Capítulo 41

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Escuto barulhos estranhos a minha volta, tento me mexer e não consigo, tento abrir os olhos e também não consigo, paro de ouvir os barulhos...

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Sinto algo molhado passando pela minha pele, primeiro o pescoço, peito, um braço e depois o outro, tento mais uma vez abrir os olhos, mas não consigo. Sinto aquela coisa molhada na minha perna e tento mexer, me sinto cansado....

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- Você não precisa trazer comida para mim todo dia, querido.
- Está tudo bem, o P'Aof pede para separarem no hotel e me libera por uma hora a mais no almoço para vir aqui, não se preocupe.
- Você é um anjo, fico feliz que o meu filho tenha encontrado amigos tão bons aqui.
- Ele ainda não acordou?
- Ainda não. Vocês tiveram notícias do Ohm?
- Não, tá tudo muito estranho, ninguém sabe para onde ele foi mandado depois do acidente e não conseguem falar com o pai dele.
- Queria ter notícias para dar para ele quando acordar, tenho medo do que pode acontecer se ele souber que o Ohm sumiu.
O Ohm sumiu? Como assim ? Me concentro e tento abrir os olhos ou me mexer, qualquer coisa, mas começo a ficar cansado de novo e a minha mente fica nublada...

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- Você precisa descansar, eu já falei que fico aqui com ele para você.
- Não precisa Phi, quando o meu filho acordar eu quero estar aqui com ele. Ficou sabendo dos boatos?
- Fiquei, não se fala em outra coisa no hotel. Estamos esperando a diretoria divulgar alguma nota confirmando ou negando, mas até agora nada.
- Você acha que ele realmente morreu?
- Sinceramente eu não sei, mas se ele estivesse bem ele já teria movido meio mundo para chegar aqui.
Tento entender sobre o que eles estão falando, será que estão falando dele? Os barulhos vão ficando altos a minha volta.
- ENFERMEIRA!
Escuto muito barulhos e várias vozes, mas tudo está ficando muito distante, sinto uma dor forte no peito, depois outra e mais outra, então não escuto nem sinto mais nada.

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- E aí cara, já passou da hora de acordar, preciso de alguém para conversar. Acredita que o Perth me chamou para morar com ele? Tô meio surtando agora queria você ou o Ohm aqui para me ajudar a decidir, eu gosto muito dele, mas acho que quatro meses é pouco tempo. O que você acha? Será que eu tento ou será que....
Mais uma vez tento me concentrar, mas não consigo ouvir mais nada.

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- Já se passaram seis meses, porque você não transfere ele para o hospital de Chiang Mai, você não pode continuar ficando aqui nesse hospital dia e noite.
- Ele vai acordar Phi, eu sei que vai. O meu menino é forte, passou por muita coisa desde que nasceu, ele só precisa do tempo dele.
Tento abrir os olhos e sinto uma dor forte, tento cobrir os olhos com a mão, mas o meu braço está pesado demais, então levanto só um pouco e deixo ele cair.
- Mãe?
A minha garganta dói, não aguento e começo a tossir, o que faz doer mais ainda.
- Filho? Meu Deus! ENFERMEIRA!
Me assusto com o grito, mas não consigo nem me encolher, a minha mãe coloca a cabeça na frente da luz e isso ajuda com a dor.
- Ah filho, eu sabia que você ia voltar, eu tinha certeza!
Ele começa a chorar.
- Está tu...
Começo a tossir de novo e a porta se abre, a enfermeira entra, mexe em alguma coisa e os barulhos diminuem, ela para ao meu lado, olho para ela que está mexendo em uma bolsa de soro, ela olha para mim e sorri, então passa a mão pelas costas da minha mãe.
- Agora vai ficar tudo bem, ele acordou como você disse que aconteceria, agora você pode descansar. Eu vou pedir para um médico vir aqui.
A enfermeira sai e vejo alguém se aproximando.
- Senta um pouco.
A minha mãe se senta e o senhor Noppharnach se aproxima.
- Tudo bem Nanon? Que bom que finalmente você está com a gente!
Eu sorrio e tento olhar para o lado.
- O...
Mais uma vez a minha garganta doi, mas eu me esforço mais.
- Ohmm?
Volto a tossir e vejo os dois se olhando. A minha mãe fica em pé e passa a mão pelo meu rosto e olha pra ele de novo.
- Nós não temos notícias dele, depois do acidente levaram ele para outro lugar, estamos tentando encontrar os pais dele, não se preocupe com isso agora, apenas tente melhorar.
A porta se abre e um médico começa a mexer em uns papéis, quando tenta se aproximar eu me assusto.
- Ele é autista.
Ele olha para a minha mãe e acena, então olha para mim.
- Me desculpe, deviam ter colocado na sua ficha. Como você está?
- Eu...
Começo a tossir de novo.
- Vamos começar com hidratação com gelo e depois com água aos poucos.
Ele começa a mexer, apertar, cutucar, toda hora perguntando se estou sentindo.
- Acho que está tudo ok, vamos fazer uma tomografia e esperar o resultado.
Ele sai da sala e a minha mãe volta a sentar do meu lado com um copo de gelo.
- Bom, eu tenho que ir, mas volto mais tarde.
- Obrigada por vir Phi.
Ele vai até a porta, me olha, sorri e da tchau.
Depois de um tempo começo a me sentir cansado e durmo. Vou dormindo e acordando, o médico falou para a minha mãe não se preocupar porque o corpo demora para voltar ao ritmo normal.

A minha mãe está limpando os meus braços quando a porta se abre, olho e é o Chimon. Ele coloca algumas sacolas na mesa, a minha mãe para de me limpar e abraça ele.
- Agora que ele acordou você não precisa mais fazer isso.
- Eu realmente não me importo tia, enquanto você não puder sair eu vou trazer o seu almoço e a sua janta.
- Você é um anjo.
Ele me olha e sorri.
- Eu vou correr pra você, então não se assusta.
Ele começa a correr e claro que me assusto quando ele se deita em cima de mim e me abraça. Fecho os olhos e tento me controlar, sinto ele saindo de cima de mim, mas não abro os olhos, ainda estou nervoso.
- Ok, desculpe, não faço mais isso, se acalma.
Eu conto até três e abro os olhos.
- E aí Fruto Proibido, senti a sua falta.
Eu sorrio e ele se senta.
- Como você está?
- Estou bem.
Ainda dói falar, então tenho que falar baixo.
- Você perdeu muita coisa, vai demorar para te atualizar.
Eu olho para ele e sorrio, então olho para a minha mãe e para ele de novo.
- Ohm?
Ele olha para a minha mãe que se aproxima.
- Eu já falei que nós ainda não temos notícias dele filho.
Ele olha para mim e acena.
Ele passa o dia contando sobre várias coisas que aconteceram no hotel. No final do dia o Perth veio buscar ele.
- Oi Nanon, que bom que acordou.
Eu sorrio. Eles ficam comigo um pouco mais, então vão embora.
Vários dias se passam, estou conseguindo me mover aos poucos, um fisioterapeuta está ajudando a minha mãe com os exercícios, porque eu ficava nervoso sempre que ele tentava me tocar.

O médico passa para me avaliar mais uma vez e diz que assim que o fisioterapeuta me liberar eu posso ir para a casa. Ele pede para a minha mãe acompanhar ele para assinar alguns papéis, ela arruma os meus travesseiros, liga a tv e sai.
Estou assistindo um desenho quando a porta se abre, eu vejo a mãe do Ohm e pela primeira vez me sinto feliz, finalmente vou ter alguma notícia.
- Oi meu querido, fiquei sabendo que você acordou, fiquei tão feliz, como você está?
- Estou bem.
- Eu trouxe uma cesta de frutas para você, isso vai ajudar você a se recuperar. Posso me aproximar?
- Claro.
Ela senta ao lado da cama e fica me olhando sorrindo.
- Soube que logo você vai ser liberado, que bom que vai poder voltar para a casa. Vai ser muito melhor para você .
- Me desculpe, mas onde o Ohm está?
Ela me olha e fica seria.
- Não te contaram querido? Ele morreu no acidente.
Sinto um apito forte que parece que vai do cérebro ao ouvido e coloco a mão
- Eu sinto muito querido, eu pensei que você soubesse disso. A morte dele foi horrível, até hoje não nos recuperamos.
- Não... Ele não... Ele...
Está errado, ele falou que cuidaria de mim, que me amaria para sempre, ela está errada, ele está bem, eu sei que está bem.
Eu fecho os olhos e me concentro nele, eu sei onde posso ficar com ele.
Sinto o seu cheiro e o cheiro do mar, me deito sobre o seu peito e ouço o seu coração, vou ficar aqui para sempre...

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