16. Chiado

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– Talvez... se formos para Ponta Porosa? – Trisha divagou, estudando o mapa que trouxera em uma de suas idas à cidade, agora estendido sobre a mesa, entre os seis. Foi ali mesmo, em Pedra Branca, na escola em que os filhos estudavam, que encontrou o mapa de sua zona agrafado na parede de cortiça de uma sala de cartografia. – Me parece uma boa.

– Não é uma má ideia, só é uma ideia óbvia – Miho discutiu, arrancando as cutículas dos dedos com os dentes, um hábito que há muito desistiu de deixar. Não tirou os olhos do mapa, mesmo quando Trisha o fuzilou. – É melhor ficar mesmo aqui do que ir para Ponta Porosa. Se vamos nos arriscar a sair do abrigo com quase duas centenas de pessoas, tem que valer a pena.

– E por que não vale? – a mulher debateu.

– Ponta Porosa não nos dá nenhuma vantagem em relação a eles.

– É isso que estamos procurando? Vantagem? Achei que estávamos procurando segurança.

Raquel deixou que os dois discutissem, estudando o mapa com afinco e pouco ouvindo o que tinham a dizer. Esperava que aquelas ideias jogadas chegassem a algum lugar.

Parecia uma sinuca de bico. Nenhum lugar para ir. Estavam cercados por todos os lados. Havia lugares para explorar, mas não tinham tempo para isso, e não o arriscariam fazer com todos os sobreviventes no encalço. As paredes pareciam se fechar sobre ela. Aquilo não estava dando em lugar nenhum, e Zoe preenchia uma folha cheia de rabiscos e setas inconclusivas.

Batidas desesperadas na porta os fizeram se sobressaltar. Os seis pararam imediatamente. E se entreolharam.

Nunca, em todo o tempo em que estiveram ali, enfurnados naquela saleta a discutir decisões importantes, alguém batera à porta. Muito menos com aquela agressividade. Estavam todos lívidos.

Bateram outra vez, mais forte, três batidas de mãos fechadas que chacoalharam a estrutura do batente.

Abram a porta! – a voz de Benji gritou do outro lado, abafada, um tanto esganiçada e cheia de desespero.

– Ben? – Andy perguntou, mais para ele do que para que os outros o ouvissem. Ele atravessou a sala, finalmente saindo de seu transe.

Abram! – o menino gritava do outro lado.

Andy acelerou o passo e, um segundo depois, estava com as mãos na fechadura. Quando girou a chave, Ben empurrou-a e entrou, o coração saindo pela boca, o rosto suado de quem descera as escadas correndo.

– O que faz aqui, garoto? – Jon o repreendeu. – Estamos no meio de...

– Cale a boca! – o menino gritou.

Jon enfureceu-se com a audácia.

– O que-

– Só... cale a boca! Ouça! – Benji apressou-se a corrigir-se. Colocou o rádio na mesa, entre eles, e Andy fechou a porta.

A luz vermelha estava acesa. O chiado voltara.

Os seis – sete – olhavam para o pequeno rádio com desconfiança, como se este pudesse explodir a qualquer momento.

– Onde encontrou isso, Ben? – Zoe o fitou, tirando as palavras da boca da mãe, que estudava o material, congelada.

– Ouça – Benji pediu outra vez, choroso, a voz escapando como um soluço, as lágrimas tornando aos olhos confusos.

Eles obedeceram. O silêncio atravessou a sala, deixando espaço apenas para o chiado que vinha daquele rádio. Por longos segundos, nada aconteceu, e Ben teve medo de que não acreditassem nele. Teve medo, ainda mais, de que tivesse ouvido coisas.

Olhos de CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora