Chegamos no restaurante, o Ohm estaciona o carro na frente e entramos, só tem dois clientes agora e a minha mãe não está por aqui, deve estar na cozinha. Vou até o balcão, pego duas toucas descartáveis, dou uma para o Ohm, colocamos e vamos procurar ela.
- Mãe?
- Nanon?
Escuto a voz dela vindo do deposito, logo ela aparece na porta.
- O que você está fazendo aqui já filho? Achei que só sairiam depois do almoço.
Ela vem até mim e me abraça.
- Viemos de avião.
- O que? Você está bem?
Ela começa a olhar pelo meu corpo como se esperasse a encontrar alguma coisa errada.
- Eu estou bem mãe.
Ela sorri e me abraça de novo.
- Isso foi muito corajoso, estou orgulhosa.
Quando ela se afasta, olha atrás de mim, eu me viro para poder ver o Ohm.
- Mãe, esse é aquele que eu te falei, o Ohm.
O Ohm sorri e se curva cumprimentando.
- Muito prazer, eu sou o Ohm Pawat.
Ela fica olhando séria para ele e diz.
- Então você que andou correndo atrás do meu menino.
Ele olha pra mim e eu dou de ombros, não sei de onde ela tirou isso, ele sorri para ela mais uma vez e diz.
- Na verdade estava tentando correr do seu filho, mas eu perdi a corrida.
Ela da risada e olha pra mim.
- Gostei dele. Vamos lá para a frente. Então vocês já almoçaram?
- Já mãe.
- Querem comer ou beber alguma coisa?
- Eu vou pegar um sorvete pra mim, quer um também?
- Não precisa Non, obrigado.
Eu pego uma tigela vou até o freezer e começo a pegar várias bolas de sorvete, enquanto escuto eles conversando.
- O Nanon contou sobre o que está acontecendo, é muito sério?
- Por enquanto sim, mas nós já sabemos como resolver, só estamos esperando alguns documentos importantes ficarem prontos.
- Ele vai poder voltar a trabalhar?
- Vai sim, assim que tudo estiver resolvido, mais ou menos no meio da semana provavelmente.
Eu me sento com eles e dou uma xícara de café para o Ohm.
- Obrigado.
- Ele está indo bem no hotel?
Eu olho para a minha mãe e depois pra ele, então volto a comer.
- Está sim, ele aprende muito rápido e é muito inteligente.
- E vocês...
Eles ficam em silêncio então eu olho para ele novamente, ele aponta com a cabeça, mexe a sobrancelha, eu não entendo, será que eu me distrai e não escutei alguma coisa? Ele sorri, se aproxima e fala no meu ouvido.
- Está na hora de você me apresentar como seu namorado.
Eu sinto o rosto formigando e ele se afasta.
- Eu já contei que você é meu namorado.
- Mas contar é diferente de apresentar.
- Porque é diferente?
- Porque se torna oficial.
- Você é muito confuso.
Eu olho para a minha mãe.
- Mãe esse é o meu namorado que eu contei ontem.
Eu olho para ele que sorri.
- Adorável.
Eu fico com vergonha e volto a comer o meu sorvete.
- Desculpe eu perguntar rapaz, mas a sua família está bem com isso?
- A senhora está bem com isso?
- Sinceramente no começo eu quase trouxe ele para a casa de volta, não me entenda mal, mas a última coisa que eu imaginei é que ele ia gostar de alguém, principalmente de um homem, mas é a primeira vez que ele gosta de alguém assim e eu deixei ele ir embora para ter uma vida, eu confio que ele sabe fazer as escolhas dele. Então eu estou bem, mas saiba que se precisar eu vou trazer ele de volta.
- Eu garanto que não vai precisar.
- Agora, não pense que você me enrolou com essa pergunta e a sua família?
Ele fica quieto e eu olho para ele de novo, ele fica sério e passa a mão nos cabelos.
- Eles são contra? É porque ele é homem?
- Não senhora, na verdade isso não é novidade, eles não gostam muito, mas já sabiam. É mais complicado que isso. Não sei se o Non contou, mas eu tenho um sobrinho autista, então diferente das outras pessoas que têm uma visão geral de uma autista a minha família tem uma visão restrita, foi um dos motivos de eu te-lo levado lá para conhecerem ele. O meu pai tem essa visão de que um autista é como o meu sobrinho e a crise do Non reforçou isso, a minha mãe está preocupada com o tempo que nos conhecemos, ela acha que é muito cedo para ele saber o que quer, principalmente por nunca ter tido uma relação amorosa antes, resumindo ela acha que eu estou me aproveitando dele e da sua inocência para transformar ele em um gay.
- Meu Deus, que tipo de mãe diz uma coisa dessas?
- Está tudo bem, já ouvi coisas piores deles por ser gay.
Eu fico olhando para ele, não deve ser fácil isso, é quase a mistura de todos os problemas que ele falou que passaríamos, mas é a família dele.
- Ei, não me olha assim, está tudo bem.
Eu me aproximo dele, mas ele se afasta.
- Aqui não, Non.
- O que?
Ele olha para o lado e eu me viro, alguma pessoas estão do lado de fora com o celular nos gravando.
- Falando nisso, ele já conversou com a senhora sobre ficar no hotel? É por causa disso que eu quero ele por perto.
- Isso está acontecendo bastante?
- Está sim, mas é uma situação controlada.
- Como eu disse eu confio nele para fazer as suas escolhas, então se ele quiser ir por mim tudo bem.Nós ficamos por mais algum tempo com a minha mãe, mas com as pessoas se juntando do lado de fora eu comecei a ficar nervoso, então decidimos ir embora.
- Quantos dias vocês vai ficar na cidade?
- Dois ou três dias, a senhora não consegue fechar o restaurante um dia desses para ficar com ele no hotel?
- Eu vou fazer isso sim. Agora vem aqui.
A minha mãe abraça o Ohm forte.
- Não deixe que as coisas ruins que as pessoas te falam mudem você, eu tenho certeza que você é só luz e bondade, o meu menino só se apaixonaria por uma pessoa que fosse pura.
- Obrigado.
- Agora vão lá que eu tenho que gritar com alguns bisbilhoteiros e o Nanon não pode estar aqui.
Ela vem até mim e me abraça.
- Cuida bem dele filho, ele é especial.
Eu me afasto e concordo.
Nós despedimos e saimos, as pessoas continuam nos gravando até quando estamos no carro, o Ohm aperta a minha mão e fala.
- A sua mãe é incrível.
- Ela é sim.
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Hotel 68
FanfictionNanon está sozinho em Bangkok pela primeira vez na sua vida, uma cidade onde tudo é novo e diferente de onde ele morava, os lugares, a poluição, o barulho, as pessoas... Ele começa a trabalhar em um hotel como camareiro e vê a sua vida mudando de re...