Florence

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Os sons da sirene ecoam entre os carros a cada metro avançado para a vida da famosa cantora de fios ruivos e pele clara.

Florence estava sentindo a dor de partir, porque não era tão amável quanto sempre imaginou ser.

Ela sentia fisgadas na ponta de seus dedos e sua visão cada vez mais turva, ela sentia que era hora de ir, mas algo a mantinha ali dentro daquela ambulância e não queria soltar.

Seus olhos se abriram e ela continuava encarando Grace, que não permitia sua partida porque falava que não era aquele momento.

O carro parou, as portas foram abertas imediatamente e a cama movimentada para fora, assim como Adele e S/N, atentas a cada segundo que pareciam eternidades.

S/N sentia uma gritante culpa, pois o tiro deveria ser para ela e não Florence. Ela havia dado início a todos esse caos ao se envolver com Adele, sendo mais fácil continuar sua vida ao lado de Roberth, como fez a muitos anos com o afastamento da cantora inglesa, mas nada poderia voltar ao passado e tudo deveria seguir em frente.

O coração da Artista Plástica estava apertado assim que a maca atravessou uma imensa porta azul, onde acima estava escrito:

"A vida passa rápido, mas aqui tentamos alargar sua existência.
UTI"

Adele abraçava fortemente sua namorada, sentindo a mesma sensação que ela, mas se mantendo firme com a certeza de que havia acabado aquele pesadelo em torno de um homem cruel o suficiente para dar fim a vida de uma pessoa e ser frio, ao ponto de se envolver com a irmã de sua própria vítima.

- Calma amor, acabou.

- Eu sei! Mas e ela?

- Vamos rezar, é a única coisa que podemos fazer agora, além de esperar.

Aparelhos ligados a todo vapor, mantinham Florence viva enquanto, de bruços em uma cama e rodeada por médicos trajados com roupas azuis e equipamentos minúsculos, ela era cortada na parte das costas e aos poucos a bala, que não causou mais danos, foi retirada para a alegria de cada profissional que ali estava, que perceberam a sorte da cantora em ter o micro objeto alojado a poucos centímetros da coluna.

- Essa nasceu de novo! - afirma um dos homens na sala - Estava a milímetros da cervical.

- Sorte?

- Milagre.

Meses depois

Caminhando pelas calçadas tranquilas de Londres, Adele olhava ao redor, sentindo uma estranha paz a cada passo dado sozinha em direção a galeria de artes de S/N, onde chegou e encontrou o mesmo espaço enorme e com quadros pendurados em lugares específicos das paredes, pessoas caminhando entre eles e bem no centro, usando uma calça de alfaiataria branca e camisa de seda preta, fios soltos e ondulados, maquiagem simples e elegante, estava sua namorada sorrindo feliz, pela primeira vez depois de meses do ocorrido.

A cantora ficou longe para não atrapalhar a conversa entre S/N e um casal de meia idade, porque ouvia a mulher alta narrar sua experiência e como lhe veio a ideia de criar uma exposição com imagens de pessoa que nunca viu, mas entre elas, entre telas com rostos pintados a mão e embolsando alegria em meio a dor, tinha um rosto família e que Adele nunca havia visto durante a criação de cada peça.

Os fios loiros, olhos verdes e pele clara, lhe faziam lembrar alguém, mas ela não sabia quem, então se aproximou, chamando a atenção de todos e principalmente de S/N, que pediu licença ao ver a cantora se aproximando do quadro de Grace, pintado em segredo e em homenagem a mulher que nunca viu em sua vida, apenas imaginou como deveria ser.

- O que achou? - pergunta ela a Adele, que vira e estranha.

- Conhecemos ela?

- Não! - para ao lado da cantora - Mas eu imaginei que ela fosse assim.

- Ela?

- Grace - sorri, olhando nos intensos olhos verdes.

- A irmã da Florence?

- Ela mesma.

Adele olhou surpresa, mas ao mesmo tempo sorriu e encostou seu ombro nos ombros de S/N, que segurou em sua cintura e desferiu um rápido beijo no pescoço e sussurrou:

- Estou feliz que tudo tenha acabado.

- E eu que ninguém, absolutamente ninguém foi com aquele animal. - sussurra Adele, abraçando S/N e continuando a olhar para o retrato de Grace, imaginando que ela fosse daquela forma, mesmo não fazendo ideia de como ela era fisicamente.

Longe dali e caminhando entre lápides lindamente esculpidas estava Florence Welch, se aproximando do nome Grace Welch e percebendo flores vivas, que se misturam às que ela própria havia levado naquela manhã.

As dores fortes causadas pelo tiro, se tornaram uma cicatriz que lhe lembraria o quanto a morte é cruel. As memórias de sua irmã lhe impedindo de partir, permaneciam como um alento de não desistir.

Florence estava recuperada, após meses de dor e choros pelas lembranças, mas viva e prestes a subir em um palco e cantar para milhares de pessoas de todos os lugares do mundo em um show que iria acontecer naquela noite em Londres.

A mulher branca e de intensos olhos verdes, se ajoelhou, sentando no chão e conversando com o silêncio, mas por alguma razão ela sentia sua irmã lhe entendendo e então sorriu, levantando minutos depois e se despedindo, voltando pelo mesmo que antes e parando assim que chegou em frente aos enormes portões, encontrando os fios dourados, pele clara e rosto angelical de Adele, trajando uma roupa completamente simples e sorrindo enquanto falava:

- Achei você.

- Parece que sim - fala Florence, mostrando o rosto corado devido à timidez.

- Vamos?

- Para onde?

- Você precisa ver algo.

- Preciso?

- Sim! - sorri - E eu tenho certeza de que você vai amar.

Ambas se olharam por longos segundos, até que Florence cedeu ao pedido e começou a seguir Adele, parando ao seu lado e entrando no carro, esperando ela fazer o mesmo e seguir para o tal lugar misterioso e que não imaginava qual ser.

O carro, minutos depois, estacionou em frente uma espécie de galpão moderno e enorme, então a cantora de fios ruivos abriu a porta, começando a caminhar para o interior da galeria de S/N e encontrou a mulher sorrindo e correndo em sua direção, lhe abraçando com tanta força que era nítida a alegria em vê-la ali.

Adele apenas observava e esperava o grande acontecimento, que não demorou muito, pois ambas caminharam até o quadro de Grace e Florence levou as duas mãos aos lábios, olhando impressionada para S/N que sorriu e falou:

- Então eu acertei?

- Grace? Você... - continua surpresa - Como... como você fez ela tão bem?

- Não sei! - sorri - Apenas fiz. - ri.

- Impressionante, S/N.

Eu sinto você! - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora