Capítulo 18

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Quando estou subindo na moto eu me lembro.
- Eu preciso passar no meu quarto.
Ele se vira um pouco para poder me olhar.
- Precisa de alguma coisa de lá?
- Os meus remédios.
- Tudo bem, nos passamos lá antes.

Chegamos no meu quarto e eu abro a porta uma, duas, três vezes, ligo a luz uma, duas, três vezes e entro, ele fica esperando na porta. Eu pego os meus remédios e coloco na bolsa. Olho para ele e pergunto.
- Preciso levar mais alguma coisa?
- Roupa se você quiser, mas você também pode usar uma roupa minha.
- Posso levar roupa para ir trabalhar amanhã e usar uma sua para dormir?
- Claro.
Eu pego as roupas e coloco na bolsa, vou até ele e sorrio, ele se aproxima e me beija.
- Está pronto?
Eu aceno e ele se afasta, eu fecho a porta uma, duas, três vezes. Nós começamos a caminhar e ele pergunta.
- É uma compulsão que você tem? Essa coisa de repetir as coisas três vezes?
Eu aceno.
- Mas não é frequente.
- Os remédios ajudam com a compulsão e as esteriotipias.
- Desculpe, eu não conheço o termo.
- Aquilo de balançar para frente e para trás.
- Entendi.
- Sem os remédios então fica pior?
Eu concordo.
- Você só toma eles a noite?
- Duas vezes no dia, antes de ir trabalhar e a noite.
- E acompanhamento clínico?
- Eu acompanho só com um neurologista agora.
- E como você vai fazer para se consultar?
- Eu ainda não sei.
- Você quer tentar encontrar um médico aqui ou prefere ir até a sua cidade?
- Eu queria continuar com o meu médico, mas vai ser difícil.
- Eu te levo.
- Não precisa.
Ele para, se vira para mim.
- Eu te levo, ok.
Eu aceno, mas acho melhor tentar encontrar um médico por aqui, não quero ficar dando trabalho para ele.
- Quer passar no mercado para comprar alguma coisa para o jantar?
- Não precisa, eu faço o que tiver lá.
- Tudo bem, vamos então?

Chegamos no apartamento dele, ele me dá uma roupa e toalhas e me mostra onde fica o banheiro, depois que eu tomo banho eu vou para a cozinha, enquanto ele toma banho também. Ele sai do banho, vem até mim e me dá um beijo no rosto.
- O cheiro está bom.
Eu sorrio e ele senta no balcão.
- Eu sempre vou cedo para a academia, você vai bem sozinho ou prefere que eu fique pra ir com você.
- Eu vou sozinho.
- Tudo bem, eu vou deixar a minha chave...
Eu estou olhando para ele quando vejo uma gota de água caindo do seu cabelo, percebi agora que ele não se seca direito depois do banho, vou seguindo o caminho da gota até ela sumir na sua calça.
- Non?
- Oi?
Eu olho para ele que está me encarando.
- O que você está fazendo?
- Como assim?
- Agora, o que você estava fazendo?
- Olhando uma gota de água, ela caiu aqui e começou a descer.
Eu toco no seu ombro e mostro o caminho que a gota fez, quando chego na sua barriga ele segura a minha mão muito rápido e eu me assusto, eu o olho e ele levanta a minha mão e beija o meu dedo.
- Por favor, não faz mais isso.
Ele sai do balcão, vai até o armário e pega uma camiseta e veste.

Quando o jantar está pronto ele pega os pratos de novo e leva para a mesa de centro, come a primeira colher e geme.
- Isso é maravilhoso, você já pensou em trabalhar na cozinha do hotel?
- Muita gente.
- É verdade. Você conversou com a sua mãe sobre começar a estudar?
- Ela disse que seria difícil para eu frequentar uma universidade, mas se eu achar que consigo ela me apoia.
- E você acha que consegue?
- Não tenho certeza. Você estuda?
- Já me formei.
- O que você fez?
- Administração e hotelaria, tirei duplo certificado.
- Por causa do hotel?
- Sim.
Eu aceno e volto a comer.
- Você pode fazer gastronomia.
- Você acha que eu consigo?
- Eu acho que você pode fazer qualquer coisa.
Eu sorrio e voltamos a comer em silêncio.

Depois do jantar nos escovamos os dentes, eu vou pegar um copo de água para tomar os meus remédios.
Enquanto eu vou para a cama ele vai apagar as luzes, fica só a luz de uma luminária ao lado da cama ligados.
Ele vem andando na minha direção e falando.
- Deita.
Eu olho para a cama e me deito, ele senta ao meu lado e me cobre, então se deita e fica me olhando. Eu me aproximo e ele prende a respiração.
- Non, eu avisei que nós só vamos dormir.
- Posso perguntar uma coisa?
- Pode.
- Você gosta de mim?
- Gosto.
- O Chimon perguntou se nós estamos namorando.
- E o que você respondeu?
- Que não estamos.
- Então da próxima vez você pode dizer que estamos.
- Nos estamos?
- Só se você quiser.
Eu olho para ele sem acreditar e começo a sorrir. Ele se aproxima do meu rosto e eu me sento, levanto correndo e saio da cama, vou até a minha bolsa e pego o meu bloquinho, começo a escrever rápido.

Ele gosta de mim

Estamos namorando

Eu gosto dele

Estamos namorando

Estou feliz

Ele se aproxima e olha pelo meu ombro.
- Porque você faz isso?
Eu guardo o bloquinho, viro para ele e fico pensando em como explicar.
- O meu pai morreu quando eu tinha dezesseis anos, eu fiquei um período sem conseguir falar, o meu terapeuta me ensinou isso, ele pedia para eu escrever o que estou pensando ou sentindo. Com o tempo virou um hábito.
- Mas você não faz o tempo todo.
- Ele diz que é um jeito que eu encontrei de adaptar o tratamento a minha realidade, de lidar com situações que causem estresse.
- Entendi, então quer dizer que você gosta de mim e está feliz?
Eu sorrio e aceno, ele toca o meu rosto, passa o dedo na minha boca.
- Eu também gosto de você e estou feliz.
Ele desliza a mão do meu rosto para a minha nuca e me puxa. Ele me beija, o beijo de sorvete com tudo que eu tenho direito, esse é o meu preferido, apesar de gostar de todos. Eu me sinto meio tonto e seguro na sua cintura, ele me segura e me deita na cama e deita em cima de mim. Começa a beijar o meu pescoço, vai até embaixo e depois beija do outro lado, sinto a mão dele na minha barriga e subindo por baixo da minha camisa. Então volta a me beijar, aquela sensação estranha lá embaixo está cada vez mais forte e incomodando eu tento me mexer para ver se melhora e encosto nele sem querer. Ele para de me beijar e olha pra baixo.
- Droga!
Ele encosta a testa na minha, me dá um beijo e se deita do meu lado.
- O que você faz quando isso acontece?
- Isso o que?
Ele olha para baixo e eu olho também, o meu pênis está grande, eu fico com vergonha.
- Isso só acontece quando eu acordo.
- Você nunca teve uma ereção?
Eu sinto o meu rosto formigando e nego.
- Nunca se masturbou?
Eu fecho os olhos e nego.
- Meu Deus, eu realmente vou para o inferno! Venha aqui, vamos dormir de uma vez.

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