Quatro anos atrás...
O carro do meu pai estaciona e tento tirar o cinto e abrir a porta para sair rapidamente, mas sinto sua mão na gola de minha camisa e paro, voltando a me sentar.
— Ei, pestinha — ele chama, ao me parar. — Que tal abrir a sua mochila e me mostrar os livros pesados que estão aí dentro?
Baixo o olhar para a mochila que está entre minhas pernas, no chão do carro e olho para a escola novamente.
O inverno está chegando e logo estaremos livres das aulas por um tempo. Eu contava os dias para a Fire Night, que marcava o começo dessas férias que teríamos.
— Abra a mochila, Ivarsen — ele ordena, mas existe humor em sua voz.
Me abaixo e abro os dois zíperes, e até tento cobrir boa parte com o uniforme da educação física que está jogado de qualquer forma ali dentro, mas rapidamente ele enxerga o que não deveria estar lá e puxa para cima.
— Seu pestinha do caralho! — ele exclama, rindo. — Eu não quero nem saber o que você pretendia fazer com isso...
Ele pega o enorme tubo de cola e tento disfarçar, mas ele também vê a garrafa de querosene que trouxe e coloca os dois em cima do painel do carro.
Balança a cabeça e coça o cabelo ao mesmo tempo e depois me observa.
— Tem mais alguma coisa aí, não tem? — ele estreita os olhos em minha direção.
Suspiro e tiro do bolso o maço de fósforos, colocando ao lado do querosene.
— Jesus!
Cruzo os braços e aguardo em silêncio. Minha mãe já tinha me passado um sermão ontem, depois que Mads contou sobre o que aconteceu e como eu empurrei uma garota. Só podia agradecer que ela não sabia que eu não fiz isso só uma vez.
Porém, meu pai não diz mais nada e apenas me observa, parecendo reflexivo.
— Vá para aula, Ivarsen — é tudo que ele fala, depois de um tempo.
Fecho a mochila e ponho a mão no gancho da porta, mas paro para perguntar.
— Como você sabia?
Ele solta um suspiro pesado.
— Porque você é meu filho.
Reprimo um sorriso e pulo do carro, mas antes de fechar a porta o ouço pedir:
— Pelo amor de Deus, seja bom.
Em seguida, liga o carro e sai.
Quando me viro e começo a andar em direção à entrada, pego seu isqueiro, que consegui esconder hoje pela manhã e que mantive no bolso meu detrás.
A professora Wilson queria que eu, Mads e Nini refizéssemos o teste fora do horário, o que nos renderia não só um, como foi combinado, mas dois dias de detenção.
Se ela queria ser injusta e fazer as coisas do seu jeito somente para mostrar que estava no comando, logo, logo ela teria não só três provas, mas vinte e cinco para corrigir novamente.
Quando entro em sala, Mads está de pé ao lado da cadeira de Nini, entregando a caneta que comprou para ela como pedido de desculpas.
Ela está vestindo o uniforme completo e com todos os botões fechados, mas calça um coturno preto e escreve algo com a caneta que acabou de ganhar que faz com que Mads dê um meio sorriso, além de um aceno e depois saia.
Já tinha ouvido algumas garotas falando de Nini conforme o tempo, mas assim como todas as histórias em Thunder Bay, existiam mais fofocas maldosas e histórias fantasiosas do que a realidade em si e pertencendo à uma família que era assunto na comunidade, nunca tinha parado para olhar duas vezes para a garota solitária de óculos coloridos e cabelos castanhos.
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Runaway - A DEVIL'S NIGHT FANFICTION (PTBR + ENG)
RomancePT: NINI Eu estava em maus lençóis. Voltar para Thunder Bay não era seguro e eu sabia disso. Tinha ido embora há quatro anos e agora, de repente, estava sendo obrigada a voltar, mas dessa vez, para onde sempre fui proibida de ir. Eu sabia que eles...
