Eu sinto você! - Vol. 2

Olhe nos meus olhos

O silêncio permitia ouvir o mais simples e delicado som ecoando pelas paredes do apartamento de Roberth, que sentado em frente a janela, olhava a vista da favela em sua frente e sentia o frio da arma em seus dedos ao lembrar que Florence estaria mentindo para ele.

O homem se levantou, caminhando e no meio da sala, colocou a arma em sua cintura, seguindo para o lado externo e descendo as escadas, cumprimentando cada morador que vive no espaço para ser o personagem perfeito perante todos, mas assim que saiu, entrou no carro e partiu até a casa de Florence, que fechava os olhos e soprava a chama de uma de suas velas, sabendo que ele voltaria.

Na mansão, Adele e S/N se olhavam com uma única certeza de que iriam fazer alguma coisa a respeito, mas não sabiam o que, porém a Artista Plástica ergueu a cabeça, pegando as chaves do carro e olhando para a cantora:

- Ele precisa pagar pelo que fez!

- Vamos fazer o que?

- Vamos acabar com ele!

- Essa é a minha garota - riu.

A noite caia lenta e sombria, mas ao estacionar o carro em frente a casa de Florence, Roberth percebeu a escuridão e apenas um foco de luz vinda da sala.

As cores amareladas exalam e o homem sabia que a cantora estava ali, sendo o local perfeito para entender o que estava acontecendo, e quando saiu do carro, caminhou até a porta, abrindo e vendo velas acesas e quebrando a escuridão, enquanto a mulher estava de joelhos ao chão, olhando-o com expressão vazia e mãos na perna, vendo-o adentrar e fechar a porta.

- O que é isso? - olha ao redor, sentindo um arrepio o consumindo como se estivesse entrando em um ritual - O que é isso?

- O que faz aqui?

- Eu perguntei primeiro! O que é isso?

- Nada!

Florence fechou os olhos, juntando as mãos em uma espécie de oração e começando a se curvar para frente, tocando sua testa no chão frio e sorrindo ao ouvir os passos que Roberth deu para se afastar, demonstrando estar com medo de tudo.

- Sou uma bruxa - abre os braços - Pensei que soubesse.

- Engraçadinha, você! - ri, mas recebe o olhar da mulher e a vê soprando uma das velas, mas a distância tornaria impossível ela conseguir apagar, mas não foi isso que aconteceu.

Roberth viu a chama se apagando ao seu lado, enquanto a mulher estava a, mais ou menos, 5 metros de distância de si, e apenas isso o fez acelerar o coração ao imaginar que estava se envolvendo em algo sobrenatural e fora de sua ossada, mas quando estava para sair, Adele surge no fim do corredor trajando um casaco, maquiagem perfeita e atraente, além do salto e a postura impecável, se aproximando ao ponto de se sentar em um dos sofás da casa, cruzar as pernas e o olhar fixamente:

- Oi, Roberth?

- O que significa isso? - ri, virando e tentando abrir a porta, mas a mesma estava trancada pelo lado de fora - Que palhaçada é essa, Florence?

- Você lembra da Grace? - diz a mulher de fios ruivos, voltando a ficar de joelhos - Ela morreu a quase 10 anos, e ninguém sabe quem fez isso.

- Como eu vou saber disso? Abre a porta!

- Eu nem toquei na porta, muito menos a Adele - se levanta, assustando o mesmo que dá um passo para trás - Ela deve ter enterrado, porque sempre acontece. - vira, dando as costas para ele.

Adele conseguia ver o medo nos olhos de Roberth, e isso estava alimentando ainda mais a ideia que todas as três mulheres tiveram em dar um fim em todo aquele pesadelo, já que a polícia não conseguia pegá-lo de nenhuma forma.

A cantora de intensos olhos verdes e fios dourados, se levantou, parando em frente ao homem e o vendo travar a mandíbula para não falar e demonstrar seu ódio, e nesse momento sorriu e virou, caminhando em direção a cozinha e parando ao lado de Florence, que os olhava e quebrava o silêncio ao beber um gole de água e perguntar novamente:

- Lembra da Grace, Roberth?

O homem arregalou os olhos ao ouvir seu nome nos lábios da cantora de fios ruivos, e isso o fez levar uma das mãos à cintura, mas não se atreveu a tirar a arma que estava ali. Apenas riu como se ela estivesse completamente errada em relação ao seu nome:

- Meu nome está longe de ser esse! E não, não conheço nenhuma Grace.

- Não? Estranho!

- Por que é estranho?

- Porque você matou ela! - afirma Florence.

- E violentou a S/N, mantendo ela em cárcere por 5 dias - diz Adele, sorrindo - Dois baita problemas, não é?

- Cala a boca, sua vadia.

- Respeita, que você está na minha casa! - afirma Florence com sua calma inconfundível.

- Isso é ridículo e vocês estão malucas! - tenta abrir a porta novamente, mas não consegue - Abre a merda dessa porta!

- Está tenso, Roberth? - provoca Adele.

- Cala a boca!

- Não! Eu não calo para você, canalha.

Do lado de fora e escutando tudo que acontecia do lado de dentro, estava S/N tentando o mais rápido possível fazer viaturas aparecerem na frente da casa da cantora de Indie, mas a atendente lhe fazia inúmeras perguntas sobre o ocorrido, e isso apenas lhe fazia perder tempo e tornar as coisas mais perigosas.

- Eu sei! - sussurra - Mas será que você pode antecipar essa burocracia? É um caso de vida ou morte, minha senhora! Obrigada!

O coração de S/N acelera ao lembrar do plano traçado por Adele, ela e Florence, que consistia em fazer Roberth confessar seus crimes para ambas devido ao ódio que ele sentia por Adele, e ela estar presente, seria a faísca perfeita para o explodir da raiva do homem que prometeu vingança ao ser trocado por uma mulher.

E tudo estava dando certo, já que Roberth não viu que Florence poderia ser muito mais do que uma mulher que ele se divertia. Ela era muito além do que pensava.

- Você lembra dela, não lembra? - pergunta Florence, novamente - Grace Welch, belos olhos verdes, fios loiros, rosto perfeito - se aproxima - Você lembra dela, porque você matou a minha irmã.

O homem arregalou os olhos, voltando no tempo e lembrando exatamente do que a mulher em sua frente havia narrado.

Os gritos, o som dos pássaros e do vento batendo nas árvores, as sirenes e a fuga perfeita para que ele estivesse tendo a vida que teve ao lado de S/N, não contando com a troca por Adele, que lhe ouvia atentamente ao beber um gole de água.

- Quando você surgiu, Roberth ou Fernando, sei lá quem é você! Eu não desconfiei de nada! Mas... - sussurra - Uma mulher leu as cartas para mim, e me disse quem era você. O demônio por trás da morte da minha irmã. A aranha que iria me matar - sorri - O Narciso por trás da minha canção - o segura forte no pescoço - O desgraçado que acabou com a minha família!!