Mentindo para a polícia

573 56 3
                                    

As horas passavam, e assim que se deram conta, Adele e S/N viram a porta do quarto ser aberta e no quarto adentrarem policiais com uniformes chamativos, pedindo licença e desejando boa tarde. Naquele momento, o coração de S/N acelerou em ter que contar o que havia acontecido com ela e Roberth na cabana por cinco dias, e no fundo, não queria que Adele soubesse de nada. Então quando as primeiras perguntas foram feitas, ela respondeu como queria que o interrogatório fosse conduzido.

- O que ele fez com a senhora nesses cinco dias?

- Ele... Ele me manteve presa no quarto, levando almoço e jantar todos os dias.

- E quantas vezes o mesmo lhe agrediu?

- Somente uma vez! - mentiu - Eu comecei a falar que ele não era homem, então ele se irritou e começou as agressões.

- Somente uma vez? Ele não lhe tocou mais, depois desse momento.

- Não, senhor! - mentiu, olhando nos olhos do policial, que pareceu acreditar - Ele somente fez isso, e depois se arrependeu. Então começou a pedir desculpas sem parar.

- Ele não forçou uma relação com a senhora?

- Ele... - respirou, fechou os olhos e sentiu Adele a envolvendo em um abraço - Ele tentou, mas... não continuou, depois que eu pedi para que não fizesse, se ele realmente me amasse - não contou toda a verdade.

- Então ele lhe deixou?

- Sim! - abraça Adele - E eu pensei que iria morrer sozinha naquela cabana - começa a sentir as lágrimas escorrendo - Eu fiquei com medo!

- Então nesses cinco dias, a senhora ficou presa em um quarto e ele não fez nada? - estranha o policial.

- Não! - chora ainda mais, sabendo que não era verdade, mas iria fazer de tudo para que suas poucas palavras se tornem o mais puro e verdadeiro interrogatório.

Adele percebeu o estado que tudo estava deixando S/N, e olhou nos olhos de cada um dos policiais, quase implorando para que acabasse a sessão de tortura mental por hora, mas os mesmos continuam:

- O que ele falou durante esses cinco dias?

- Não sei! Eu não lembro! - esconde o rosto no abraço de Adele - Eu não lembro! Eu só estava com medo.

- Nada que remetesse uma fuga?

- Eu não sei!

- Por favor, policiais? - pede a cantora, recebendo o olhar de todos os quatro investigadores e percebendo todos recuando por alguns segundos.

- Tudo bem, senhora! Vamos deixar para outro dia nossa conversa. Está bem? - olha para S/N, que confirmava - Boa noite e uma viatura irá fazer uma escolta até a casa de uma de vocês.

- Obrigada, policial - agradeceu Adele, vendo segundos depois, todos saindo e ouvindo S/N chorando bastante e apertando o abraço em torno de sua cintura - Calma, meu amor! - a envolve nos braços, demonstrando que estava ao seu lado - Eu tô aqui!

O abraço apertado, trazia a S/N a falsa sensação de segurança, enquanto a cantora de madeixas douradas olhava pela janela a cidade parisiense e imaginava onde Roberth poderia estar, se ele ainda estava no mesmo lugar que ambas ou se já havia fugido para outro país.

Os dias se passavam, e uma agenda repleta de coisas para que Adele fizesse, incluindo entrevistas, sessões de fotos e apresentações, estava sendo completamente ignorada pela mesma, que a todo momento se mantinha ao lado de S/N, sua namorada, enquanto seu filho ficava na casa do pai em Paris.

A saída da cantora britânica dos palcos por alguns dias ou meses, foi anunciada por uma rede social, pois a mesma foi impedida de anunciar no show dado a dias atrás. E mesmo contrariando todas as falas de protesto de sua equipe sobre se afastar mais uma vez, já que ela havia feito isso por quase 6 anos, ela continuou sua palavra e fora do mundo da música.

S/N por outro lado, continuava com sua obra de arte exposta no museu do Louvre, na Cidade Luz, mas o medo lhe fazia querer entrar em seu ateliê, pegar suas telas em branco e começar a pintar, até chegar ao extremo de seus braços e mãos.

Ela queria narrar nas enormes telas de tecido e armação em madeira, o que seu corpo e sentimentos estavam passando naquele momento.

As horas passavam e a noite batia na janela, dando a Adele e S/N uma bela e inesquecível visão da Torre Eiffel acompanhada por um "mar" de estrelas e lua atrás da estrutura de cobre a alguns metros do hospital em que ambas estavam.

O som da porta se abrindo ecoou e assim que levaram suas atenções a mesma, viram o médico adentrando e avisando que, naquele momento S/N poderia ir embora, mas que uma enfermeira iria fazer o acompanhamento diário sobre o estado de saúde da mesma, já que a pequena rachadura na costela ainda existia, e que a mesma estava proibida de fazer esforços.

Adele sorriu e olhou para sua namorada, que não entendeu o riso frouxo de acusação, como se ela fosse contrariar as ordens médicas ali faladas.

- Por que está me olhando assim?

- Porque eu sei que você não irá fazer nem uma parte do que o médico está falando! - ri e volta suas atenções ao homem de cabelos brancos como neve e rosto com rugas do tempo, mas com um charme - Je vais garder un œil sur elle !

- Merci - agradece o homem enquanto olha para S/N, abraçada em volta da cintura de Adele - Está liberada, senhora S/N Daruma.

- Obrigada, doutor.

- Lhe vejo daqui a 10 dias, tudo bem?

- Sim, senhor! - sorriu, levando uma das mãos a cabeça, como se estivesse confirmando a ordem, e essa ação fez o homem sorrir, assim como Adele, que virou para a mesma e disse:

- Vamos? Lhe ajudo a arrumar suas coisas.

Os pneus do carro de luxo, deslizavam pelo asfalto frio, enquanto no banco do motorista estava Adele e no carona S/N olhando pela janela à noite e pessoas caminhando pelas calçadas históricas de Paris.

Foram cerca de 50 minutos, até que ambas finalmente chegassem à mansão da cantora. E antes de descerem, Adele olhou para S/N que olhava a casa e deixava transparecer os olhos marejados e dizia:

- Pensei que jamais veria você! - olha para Adele, que sorri, mas sabia bem o que a mesma queria dizer - Senti medo!

- Mas já passou! - retira o cinto de segurança, virando segundos depois para a mesma, erguendo uma das mãos e tocando no rosto machucado de S/N - Já passou! E eu não vou deixá-lo chegar perto de você novamente!

- Obrigada! - arrumou o rosto, como se o estivesse encaixando no toque de Adele.

- Vamos?

- Sim!

A cantora saiu, dando a volta e abrindo lentamente a porta do carona, enquanto S/N virava lentamente e com cuidado, e mesmo assim, a dor em sua costela gritava e ela se contraia para não gritar. Segurando firme e com a ajuda de Adele, se levantou e começou a caminhar em direção ao interior da casa.

Já lá dentro, a cantora olhou para S/N e disse que ela iria ficar no primeiro andar, para não ter que ficar subindo e descendo escadas, podendo se machucar. Mas para a surpresa da mesma, Adele disse que iria ficar com ela, passando suas coisas para o imenso e confortável quarto de frente para a piscina.

- Adele? - sorri, mas estava triste de tirar a mulher de seu conforto - Não precisa sair do seu quarto.

- Precisava sim! E outro, o quarto para onde vamos é maior que o meu! - lança uma piscadinha, fazendo S/N sorrir e começar a caminhar com a mesma em direção ao mesmo.

S/N abriu a porta, vendo um imenso quarto com paredes brancas e bem ao centro, uma cama de casal maior do que a sua em seu casarão.

Então começou a caminhar em direção a mesma e com cuidado, sentando lentamente e sentindo a maciez, mas de longe isso encheu seus olhos, pois a única coisa que passava em sua mente eram os dias na mão de Roberth, alguém que jamais imaginou ser capaz de fazer o que lhe fez, e apenas isso lhe levou às lágrimas.

Adele foi em direção a cama, retirando os sapatos e se sentando com as pernas esticadas, vendo S/N virando e subindo em seu colo, lhe abraçando e deixando bem claro que as coisas seriam difíceis.

- Calma, meu amor - a abraça forte.

Eu sinto você! - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora