ele te falou dela com você? — o senhor gaguejou, me confirmando que Jack não falava da ex mulher com ninguém.

— Não, eu acabei descobrindo um dia desses. Assim como não estávamos transando, sou a vizinha dele e estou cuidando do Jack. — estendi a mão para o senhor, esperando que ele aceitasse e colocássemos um fim naquele clima ruim.

— Hugo, o pai da Isabella sim. — ele disse dando passos e acabando com o espaço entre nós, segurando minha mão em seguida. — Desculpe pelo que disse antes. Então ele realmente se machucou?

— Sim, foi um acidente feio. O carro bateu nele quebrou o braço dele e seu corpo deslizou no asfalto, rasgando a pele, no final ele bateu a cabeça e precisou passar por uma cirurgia. — o rosto do homem a minha frente se contorcia conforme eu falava tudo o que tinha acontecido. — Ele está melhor, teve alta hoje, estava ajudando ele a tomar um banho quando chegou.

O homem bufou e esfregou os cabelos brancos dando meia volta, realmente Hugo parecia arrependido de ter invadido, querendo forçar um confronto.

— Eu não devia ter vindo, achei que ele tinha perdido o aniversário do sobrinho de propósito. — o homem se sentou no sofá e eu o segui, mesmo que quisesse ir ver como Jack estava, minha curiosidade em saber mais sobre a vida dele era maior. — O garoto nos afastou desde que ela se foi e quando forçamos sempre o pior acontecia.

— Jack afasta todos, não é com você.

— Sean me disse que ele tinha sofrido um acidente no dia em que liguei, eu achei que fosse mais uma mentira dos dois, são como irmãos e vivem acobertando a mentira um do outro.

Então tinha sido ele quem ligou naquele dia, senhor Hugo era mesmo um empata foda, queria poder rir disso, mas me intrigava o fato dele ter ficado daquele jeito apenas com um convite para aniversário. Pelo visto era mais difícil para ele ficar perto da família do que pensei.

— Você pode subir lá se quiser, ele já sabe que entrou aqui.

Aquilo era a última coisa que Jack iria querer, mas era uma forma de fazê-lo contar mais sobre sua vida, isso também podia ajudá-lo a sair do casulo e voltar a falar com sua família.

— Ele vai me odiar por isso. — ele falou mas se levantou e eu o segui.

Subimos até o segundo andar em silêncio e eu deixei que o homem entrasse na frente. Jack ergueu a cabeça com pressa e seus olhos pesaram com mais tristeza ainda, respirei fundo sabendo que aquilo não iria ser fácil.

— Hugo. — a voz transbordando com emoção quase me fez chorar, mas eu podia culpar os hormônios, já o homem sentado na cama só podia culpar seus próprios sentimentos. — O que veio fazer aqui?

— Oi filho. — ele se sentou na cama, os dois parecendo prestes a chorar. — Vim ver como você estava?

O corpo de Jack se curvou sendo aparado por Hugo, as duas testas se uniram enquanto os dois explodiam em lágrimas. Jack chegou a soluçar sendo amparado pelo ex sogro, que compartilhava da sua dor, aquilo me quebrou em mil pedaços e me obriguei a sair do quarto dando mais privacidade a eles, mas fiquei escondida do lado da porta pronta para ajudá-lo se ele pedisse. 

Segunda Chance - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora