22. Os Seis

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O alívio tomou conta de Samira naquela reunião que tanto esperava.

Logo o alívio, dentre tantas emoções que achou que deveria sentir.

Ela ouviu David contar aos recém-chegados, sua família, tudo o que lhe contou. Eles aguentaram o bombardeio de informações, uma a uma, desde as boas novas de que Nóvora era um lugar seguro para onde rumarem, até as más, de que se infiltrariam dentre gente que queria matá-los e arrancar seus olhos.

– Miho, Zoe e eu – ela falou, quando David lhe deu a deixa. A Arena parecia ainda minúscula com toda aquela gente. O mapa estirado sobre a mesa, os pesos de papel didáticos que Louis posicionou como fez com ela, as lentes de contato negras. Todos os lugares na tacanha e pequena arquibancada ocupados ao redor de uma mesa de centro tão minúscula e tão... pesada. Significativa.

A sala estava gelada, de alguma forma. Parecia que ninguém respirava ao ouvir.

Samira não conseguiu sustentar o olhar de Raquel sobre ela. Não sabia o que queria dizer. Se era uma lástima ou um desapontamento, talvez ambos.

– A decisão de Samira foi bem pensada, acredito eu – David quebrou o silêncio, nervoso ao fitar os rostos pasmados dos recém-chegados. – Mas, se ainda quiserem mudar os nomes–

– Não são nomes, David – Raquel o cortou, sem pensar –, são pessoas. Minhas duas filhas. O homem que me sucede quando eu não liderar mais isso aqui. Minha família.

Silêncio. E os olhos de Raquel ainda estavam sobre Sam, mas ela não erguia os seus para encará-la.

– Samira – a mãe de criação pediu. Só então o olhar de Sam percorreu um longo trajeto até alcançar os dela. Raquel a fitava com uma falsa ternura controlada, mas ela teve certeza de ver suas íris tremulando sob a fraca iluminação da saleta –, me convença.

– O quê? – a mulher indagou, sentindo-se estúpida ao tornar-se outra vez o centro das atenções.

– Me convença de sua escolha, Sami – Raquel pediu.

Samira percorreu os olhos pela sala outra vez. Nem todos a olhavam. Eric fitava o chão, como se quisesse lhe dar espaço, reconhecendo que aquele momento não era dele. Drica fazia o mesmo, mas mais porque sua mente parecia divagar para longe dali do que por respeito. Os outros a fitavam, esperando que ela falasse algo.

Ela viu Andy controlando a feição ao encará-la, e não conseguiu sustentar aquela expressão. Ele era o mais novo, o que ganhara um espaço ali dentro há tão pouco tempo, e controlava-se ao máximo para mantê-lo, mesmo que a vontade fosse de correr para Samira e abraçá-la, chorar como um bebê e implorar para que ela não fosse. Mas Andy não o fez.

Sam então olhou para Zoe e Miho, sentados lado a lado, e o olhar vacilava de um para outro. Esperava ver desgosto, ódio, descrença por terem sido jogados naquele xadrez por ela. Mas não encontrou nada disso. Estavam ambos com feições determinadas. Então, Sam continuou:

– Miho foi policial. Sabe o que fazer com uma arma na mão. Sabe se defender, lutar corpo a corpo, correr se for preciso – ela desandou a falar, controlando-se para não olhar para o chão. – Ele tentou nos passar tudo durante esses anos, mas têm certas coisas que não se ensina.

Miho concordou com a cabeça. Raquel fez o mesmo. Sam continuou:

– Zoe é facilmente subestimada, mas uma das melhores estrategistas que eu conheço. Se vamos nos meter nesse lugar tão... novo, desconhecido, precisamos de alguém que saiba como desvendar as charadas. Então, Zoe.

Raquel conteve as lágrimas que nasceram no canto dos olhos. Não parecia triste ao ouvir as palavras, nem mesmo quando Sam falou de Zoe. Parecia orgulhosa, ao mesmo tempo que superprotetora.

Olhos de CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora