– Quero que me prometa – Andy inclinou-se sobre Benji, o suficiente para ficarem cara a cara. Com uma das mãos, segurou seu ombro. A outra estava mantendo Laila em seu colo, agarrada nele como um bicho-preguiça – que não vai sair do meu lado e vai fazer o que eu mandar, independente do que seja, sem questionar, está ouvindo?
Benji concordou, agora com o pânico começando a instaurar-se no peito. Tinha os olhos arregalados e só de pensar que, a partir dali, estaria sendo caçado como um animal, teve vontade de chorar.
Mas, não o fez.
Apenas concordou com o irmão mais velho.
Não conseguia deixar de pensar, com certa amargura indecifrável, que Andy agora lembrava tanto Samira. Não gostava de pensar que ela era substituível de alguma forma. Entretanto, talvez Andy se sentisse no comando, agora que ela estava longe. No dever de proteger Benji a qualquer custo.
O menino não gostava da sensação, porque o fazia sentir que Samira era agora só uma ideia que não voltaria.
O que não era verdade.
Benji botou na cabeça que enfrentaria a cidade inteira para encontrar Samira do outro lado, orgulhosa, e ela o levaria para casa, fosse onde fosse.
Os sobreviventes, ao ouvirem as ordens de David pelo rádio que ele deixou com Raquel, botaram-se a andar outra vez. Com o mínimo para continuar, armados como podiam, mantinham a cabeça erguida e os medos camuflados.
Anika e Ishan, os filhos de Trisha, grudaram em Benji, que grudou em Andy, que tentava acalmar Laila e fazê-la andar com os próprios pés quando ela só queria colo e segurança. E eram todos, para todos os fins, apenas crianças.
– Laila – Benji interviu, áspero, quando viu que as palavras calmas de Andy não estavam resultando. Ele passou pelo irmão mais velho e inclinou-se sobre Laila, segurando-a pelos ombros. A menina chorava, pela primeira vez em tempos –, vamos encontrar o Eric.
E a Sami.
Laila não conseguia falar, engasgada com os próprios soluços.
– Eu e-estou com m-medo – ela balbuciou.
Benji olhou por cima dos ombros, para o irmão mais velho que o fitava e encorajava a continuar.
– Não tem que ter – o menino mentiu. – É só segurar na minha mão e deixar que a gente leva você.
Laila olhou para Andy, que concordou.
– Deixa os adultos cuidarem disso – Benji continuou. – Os grandes não vão deixar os homens maus fazerem nada. É só um jogo, ok? E nós vamos ganhar.
Andy olhava de Benji para Laila. Sentia orgulho de ver como ele crescera, o quão inteligente era. O quão bem mentia.
Mas Laila, em sua cabecinha confusa, só conseguia pensar nos monstros de olhos negros que se pareciam com eles, mas não eram, e em como eles machucaram Eric e Samira, dois adultos, tão fortes, e ela era só uma menina.
E mesmo assim ela concordou, porque era uma menina corajosa.
Benji estendeu a mão para ela. Ela agarrou. E eles seguiram a maré do seu próprio povo.
Minutos depois, estavam em lugares que Benji só vira por livros. E quando as ruas da cidade dos Corvos ganharam vida, ele puxou Laila para perto, e sentiu a mão de Andy em seu ombro. Fechou os olhos, com medo de ser morto por causa deles, e pensou em Samira. Quando abriu-os para a cidade escura e caótica, ele correu.
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Foram segundos, apenas, entre Louis e Jon pularem de volta para o lado de fora e eles ouvirem – e sentirem – a ensurdecedora explosão da hidrelétrica vindo pelos ares.
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Olhos de Corvo
AçãoDas cenas que sua mente não bloqueou, cuja memória Samira guarda com carinho, entram as íris caramelo de seu pai na última vez em que ele a olhou no olho. Daquele dia em diante, aprendeu a preciosidade daquele gesto, o olho no olho, íris na íris. Fo...