Capítulo 7

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Chego no meu quarto na pensão em que estou morando e abro a porta, viro a fechadura uma, duas, três vezes, entro e acendo a luz uma, duas, três vezes, fecho a porta uma, duas, três vezes, então pego o celular e procuro o nome dele, olho para o que ele escreveu e sorrio, ele é estranho. Clico em cima e mando uma mensagem.

N: oi... É o Nanon, você pediu pra mandar mensagem quando eu chegasse, acabei de chegar.

Guardo o celular, mas ele apita, levo um susto e pego ele.

O: Chegou bem?
N: Sim
O: O que você está fazendo?
N: Mandando mensagens
O: Está descansando?
N: Ainda não fiz nada, entrei e te mandei mensagem. Estou na porta ainda.
O: digitando....
O: digitando....
O: digitando....
O: o que você vai comer?
Ele demorou tanto pra escrever isso?
N: Não tenho nada aqui, acho que vou procurar um mercado.
O: Sabe mandar localização?
N: Sei
O: Manda pra mim.
Mando a minha localização e espero, tomara que ele responda rápido, preciso ir no banheiro.
O: Tudo bem, não sai sozinho.

Se eu não sair como vou comer? Talvez a região seja perigosa, por isso ele queria ver a localização?
Eu guardo o celular e saio para ir ao banheiro, volto troco de roupa, coloco um pijama, olho o horário e tomo o meu remédio. Pego o celular de novo e leio a mensagem.

O: Tudo bem, não sai sozinho.

- Mas eu estou com fome!

Para me distrair pego o meu diário onde faço anotações, pego o meu bloquinho, tiro a folhinha que escrevi e colo no diário. Coloco a data e fico pensando no que escrever, mas só uma coisa me vem a cabeça

Ohm

Porque eu não consigo parar de pensar nele? Acho que porque fiquei tempo demais e ele é diferente. Lembro dele me beijando quando fui embora, fora os meus pais ninguém nunca tinha me beijado antes e mesmo isso, o beijo dele não é como o dos meus pais. Coloco a mão no meu rosto e lembro da sensação de formigamento sempre que ele para de me tocar, como as pessoas não me tocam não tenho referência para comparar.

Porque eu gosto quando ele me toca?

Leio e releio, mas não tenho resposta para essa pergunta.

Porque ele me toca?

Não tenho resposta para essa também, mas eu acho que é algo da cidade, por isso ele proibiu os outros de me tocarem, porque é algo que eles fazem por aqui.

Começo a desenhar coisas aleatórias no diário, uma máquina de lavar, o cilindro grande, um pote de macarrão, um par de algemas... Lembro  dele colocando as algemas na minha mão e sinto o meu rosto formigando. Viro a folha e começo de novo. No que estou pensando?

Ohm

Abaixo a cabeça e encosto no diário. Porque ele não sai da minha cabeça? Queria tentar pensar direito, mas ele não deixa. Bato a cabeça uma, duas ... Me assusto com o som da campainha, abaixo a cabeça e bato, três! Levanto e vou até a porta.
Seguro a fechadura, mas fico com medo de abrir, quem viria aqui?
- Quem é?
- Non? Sou eu, Ohm.
O que ele está fazendo aqui? Eu abro um pouco a porta e olho pela fresta. Ele mostra algumas sacolas que tem na mão.
- Posso entrar?
Eu olho em dúvida, não sei o que fazer, mas ele disse que é meu amigo, então não tem problema, não é?
Abro a porta e ele entra.
- Comprei algumas coisas para você.
- Não precisava phi... Quer dizer Ohm... Não precisava, eu ia no mercado mesmo.
- Tudo bem, mas agora eu já comprei.
Ele olha em volta, mas não tem muito o que ver, o quarto só tem uma escrivaninha, a cama e um pequeno armário de duas portas, ele olha pra mim e sorri.
- Você é bem organizado, vou colocar as sacolas na mesa.
Ele vai até a escrivaninha e para, percebo que ele está olhando para o meu diário e lembro que escrevi o nome dele. Corro e fecho o diário, ele sorri e coloca as sacolas em cima.
- Como você achou o meu quarto?
- Perguntei pro porteiro.
- Entendi.
- Você disse que não tinha nenhuma restrição alimentar e eu não sabia se você tinha como cozinhar aqui, então eu trouxe apenas lanches pra você, só pra você não ficar sem comer. Você tem onde cozinhar aqui?
Eu nego com a cabeça.
- Mas você gosta de cozinhar?
Eu aceno.
- Faz assim, quando você tiver vontade de cozinhar me avisa, você pode ir no meu apartamento e cozinhar lá. Deus sabe que jantar uma coisa diferente de comida pronta seria muito bom.
Eu sorrio e concordo, uma das coisas que me deixou triste quando eu vim pra cá é não poder cozinhar mais, faço isso desde criança.
Ele se aproxima e toca o meu rosto.
- Você não devia sorrir assim...
Eu olho sem entender, porque não?
Ele fecha os olhos e tira a mão do meu rosto.
- Eu só vim trazer as coisas para você, agora eu vou indo.
Ele se vira, mas eu seguro a sua mão.
- Ohm...
Ele se vira e me olha.
Eu não sei o que dizer, tudo que ele fez por mim hoje... Eu vou até ele e o abraço.
- Obrigado.
Eu espero, mas ele não me abraça de volta. Depois de um tempo ele levanta as mãos e toca as minhas costas levemente. Eu me afasto e sorrio de novo, ele coloca a mão no meu rosto e toca os meus lábios, outra mania estranha que ele tem.
- É melhor eu ir embora.
- Se você quiser pode ficar mais um pouco, eu não tenho nada pra fazer mesmo.
- Não é uma boa ideia Non.
Eu não entendo...
- Porque?
Ainda com a mão no meu rosto ele se aproxima.
- Non, você disse que nunca namorou. Você já beijou alguém?
- Não.
De onde surgiu essa conversa? Ele passa o dedo nos meus lábios mais uma vez.
- Então é melhor eu ir embora mesmo.
Ele se afasta e vai até a porta, então me olha.
- Não sai sozinho a noite, se precisar de alguma coisa me liga, tudo bem?
Eu concordo e ele abre a porta.
- Até amanhã, Non.
- Até amanhã.

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