Quando juntaram os barcos, Samira foi a primeira a descer.
Pulou de um para o outro como se tivesse renovado toda a sua energia, e de repente estava no cruzeiro. Ela olhou para trás. Eric já ajudara Benji a descer, e os olhos dela brilhavam de esperança.
– Eu preciso...
– Vai lá – ele falou.
Ela precisava achar a família dela. Ele, a dele.
Sam abriu um sorriso singelo. Fez um aceno com a cabeça para Ben, e ele a seguiu.
Todos os andares estavam cheios, do chão ao teto.
Os pacatos abrigavam-se, finalmente, e via-se o brilho nos olhos. A dor e a felicidade de uma pequena vitória naquela guerra.
Os passos de Samira eram rápidos, precisos. O olhar, mais ainda. Só queria ver um rosto que amava, mesmo que nem soubesse mais quem procurava.
Ela desceu uma escada e encontrou uma estrutura recém-formada: um salão gigantesco forrado por colchões e pessoas uniformizadas. Médicos e enfermeiros.
Fizeram uma sala de emergências.
Samira diminuiu o passo ao adentrar a sala, porque a cena era, à princípio, triste.
Ela olhou para trás, para Benji. Queria pedir para ele não acompanhá-la, mas, droga, como podia pedir que ele não viesse junto? O menino já vira o pior do ser humano.
Alguns pacientes gritavam, agonizavam de dor. Outros ganhavam curativos.
E, finalmente, ela encontrou alguém.
Zoe estava sentada em um dos colchões, uma tala no braço esquerdo. Drica estava com ela, apoiada em um dos cotovelos. As duas não conversavam, mas acolhiam-se. Elas estavam bem. Deus, como era bom vê-las bem. E as lágrimas logo voltaram para seus olhos.
– Zoe?
A amiga a olhou. Primeiro, achou ter visto um fantasma. Depois, suas sobrancelhas se arquearam, e ela levou uma das mãos ao rosto.
– Sami?
Samira ajoelhou-se ao lado dela e a abraçou entre cascatas salgadas que escorriam do rosto das duas.
– Você está bem? – Sam indagou.
Zoe quis negar, mas concordou. Uma afirmação azeda.
– Sami – repetiu –, minha mãe. Está com você?
Samira afastou-se e olhou-a nos olhos.
Ela acrescentou na dor do peito o nome de Raquel.
Percebeu que ela não voltou com nenhum dos outros barcos.
Sam só negou com a cabeça.
– Sinto muito, Zoe...
Ela abraçou-se a ela, e os soluços voltaram a chacoalhar o corpo.
– Andy?
Sam balançou a cabeça com mais afinco, afundando o rosto no cangote da amiga que tinha como uma irmã.
– Eu não consegui salvá-lo, Zoe...
Ela abraçou-a com mais força, porque não queria ver a reação de Zoe. Só ouviu seu choro. Só sentiu sua dor.
– Miho está bem – Zoe contou, a voz esganiçada, como se tivessem que somar ganhos às perdas.
– Sam? – Drica perguntou, a voz tacanha, e Samira deitou no ombro de Zoe para olhá-la. Drica estava quebrada, com os olhos vermelhos e inchados. Agora com uma pitada de esperança. – Quem estava com você no barco?
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Olhos de Corvo
ActionDas cenas que sua mente não bloqueou, cuja memória Samira guarda com carinho, entram as íris caramelo de seu pai na última vez em que ele a olhou no olho. Daquele dia em diante, aprendeu a preciosidade daquele gesto, o olho no olho, íris na íris. Fo...