53. Hora De Retribuir

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O segundo que se arrastou para Samira entender o que aconteceu durou uma eternidade.

O Corvo que atirou contra ela caiu em segundos com dois tiros certeiros no peito, não esperando retaliação. Eric foi rápido.

Mas não rápido o suficiente.

Sam agora olhava para Andy. Para a parede que ele criou entre ela e a bala. Para os olhos cheios de dor.

E quebrou.

– Não.

Andy, seu irmão do meio, tombou para a frente, e ela não teve forças para segurá-lo, porque o grito que irrompeu de sua garganta doeu mais do que qualquer dor que ela já sentiu. E aquela guerra já a fez sentir muito.

Quando Sam o segurou e caiu com ele no chão, sentiu o líquido quente em suas mãos, proveniente das costas do irmão. Sangue onde a bala atingiu.

Entre as costelas.

– Eric! – ela chamou, sem olhá-lo. Só conseguia olhar para Andy.

O irmão agonizava no chão. A respiração era um esforço audível, sofrido, que somou-se ao choro sentido de Benji em algum lugar atrás deles e às lamúrias dolorosas de Samira.

– Eric! – gritou por ele outra vez, e o homem estava ao lado deles em segundos.

Estudou o corpo de Andy.

A bala entrou, entre as costelas.

Mas não saiu.

E, dada a respiração dele, tinha danificado os pulmões.

Ele olhou para o rosto assustado de Andy, e viu o sangue escorrer de seus lábios.

Não sabia como dar a notícia a Samira.

Mas ela já entendera.

Ela levou uma das mãos ao peito e a outra na nuca do irmão, puxando o rosto dele para perto. Chorava, a boca aberta em dor, querendo gritar, mas não conseguindo.

Eric deu espaço e juntou-se a Benji. Abraçou o garoto e colocou-se entre ele e a cena. Pensou em como achava ter visto Samira passar pelo pior dia de sua vida na base dos Corvos, mas aquela dor não se comparava em nada.

– Andy! – ela murmurou, entre soluços, a testa colada na do irmão. – Não podia ter feito isso... não podia!

Era para ser ela.

Desde o começo, tudo o que fez foi para que Andy e Benji tivessem segurança. Se ela morresse no processo, que fosse.

Que fosse.

Se aquele Corvo tivesse a matado, se fosse agora ela a morrer nos braços do irmão, não teria se importado. Eric teria levado os dois para um lugar seguro, ela sabia.

Estaria em paz.

Mas Andy não estava.

Ele chorava como um animal assustado.

– Desculpa, Sami... – sua voz soou como um chiado arrastado.

Merda, ele não queria morrer. Queria comer sorvete, andar de bicicleta, namorar, voltar a estudar, talvez. Ter uma casa. Um cachorro, quem sabe. Ter um hobbie e fazer muita terapia. Não queria morrer, mas foi tão instintivo salvá-la e não pensar nas consequências.

– Desculpa...

Era ela quem deveria estar se desculpando, mas quando abria a boca, não saía nada que não fossem soluços.

– Eu protejo vocês – ela esforçou-se –, lembra?

Andy tossiu, e o sangue espalhou-se por seu rosto. Ela o virou de lado e acertou-o no colo, como fazia quando ela tinha sete, oito anos, e ele era só um bebê.

Olhos de CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora