42. Vinte e Cinco de Dezembro

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Tomas Steve olhou o relógio no punho. Oito e sete da noite. Vinte e quatro de dezembro de 2023.

Estava frio naquela noite, mesmo que não costumasse fazer frio em Luso no Natal. Era como se os céus soubessem o que estava prestes a acontecer. O que ele e sua esposa, agarrada em seu braço, deslumbrantemente confiante, estavam prestes a fazer.

Debby soltou os cabelos e uma franja loira caiu sobre seus olhos, um traço da juventude que ela não queria e não iria abrir mão. Tomas apaixonou-se por ela assim, com os cabelos loiros escorridos e a franja cobrindo lindos olhos negros, quase dez anos antes. Um amor de juventude que perdurou, criou raízes e galhos.

– Vamos, querido – ela escorregou a mão para o bolso do paletó dele e colocou algo ali. Tom sentiu o leve peso acomodar-se no forro –, vamos fazer isso.

Debby e Tom adentraram outra vez o saguão da prefeitura, excessivamente majestoso, com um pé direito gigantesco e um vento cortante que entrava pelas portas da rua e divertia-se com a vastidão daquele espaço vazio.

O único ali era, como Tom sabia e Samira confirmara, Eduardo.

Eduardo era praticamente um garoto. Tinha vinte e quatro anos nas costas – eles fizeram bem a lição de casa – e não tinha família na cidade. Era um aventureiro que se mudara para Luso há pouco mais de oito meses e tentava estabelecer-se em um bom trabalho. O de recepcionista da prefeitura foi o que melhor lhe coube. Então, quando pediram a Eduardo para fazer o turno mais longo naquela véspera de Natal, com a promessa de ser pago em dobro pela noite, ele concordou. Não que tivesse o que fazer quando chegasse em casa, de qualquer forma.

Eduardo abriu um sorriso de orelha a orelha quando viu Tom e Debby se aproximando, como se não estivesse preso ali naquela data festiva.

– Meu Deus, Debby, oi! – Ele riu, e deu a volta no balcão, os braços abertos para envolvê-la. – Você está fantástica! Não te vejo há tanto tempo...

Debby sorriu, aquele sorriso meigo e tacanho que encantava qualquer um. Ela apoiou a cabeça no ombro de Tom.

– Eu andei meio afastada mesmo... sinto muito por isso.

– Não, meu Deus, não se desculpe, eu... Eu sinto muito pelo que passaram. Espero que Tom tenha passado meus sentimentos.

Tom concordou com a cabeça. Debby também. Não, ele não passou sentimento nenhum.

– Nós vamos tentar de novo quando... quando as coisas se acertarem, sabe? – Debby balançou a cabeça, confiante, atuando feito a mulher enlutada que perdeu uma filha, mas que estava reerguida como se a queda não fosse nada. – Acho que foi um grande choque, mas realmente queremos um filho e... Bom, sabe como é, Edu, não vamos deixar isso nos limitar.

Eduardo sorriu, e Tomas Steve, que ainda não dissera sequer uma palavra, começou a se sentir mal pelo que fariam a seguir.

– E estão mais que certos, é claro. Mas e aí – Eduardo continuou –, o que fazem aqui hoje? Deviam estar celebrando!

– Bom – Tom finalmente pôs-se a falar –, eu e a Debby não comemoramos no dia vinte e quatro. Amanhã nós vamos cear com a família, trocar presentes, mas hoje... nós temos essa tradição de sairmos só nós dois.

Debby abraçou o bíceps dele, sorridente e encantadora.

– Show! E vão fazer o quê? – Eduardo estava quase mordendo a isca.

– Na verdade, achei que pudesse me ajudar. – Tom endireitou a postura. – Sabe como a Debby fez cinema, né?

Mentira.

Olhos de CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora