Vou procurando pela rua tentando encontrar o número que está escrito no papel que me deram, cheguei em Bangkok há apenas dois dias e me sinto muito perdido aqui, com certeza é muito diferente de onde eu vim e muito mais barulhento também. Olho para cima tentando ver o número do prédio e alguém bate em mim, automaticamente eu me curvo e peço desculpa, mas nem sei quem foi, a pessoa não se deu o trabalho de me olhar. Povo estranho... Tento pedir informações para umas três pessoas, mas ninguém para pra me ajudar.
Continuo andando, olho para todos os lados, mas nada por aqui parece um hotel. Escuto a buzina de um carro e me assusto, viro e me curvo pedindo desculpa, mas o motorista só faz um sinal impaciente para eu passar.
Chego na esquina e percebo que passei do número, volto e paro na frente de um prédio, não sei o que eu esperava, mas não era isso. Sempre achei que os hotéis de cidade grande fossem enormes e com vidros espelhados, ou parecidos com palácios, mas esse é um prédio comum, inclusive tem algumas lojas na entrada, acho que por isso nem prestei atenção quando passei por ele.
Olho mais uma vez para cima, além do número 68 bem grande não tem mais nada que indique que esse é o lugar. Dou alguns passos para atrás e vejo uma placa não muito grande, é aqui mesmo.
Respiro fundo, arrumo a camisa para dentro da calça e passo a mão no cabelo.
- É isso, você consegue Nanon.
Ando pela entrada e vou para a recepção, tem algumas mulheres muito bonitas ali atendendo. Me aproximo e espero elas me chamarem.
- Bom dia senhor!
Olho para os lados e só tem eu aqui, aponto para o meu próprio peito perguntando se é comigo e ela sorri quase com pena. Vou até o balcão e tento sorrir pra ela também.
- Bom dia! Eu estou procurando o senhor - pego o papel e leio o nome - Noppharnach Chaiyahwimhon.
- Claro, a quem devo anunciar?
- Korapat Kirdpan.
- Ele está aguardando?
- Hmmm, acredito que sim.
- Só um momento, por favor.
Eu dou um passo para trás, enquanto ela pega o telefone e aperta um único botão.
- Bom dia Aof, tem um rapaz aqui na recepção te procurando, o nome dele é...
Ela levanta a cabeça, me olha e levanta a sobrancelha.
- Nanon! Quer dizer, Korapat Kirdpan.
- Korapat Kirdpan. Tudo bem, vou pedir para ele aguardar.
Ela desliga, olha para mim e da um sorriso profissional.
- Ele pediu para você aguardar que ele já vem para te receber, pode ficar a vontade no nosso lobby.
Ela aponta e sei que estou sendo dispensado, me curvo, agradeço e saio. Vou até um sofá no canto e me sento, tento chamar o mínimo de atenção possível, nunca gostei das pessoas me olhando.
Passado cinco minutos um homem baixinho de uns trinta e tantos, talvez quarenta e poucos anos se aproxima sorrindo.
- Nanon?
Eu levanto, me curvo e tento sorrir mais uma vez.
- Sou eu, muito prazer e obrigado por me receber.
- Não seja tão formal menino, nós somos praticamente parantes, pelo menos saímos do mesmo buraco.
Ele ri e eu não sei o que responder. Ele é um amigo de infância da minha mãe, depois que o meu pai morreu, somos apenas eu e ela. Depois que terminei o ensino médio fiquei alguns anos em casa, ajudei ela no seu restaurante, mas as coisas não andam bem pra ninguém, então não estava dando para pagar as contas, muito menos para sobrar dinheiro. Um dia esse amigo dela se ofereceu para me conseguir uma vaga no hotel em que ele é gerente, depois de conversarmos decidi aceitar e agora estou aqui.
- Tudo bem, vamos com calma, não quero te assustar. Vem comigo eu vou te mostrar o hotel. Já trabalhou antes?
- Só no restaurante com a minha mãe.
- Então você já tem experiência com atendimento ao público, isso é bom, vai precisar disso para lidar com os hóspedes. Já sabe o que vai fazer?
- A minha mãe disse que era para ser camareiro.
- Você sabe o que um camareiro faz?
- Hmm, arruma os quartos?
- Também, mas tem outras coisas, eu vou conseguir alguém para te ajudar e te ensinar tudo o que você precisa saber, mas primeiro vamos tirar essa roupa, você não pode andar pelo ambiente interno sem o seu uniforme.
Andamos por vários corredores, eu tento prestar atenção pelo caminho, mas tenho certeza que vou me perder aqui. Ele vai até o final de um corredor e abre uma porta daquelas de vai e vem que são em pares, segura, eu entro e ele entra atrás.
Ele vai até uma mulher que tem uma cara de brava, ela olha pra mim de cima a baixo, me curvo e a cumprimento, ela se vira e mexe em uma prateleira cheia de roupas, pega um pacote e dá pra ele.
Ele vem até onde eu estou e me dá o pacote e saímos. Andamos alguns metros e entramos em um corredor.
- Aqui fica o vestiário masculino, você pode se trocar.
Ele senta em um banco e fica me olhando, olho para as roupas e para ele, que ri e aponta.
- Usa as cabines dos chuveiros se tiver vergonha, elas têm cortinas.
- Obrigado.
Entro na cabine e fecho a cortina e vejo que tem no pacote, é uma calça, uma camisa, meias sociais, uma faixa dessas de smokings e um par de sapatos, olho a numeração e é 44, fico impressionado por ela conseguir ver o meu tamanho só olhando de longe.
Enquanto me visto escuto o senhor Noppharnach conversando com alguém, algo sobre treino de academia, parece que a pessoa que chegou está treinando na academia do hotel.
Termino de me vestir e saio, ainda tentando ajustar a faixa.
- Nanon, que bom que você já terminou, quero que você conheça uma pessoa, esse é o Pawat, ele vai ficar com você até você se ajustar, vai ensinar tudo o que você precisa.
Levanto a cabeça e olho para o rapaz na frente dele e minha nossa, ele é lindo!
Ele me olha sério e joga uma toalha no ombro, se aproxima e estende a mão, eu olho para a sua mão grande e subo olhando os braços até chegar no seu rosto, então ele sorri, não sei como é possível, mas ele ficou mais lindo ainda.
- Muito prazer.
- Ahnnn... Prazer Phi!
Eu aperto a sua mão meio sem jeito e ele dá risada.
- Sem essa de phi, pode me chamar de Ohm, é como todos me chamam. Você é o Nanon então?
- Isso, Nanon, Korapat Kirdpan, ou só Nanon.
- Ok, só Nanon.
Ele olha para a minha mão, que ainda está segurando a dele e eu solto rápido.
- Tudo bem rapazes, eu tenho um milhão de coisas para fazer, Nanon depois o Pawat mostra onde fica a minha sala, se precisar de qualquer coisa pode me procurar. Pawat cuida bem dele, se acontecer alguma coisa a mãe dele me mata.
- Pode deixar Phi, prometo que eu vou cuidar dele.
Ele sai e nos deixa sozinhos. Olho para o Pawat... Ohm... olho para ele mais uma vez e ele sorri, da dois passos na minha direção ficando só a alguns centímetros de mim.
Ele olha nos meus olhos e eu não consigo desviar o olhar. Sinto as mãos dele tocando a cintura, ele dá mais um passo, eu consigo sentir a sua respiração na minha cara e o seu cheiro, suor e algo parecido com... Chocolate talvez?
Ele desliza as mãos lentamente para trás, aproxima o seu rosto meu, quando o seu nariz toca o meu ele desvia e olha pelo meu ombro, enquanto mexe na minha faixa e fala no meu ouvido.
- Acho que a primeira coisa que eu vou ter que te ensinar é como se vestir... Nanon.
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Hotel 68
Hayran KurguNanon está sozinho em Bangkok pela primeira vez na sua vida, uma cidade onde tudo é novo e diferente de onde ele morava, os lugares, a poluição, o barulho, as pessoas... Ele começa a trabalhar em um hotel como camareiro e vê a sua vida mudando de re...