Tomas Steve era mais pesado do que Andy, mesmo com o esforço que ele fazia para ajudar Samira a carregá-lo e não ficar para trás.
Estava confuso. Palavras voavam, e ele tentava conectá-las, mas tudo o que entendia era que tinham uma última chance. Não entendia qual era, mas estava agarrado a ela. Agarrado a Samira, que não o deixou para trás. E todo o resto era encoberto pela dor excruciante na perna.
Sua única anestesia era acreditar que sua família zarpou com o cruzeiro.
Se tivessem conseguido, teria valido a pena, e ele morreria em paz.
A metralhadora de Eric contrapôs-se à rajada de balas que periodicamente descia sobre eles. A arma nas mãos de Andy fazia o mesmo, e eles ganharam um valioso tempo. Eram a única resistência em uma multidão de pacatos que desistira.
Mas, eles não o fizeram.
Estavam cada vez mais próximos da cabine que Andy apontou. Dentro de segundos, vislumbrariam novas esperanças.
Eric alcançou-a primeiro. Chutou a porta e a derrubou no chão, as dobradiças já frágeis pela maresia. Colocou-os para dentro.
Empurrou Benji, depois Andy, e alcançou Tom para ajudar Samira a sair de qualquer possível linha de fogo.
– Ben, me ajude aqui! – Andy bradou, e alcançou a porta no chão. O irmão mais novo, fazendo-se útil, ajudou-o a levantar a porta. Assim que fizeram, Samira largou Tom e empurrou uma cômoda para frente da porta agora no lugar. Eric pôs-se a ajudá-la.
E estavam dentro, enfim, da cabine que cheirava à esperança.
Na verdade, a cabine cheirava a mofo. Estava tão próxima da encosta que tudo ali devia sofrer com a umidade.
Era um espaço pequeno, de dois andares, e seus olhos gradualmente se acostumaram à escuridão. Viram uma escrivaninha, papéis, alguns bancos como os de uma sala de espera, computadores antiquíssimos.
– O que estamos procurando? – Andy indagou.
Samira balançou a cabeça vendo que ele olhava para ela.
– Qualquer coisa que flutue – ela falou, baixo, percebendo o quanto a frase soava infantil.
– Vou olhar o andar de cima – o irmão respondeu, aceitando a resposta.
– Vou com você! – Benji gritou, e Samira quis repreendê-los, mas estavam sem tempo, Andy tinha uma arma, e o andar de cima devia ser mais seguro que o de baixo, àquela altura.
– Fiquem longe das janelas! – gritou, mas eles desapareceram escadas acima antes de ouvirem-na.
Eric estava analisando a perna de Tom, que tornara ao chão. O Corvo estava branco como papel.
Ela ajeitou os cabelos atrás das orelhas e pôs-se a procurar.
Daria tudo por uma lanterna, mas já não sabia em que momento largara a mochila para trás.
Seu erro crasso foi achar que não precisaria mais dela, e que estariam em segurança assim que subissem no barco.
Não pensou que ela poderia ser abandonada para morrer em Luso.
De repente, sentiu raiva. Continuou procurando, tateando no escuro, sem saber o que queria encontrar, mas sentiu a mais pura cólera. Não estava pensando. Era uma raiva irracional de ter sido esquecida. Era uma raiva egoísta.
– Sam! – Eric chamou, e ela dispersou-se de seus pensamentos para olhá-lo.
Eric apontava para o fundo da sala. Quando os raios atravessavam os céus, eles conseguiam ver o que lhes cairia como luvas: coletes salva-vidas.
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Olhos de Corvo
ActionDas cenas que sua mente não bloqueou, cuja memória Samira guarda com carinho, entram as íris caramelo de seu pai na última vez em que ele a olhou no olho. Daquele dia em diante, aprendeu a preciosidade daquele gesto, o olho no olho, íris na íris. Fo...