Capítulo 17

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Eu chego no refeitório e fico na porta procurando o Chimon, mas todos se viram para me olhar, dou um passo para trás, depois outro, fico nervoso, viro e saio. Vou para a lavanderia, ligo a calandra e começo a passar as toalhas.
Quando estou dobrando as toalhas o Chimon aparece.
- Ah, que bom, você está aí! Está tudo bem?
Eu olho para ele e sorrio.
- Está tudo bem.
Ele vem para o meu lado e começa a dobrar as toalhas.
- Você comeu?
Eu nego, lembro que eu tenho que falar e não acenar para os outros, então respondo.
- Não gosto das pessoas me olhando.
- Entendi.
Ele fica em silêncio, o que não é normal, depois de um tempo fala.
- Posso perguntar uma coisa?
- Claro.
- Não se ofenda, mas você por acaso tem algum problema...
Ele coloca a mão aberta próximo da cabeça mexe para os lados. Eu fico olhando pensando no que dizer, resolvo dizer a verdade, uma hora ou outra as pessoas vão ficar sabendo.
- Eu sou autista.
- Sério?
Eu aceno.
- Mas eu achei que os autistas.... Quer dizer, eu sei que você é quieto e não gosta de lugares cheios, mas fora isso você é normal.
- É porque ele é normal.
Nós dois nos assustamos e olhamos para o Ohm que está na porta. Ele vem até mim, segura o meu rosto e me beija.
- Você está bem?
Eu aceno, ele se afasta e olha para o Chimon.
- Obrigado por me chamar.
- De boa, mas cara, você tem que saber, as pessoas filmaram o que aconteceu, está por toda a internet, o cara gritando com o Nanon, a reação dele, você batendo no cara, abraçando o Nanon, o seu... Sério que você é filho do dono? Tipo, você é dono do hotel?
- Desculpe por não ter contado, mas seria estranho se as pessoas não me vissem como outro funcionário qualquer.
- Entendi, mas eu avisei sobre você disfarçar melhor, você se expôs completamente e expôs ele também. Sem contar que se eu percebi, provavelmente os outros vão perceber que ele é...
Ele me olha como se estivesse com vergonha de continuar.
- Tudo bem, eu falei que cuidava dele e vou cuidar.
- Bom, sabe que eu estou do seu lado, mas se vai cuidar dele é melhor começar arrumando alguma coisa pra ele comer, ele não almoçou.
O Ohm olha para mim sério e eu explico.
- As pessoas ficaram me olhando.
- Entendi. Eu já volto.
Ele me beija, tira alguns chocolates do bolso, coloca na minha mão e sai. Eu dou alguns para o Chimon e nós voltamos a dobrar as toalhas.
- Ele não deixa as pessoas te tocarem por causa do seu problema?
- Sim.
- mas você deixa ele te tocar.
- É diferente com ele, desde o começo, não sei porque.
- Se eu tentar te tocar vai ser ruim?
- Provavelmente.
- Igual ao que aconteceu mais cedo?
- Depende, as vezes eu só me assusto.
- Já aconteceu alguma vez com o Ohm?
- Sim, mas eu não sabia que era ele.
- Mas ele consegue te acalmar como fez hoje?
- Sim.
- Se ele não estiver por perto?
- Não sei, eu nunca tinha ficado em um lugar estranho, com vários estranhos, tudo que está acontecendo é novo, então não sei como vai ser.
- Se você estiver só comigo o que eu posso fazer para ajudar?
Eu fico pensando e digo.
- Não deixa ninguém me tocar, as pessoas pensam que podem tentar acalmar um autista em crise, mas é pior.
- Entendi. Mais alguém sabia sobre isso?
- O senhor Noppharnach.
- O P'Aof? Ah, ele é da sua cidade.
Ele fica em silêncio mais um pouco e começa de novo.
- Você entende o problema que se meteu?
- Como assim?
- Vocês dois...
- Chimon!
Nós nos assustamos novamente e viramos para ele.
- Isso é um problema meu, não precisa se preocupar com isso.
- Foi mal cara.
Eu olho para eles tentando entender.
- O que é um problema?
- Não é nada, não se preocupe.
- Ohm, ou eu sou um adulto ou não sou lembra?
Ele passa a mão pelos cabelos e suspira.
- Mais tarde eu te explico, tudo bem assim?
Eu concordo e ele me dá um pote de macarrão.
- Come isso por enquanto, a noite você come lá no meu apartamento.
Eu sorrio e ele toca o meu rosto.
- Eu tenho que ir, o VIP já chegou. Não sai de perto do Chimon e me espera para ir embora.
- Tudo bem.
Ele me beija mais uma vez e sai.
- Desde quando vocês estão namorando?
- Não estamos.
O Chimon me olha sem entender.
- E todas essas sessões de amassos?
Agora eu que estou sem entender.
- Esses beijos todos.
- Não sei, ele começou com isso hoje.
- E tudo bem pra você?
- Eu gosto.
- Vocês dois são estranhos. Vai lá comer que eu vou arrumar os lençóis pra gente passar.
Várias pessoas vieram na parte da tarde, o Chimon pediu pra eu ficar sempre perto da mesa onde as pessoas não conseguem me ver da porta.
Quando o turno acaba o Ohm me manda uma mensagem avisando que já vai descer para me encontrar no vestiário. Nos limpamos a lavanderia e saímos, pegamos as nossas bolsas e vamos para o vestiário.
Eu sento no banco e o Chimon fica me olhando.
- Não vai tomar banho?
- Vou esperar o Ohm primeiro.
- Tudo bem, eu vou tomar banho, qualquer coisa me chama.
Eu aceno e ele começa a tirar a camisa, então eu olho para o lado. O Ohm entra e olha para o Chimon irritado.
- O que?
Ele não fala nada e se aproxima.
- Quer só se trocar e tomar banho no meu apartamento?
- Pode ser.
- Então se arruma.
Eu pego a minha bolsa e entro em uma cabine. Quando eu saio ele já se trocou, eu sorrio e ele se aproxima, quando chega perto a porta abre e ele se afasta. Aquele rapaz do olhar maldoso entra com um outro que o Chimon chama de suricate porque tem um pescoço longo, mas não é alto.
- E aí chefe!
O Ohm olha para ele sem dizer nada, mas ele levanta as mãos.
- Tudo bem, você tem que aprender a levar as coisas na esportiva Ohm.
Ele coloca a bolsa dele no banco e começa tirar a roupa, eu olho para o Ohm e foco nele.
- Chimon já estamos indo.
- Falo cara, qualquer coisa me liga.
- Valeu.
Ele acena com a cabeça, eu ando para a porta e ele vem atrás.
Chegamos na moto e ele coloca o capacete em mim passa a mão no meu rosto e me beija.
- Quer fazer o jantar e dormir no meu apartamento hoje?
Eu aceno e sorrio e aceno de novo.
- Não sorri assim, nos só vamos dormir, não vamos fazer mais nada.
Eu fico olhando tentando entender, ele sorri e me beija de novo.
- Você é adorável!

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