49. Sem Saída

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Costa do Atlântico, lia-se em letras garrafais e gigantescas na lateral do maior barco que já viram na vida.

Drica lembrava-se de ter pesquisado tudo sobre aquele cruzeiro em especial:

Trezentos e trinta e um metros de comprimento e sessenta e sete de altura, como se fosse um edifício de mais de vinte e dois andares.

Ao lado dele, olhando para cima, sentiu-se minúscula.

A embarcação dançava com o mar revolto e ela pensou que, se por acaso aquele prédio de vinte e dois andares decidisse cair sobre eles no porto, não teriam nem para onde correr.

– Vamos! – a voz de Zoe a despertou de seus pensamentos assustadores, e a recente ausência de sua mão na dela a fez quase protestar.

Zoe jogou a mochila no chão, que pesava demais com a responsabilidade do que carregava. Mãos involuntariamente trêmulas abriram o zíper e de lá arrancaram a corda, pouco cuidadosa com os ganchos amarrados à extremidade.

Ela agradeceu mentalmente pelas mãos firmes de Miho tomarem seu lugar quando ele arregaçou as mangas ensopadas de suor e chuva e tomou a frente no trabalho, desenrolando a extensa e pesada corda e testando novamente o peso do já conhecido gancho.

Os olhos negros de Debby arregalaram-se quando ela entendeu o próximo passo. A mulher tinha pensado em tudo até chegarem ao cruzeiro e estava inteirada de todos os pormenores do plano. Agora, o ar lhe faltava, e ela apertou Olivia contra o peito para se certificar que as mãos não falhariam. Tom mudou o rumo do que planejaram, e agora ela via Miho girar a corda com o gancho atado à ponta e só conseguia pensar em como faria para entrar no barco. Fosse com ou sem um bebê nos braços.

– Se esconda – Drica ordenou a ela, vendo o desespero no rosto da improvável aliada.

– O quê? – a voz de Debby liquefazia-se com o aguaceiro.

– Nós vamos entrar e abrir por dentro. Há uma rampa. Você vai ser a primeira a passar com Olivia e vai se esconder. E acabou a luta pra você. O resto é guerra nossa.

Ela balançou a cabeça, negando. Drica pensou que ela recusava-se a fazer o que ela mandava, mas Debby acrescentou:

– A luta vai terminar quando Olivia estiver em segurança com o pai dela do lado. Até então, a guerra também é minha.

Drica abriu a boca para argumentar, mas palavra nenhuma vinha. Pelo canto do olho, via as tentativas calculadas e frustradas de Miho de alcançar o convés. Devia estar nervosa com aquilo – é claro que estava –, mas só conseguia olhar para Debby e pensar naquelas palavras. E em David. O coração apertou no exato momento em que tanto Miho quando Zoe exclamaram de alívio. Ela olhou para o feito que conquistaram: o gancho prendera nas grades do primeiro andar do navio, de dez a incríveis quinze metros acima deles. Miho não estava brincando quando disse que dava conta.

Foi a vez dela de balançar a cabeça e afastar as próprias distrações.

– Eu vou primeiro – Zoe informou.

Ela olhou para Drica quando o disse, que sentia o coração na mão. Sabia que era esse o plano e sabia que não cabia a ela mudar. Tinha de ser uma das duas, alguém leve, e Zoe prontificou-se tão rápido que não seria possível dizer se ela realmente queria fazer aquilo ou se estava apenas poupando a amiga de ser a primeira. Enfim, Drica assentiu, e perguntou-se se conseguiria segurá-la se ela caísse de qualquer altura que fosse.

Ignorou a voz macabra em sua cabeça que dizia que, se Zoe caísse durante a escalada, ou qualquer um deles, provavelmente cairia no mar entre o cruzeiro e o cais, e seria esmagada antes que qualquer um movesse um dedo para ajudar.

Olhos de CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora