6. IBMAL

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Diferente das histórias de terror que conheciam, a porta não rangeu ao abrir. O silêncio, por outro lado, era ainda mais assustador.

Quando Andy ameaçou pegar a lanterna, Sam o impediu, segurando em seu punho. Mesmo se quisesse, não discutiria com ela. Ele prometeu.

– Vamos achar os remédios e dar o fora daqui, sem enrolação – Sam ordenou, em voz tão baixa que Andy esforçou-se para ouvi-la. Perceberam que o som reverberava nas altas paredes, por mais baixo que fosse. – Se dermos sorte, conseguimos chegar em Pedra Branca antes do sol nascer.

O garoto concordou com a cabeça.

Quando Samira ergueu a luz da lanterna do chão, perceberam estar em um hall amplo e alto. O piso frio estava rachado e rangia sob seus passos. Em frente a eles, um extenso balcão parecia ter sido, um dia, a recepção. Logo à esquerda deles, diversas cadeiras estavam dispostas lado a lado, viradas para guichês. À direita, mesas e mais mesas, computadores jogados, pratos largados com guardanapos usados cheios de pó.

Sam apontou a luz para o fundo do hall.

– Ali – murmurou.

Os irmãos vislumbraram as escadas que levavam tanto para os andares superiores quanto para o subsolo. Aproximaram-se, a passos cautelosos, e encontraram placas completamente encobertas por poeira. Andy tapou nariz e boca com uma das mãos e, com a outra, limpou uma delas. Apontando para cima, lia-se:


Laboratórios de manipulação

Laboratórios de pesquisa

Distribuição de medicação


Andy e Sam se entreolharam. Dessa vez, Andy foi na frente.


A poeira entrava na frente da luz da lanterna, tão carregada que quase os impossibilitava de olhar adiante. Andy chegou primeiro no andar de cima e esperou Samira, que apontou a luz para um corredor extenso e largo, cheio de portas fechadas. A mulher ultrapassou o irmão e, ansiosa, jogou-se no corredor.

– Espera, Sam!

Ela escutou Andy, mas não lhe deu ouvidos.

– Meu Deus...

Samira atravessou o corredor a passos largos, apontando a lanterna para as paredes e percebendo que eram feitas de vidro. De lá, conseguia vislumbrar os laboratórios onde, um dia, as mais renomadas pesquisas eram feitas. De lá, surgiram vacinas, medicamentos, antibactericidas que salvaram a humanidade mais de uma vez. Não sabiam eles, entretanto, que não seriam destruídos por aquilo que tanto estudavam. A ameaça estava mais perto.

Ela tentou abrir uma das portas. Trancada.

Sam trocou a arma por uma faca.

– Me ajude aqui – pediu.

O irmão correu até ela e tomou a lanterna estendida de suas mãos. Iluminou onde ela apontava – uma fechadura na porta. Sam olhou em volta antes de colocar a ponta da faca na abertura.

– Sami – Andy a chamou, ingenuamente –, sabe que tem jeitos muito mais fáceis de entrar aí, né?

– Quebrando o vidro? Atirando na fechadura? Arrombando a porta? – Ofegante de tão concentrada, Samira não desviou os olhos do trabalho que fazia. Se Jon foi útil alguma vez em sua vida, ela diria que foi essa. Aprendeu aquela e outras malandragens com ele. Só conseguiu colocá-la em prática uma vez. – Isso é botar um alvo nas nossas cabeças.

Andy olhou em volta, assustado pela escuridão que não o deixava ver nada que não estivesse ao alcance da lanterna tacanha que carregava.

– Achei que estivéssemos sozinhos.

Olhos de CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora