39. O Dia Vinte

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Era uma sensação agradável, a dos dedos dele sobre sua pele. Desenhavam círculos por suas costas, contornavam as linhas do quadril. Sam deitou sobre o peito de Eric, e observou-o subir e descer com a respiração ofegante.

Aquele colchão nunca foi tão confortável, e aquele muquifo nunca pareceu-se tanto com uma casa.

Eric puxou um lençol fino que estava jogado no canto do colchão e jogou sobre eles. Puxou-a para mais perto, para que ela se aninhasse mais em seu abraço, e ela o fez. Samira olhou para cima, ajeitando-se de modo que ficasse frente a frente com ele.

Olharam nos olhos um do outro.

Engraçado, Sam pensou. Engraçado como se sentia muito mais íntima dele por estar olhando naqueles olhos azuis de tão perto do que por terem acabado de transar.

Eric sorriu, um sorriso jovial, quase tímido, e ela quis retribuí-lo, mas tudo o que conseguiu fazer foi olhar para o próprio reflexo naquelas íris.

A boca secou, e o rosto murchou.

– Está tudo bem? – ele murmurou, espalmando a mão nas costas dela.

Ela queria dizer que sim, é claro que está tudo bem. Eu estou aqui, sem roupa, num dia de chuva, olhando nos seus olhos azuis como o mar, depois de uma boa transa, e devia estar perfeito. Mas já não tinha porquê esconder nada dele há muito tempo.

– Estava me vendo nos seus olhos.

Ele tirou uma mecha dos cabelos ruivos do rosto da mulher e colocou atrás da orelha dela.

– Então?

– Estou virando uma grande coletânea de cicatrizes. – Ela riu, sem jeito.

Eric respirou fundo e trocou as posições. Girou para que se apoiasse em um dos cotovelos e passou a olhá-la de cima.

– Não se preocupe com isso. – Fez o que queria fazer outrora. Contornou os dedos nas cicatrizes do olho esquerdo e repetiu o mesmo com o machucado recente na testa. Sam fechou os olhos, concentrada no tato dele. Depois, Eric desceu os dedos pelo corpo dela até chegar à coxa cortada, cuja cicatriz era um marcante relevo na pele macia. Ela abriu os olhos, ao que o homem voltou a mão para a nuca dela, apoiando-a com delicadeza. – Não sei se faz ideia do quanto essas cicatrizes te deixam forte.

– Me deixam fraca – ela debateu.

– Não – ele passou o polegar pela bochecha dela e depositou um beijo calmo no canto da boca. – Sobreviveu a todos os seus piores dias até hoje, Samira, e continua de pé e pronta pra mais. É isso que as marcas no seu corpo significam. É lindo de ver.

Samira sorriu, e foi a vez dela de puxá-lo para mais perto e sussurrar em seu ouvido:

– Está dizendo isso porque estou pelada na sua cama.

À provocação, Eric desceu as mãos ao quadril dela e a apertou, encontrando a boca dela com a dele em meio a um riso.

– Talvez tenha a ver, sim.

Eles se beijaram novamente. Uma, duas, três vezes, até as línguas se encontrarem e ela manejá-lo para ficar por cima de novo. Então, olhou-o com um sorriso travesso.

– Eric?

– Hum? – Ele colocou um dos braços atrás da cabeça, apoiando-se. Os olhos a devoravam.

– Por que tinha uma camisinha?

Ele deixou a cabeça cair no colchão outra vez, rindo, e ela o acompanhou, às gargalhadas.

– Qual é, Eric, somos adultos – ela disse. – Me conta.

– Contar o quê?

– Com quem está transando?

Olhos de CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora