Capítulo 26 - Ivar

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Dias atuais...

Eu estava com medo. Jamais admitiria isso, nem para Nini e nem para ninguém, mas ao vê-la finalmente desabafar sobre o que estava pensando e sentindo depois da reunião com Evans, eu fiquei com medo. Uma vez nós prometemos que arranjaríamos um jeito de ficar juntos. Nós tentamos lutar contra ele e mantê-la a salvo. Eu prometi que ela poderia contar comigo e com minha família para ajudá-la, mas nada do que eu tinha dito foi o suficiente para fazê-la ficar.

Ele tinha conseguido um jeito de convence-la a voltar para casa e assim ela fez, nos deixando e indo embora sem olhar para trás. Portanto, quando a vi se esforçar para se manter calma, usando toda sua força de vontade e coragem para ficar ali sentada em sua frente, tentando impor seus desejos, também vi que ela ainda se sentia tão só quanto há quatro anos atrás e eu odiei isso.

Tudo o que quis desde que nos conhecemos e passamos a ser amigos foi protege-la e mantê-la ao meu lado, mas vê-la cheia de incertezas e temendo o que aconteceria a partir de hoje, fez com que eu percebesse que mesmo agora, Nini ainda não entendia o quão longe eu estava disposto a ir por ela.

Estaciono o carro e desço, caminhando em silêncio, usando meu celular como lanterna e subo até a varanda aberta que nunca foi finalizada e que dava visão para boa parte da cidade, para encontrar meu pai de pé ali, encostado a grade com um cigarro em sua mão e uma cerveja na outra.

Meu pai me viu chegar e também percebeu quando me coloquei ao seu lado, mas não diz nada durante um longo tempo.

É tarde e as luzes de Thunder Bay vão apagando aos poucos, mas ao receber sua mensagem que dizia para encontra-lo na "minha maquete", pude entender imediatamente o que ele queria dizer e já sabia seu motivo para me trazer ali. Por isso, deixei Nini em casa e vim encontra-lo.

— Quando você nasceu, lembro que fiz uma promessa — ele começa finalmente, ainda observando a cidade. — Eu sabia que erraria bastante e tinha expectativas baixas com relação à maioria das coisas, mas meu foco era ser alguém com quem você pudesse contar. Prometi que você teria um pai presente e que eu seria alguém em quem você confiasse, e achei que tinha conseguido isso. Até hoje.

— Pai...

Ele levantou um dedo para que eu pudesse deixa-lo continuar.

— Hoje pude juntar algumas peças em minha cabeça. Peças que sozinhas não faziam sentido algum e que por causa disso, eu achei que deveriam ser uma fase rebelde ou coisas da idade — ele bufa, balançando a cabeça. — As mudanças no seu comportamento, sua aproximação com Madden, as saídas depois da escola, quando vocês só retornavam no fim da tarde e depois... Você mudou mais ainda. As saídas pararam, você entrou para o time de basquete, que nunca tinha demonstrado interesse antes e você ficou mais quieto, introspectivo, até. De repente, parecia que você estava fazendo aquilo para impressionar alguém. Por isso, eu comecei a deixar claro que estava orgulhoso do homem que você estava se tornando. E não que antes eu não estivesse, você sabe que tenho muito orgulho de toda a nossa família, mas você parecia estar se esforçando para provar que conseguia fazer tudo aquilo.

Fico em silêncio deixando que ele conecte suas memórias, pois não há muito que eu possa fazer agora.

— E agora que tudo parece fazer sentido e ter uma conexão, posso perceber o quanto deixei escapar e o que escolhi ignorar. O que me leva a me perguntar se eu falhei...

— Não — nego imediatamente, o interrompendo. — O senhor não falhou.

Ele suspira e vira para mim, finalmente me encarando.

— Então, o estúdio era para ela? Ela é sua artista? — pergunta, soprando a fumaça no vento.

Dou um aceno.

Runaway - A DEVIL'S NIGHT FANFICTION (PTBR + ENG)Where stories live. Discover now