Capítulo 30 - Nini

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Quatro anos atrás...

Quando a claridade começa a adentrar meu quarto, sinto meu corpo reclamar e solto um gemido frustrado por, mais uma vez, não ter conseguido descansar. Desde que as provas finais tinham começado, eu vivia obcecada em passar meu tempo livre ao lado de Ivar, Mads e Tavi, e quando chegava em casa, estudava até o sono vir.

O problema é que há dias o sono não vinha. Por esse motivo, eu esperava que desse três horas da madrugada para pegar Vince em minha mochila, subir em minha cama e abraça-lo, desejando mais do que tudo ter um momento de descanso, mas só o que conseguia era alguns breves momentos em que minha mente desligava.

Ouço o barulho de um carro estacionando e me pergunto quem poderia estar acordado a essa hora. Contudo, sei que o trabalho de minha mãe, às vezes consiste em receber obras que chegam em sua casa assim que aterrissam no país, sem direito a um desvio sequer da parte das transportadoras. Ou seja, já houveram algumas vezes em que minha mãe recebeu ligações na madrugada, que informavam que as peças ou quadros estariam chegando em uma ou duas horas.

E pensando que esse poderia ser o caso, me levanto, guardando Vince e caminhando para fora do quarto, tentando não fazer barulho.

A porta da entrada está aberta e a do porão também, o que significava que minha mãe estaria recebendo ou já teria recebido a entrega, mas ao descer praticamente deslizando pelo piso para ver o que seria, vejo o porão vazio e os novos quadros ainda embalados.

Desde que eu tivesse cuidado e jamais danificasse as telas ou suas molduras, mamãe não ligava que eu abrisse e observasse a arte, portanto, pego o estilete que ela costuma usar e abro o papel que os cobre com cuidado.

Ao abrir a terceira tela, no entanto, percebo que os três quadros são iguais, tendo até mesmo os separado e os colocado lado a lado. A assinatura também é a mesma. Que artista faria três quadros idênticos? E por que? No envelope acima do balcão, existe um papel que diz que o nome do quadro é O Leito e ao observa-los novamente, dessa vez a distância, vejo que me lembram algo que já vi antes. Pego meu celular para pesquisar pelo nome do quadro e vejo que estou certa, o quadro existe e foi pintado por um artista búlgaro, mas isso ainda não explica o motivo de outros dois idênticos estarem ali.

Me levanto e corro até a porta, para questionar minha mãe sobre, mas ao invés de encontrá-la, vejo Evans de pé ao lado do professor Forester, que tem um envelope em suas mãos e está contando notas de dinheiro.

Ele que havia trazido os quadros? Franzo minha testa em dúvida e não preciso pensar muito sobre, para perceber que isso seria um caso de falsificação. Não há outra explicação e eu não duvido que meu padrasto seja capaz disso, mas me pergunto qual seria o papel de Forester, que se dizia um amante das artes, nisso. Ele não desenhava. E já tinha o ouvido errar mais do que algumas vezes com suas referências nas aulas.

Forester termina de contar o dinheiro e o guarda. Não consigo ouvir o que estão conversando, mas se despedem e Evans volta para dentro, me encontrando ali.

— O que está fazendo acordada? — resmunga, se colocando em minha frente.

— Acordei mais cedo — minto. — O que o professor Forester estava fazendo aqui?

Evans dá dois passos para frente, mas passa direto por mim para responder:

— Não é da sua conta, garota. Suba e volte a dormir.

— Minha mãe sabe sobre essas falsificações? — o questiono, cruzando os braços.

Ele trava, mas não vira imediatamente. Sei do risco que estou correndo, mas também sei que ele não me agrediria faltando tão pouco para me levar à escola e que não me deixaria faltar, já que este era meu último dia de aula. Porém, estava de frente à um dilema que me fazia criar coragem, pois não o deixaria prejudicar minha mãe por causa de seu esquema.

Runaway - A DEVIL'S NIGHT FANFICTION (PTBR + ENG)Where stories live. Discover now