13. Mantenha Os Olhos Abertos

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Por um instante, Eric não conseguia acreditar. A luz do sol quente beijava-lhe a pele e ele precisou abrir a janela do Jeep para respirar. O vento intenso bateu em seu rosto, e o deserto o recebeu de braços abertos, com cheiro de liberdade e esperança. Um sorriso desenhou-se em seu rosto, que logo transformou-se em uma risada.

Ele olhou para o lado, para Louis no volante. O amigo ainda arfava com a adrenalina. Este o encarou de volta, um sorriso travesso no rosto.

E ambos caíram na risada, como se tivessem acabado de renascer. Lou bateu as mãos no volante e Eric olhou no retrovisor, ainda com um sorriso de orelha a orelha. A fumaça e o fogo subiam do que um dia foi um posto militar dos Corvos. Sabia que provavelmente aquilo não matara a todos eles, mas pelo menos tirou de cena qualquer veículo que poderiam usar para ir atrás deles. Os outros, roubados por seus amigos, vinham logo atrás. Eric contou pelo menos seis, e quis chorar de emoção. Voltaram por ele. Todos eles voltaram por ele. Assim que os Corvos conseguissem meios para segui-los, o vento rijo do deserto já teria encoberto os rastros.

– Eu disse pra você – Eric começou a vangloriar-se, lembrando-se da mulher no banco de trás. – Eu disse que não morreríamos ali!

Ele olhou para trás, e seu sorriso e felicidade desmancharam-se.

A garota estava escorada na porta de trás, logo atrás do assento de Lou, as pernas sobre o banco. Estava branca como papel, os olhos desfocados pescando pesado, e as mãos trêmulas seguravam a perna ferida. Eric olhou para o sangue que de lá jorrava, por sob a atadura mal feita de seus torturadores.

– Não, não, não – ele amaldiçoou baixo.

– O que foi? – Lou tentou olhar para trás, mas a garota estava fora de seu campo de visão.

Eric não respondeu. A adrenalina que ainda sentia era suficiente para acobertar a dor no corpo um pouco mais. Ele pisou no assento do carona e pulou para o banco de trás. Empurrou devagar a perna dela para ganhar espaço e sentar ao seu lado. Apoiava-se com uma mão no vidro, ao lado da cabeça da mulher, e a outra segurava no banco de Lou.

– Ei, está me ouvindo? – Eric se deu conta de que nem ao menos sabia seu nome. Ela piscou fundo. Tentou arregalar os olhos, mas esses voltavam a se fechar como se estivesse exausta de mantê-los abertos, e as pálpebras pesassem toneladas. Mesmo assim, ela esforçou-se para focar as íris nas dele. – Deixe os olhos abertos, ok?

– O que eu faço? – Lou perguntou, quase um gaguejo, conseguindo apenas ver o desespero de Eric pelo retrovisor.

– Dirija mais rápido!

Eric olhou para a perna dela, para o sangue que escapava por suas mãos com dedos longilíneos e que já não mais pressionavam a ferida. Fitou a própria blusa, pronto para tirá-la e usar de atadura até que chegassem ao abrigo. Então, lembrou-se do vômito seco que ainda estava lá, resultado da concussão pela pancada.

– Segura o volante! – Lou praticamente gritou, estudando a cena pelo retrovisor. Eric escorou o tronco para a parte da frente e obedeceu, engolindo a dor aguda que sentiu na altura das costelas. Segurou o volante com mãos firmes enquanto via Lou tirar a farda que roubou do Corvo. O amigo arrancou a parte de cima, ainda ficando acobertado por uma camiseta branca surrada, e jogou-a sobre o ombro de Eric. Eles outra vez trocaram as funções.

– Porra, garota...! – Eric revesava o olhar entre a perna e os olhos dela, que lutavam para ficar abertos. Ele levantou a coxa dela apenas o suficiente para passar a roupa fardada por baixo desta, e amarrou a ferida devagar. – Não vai nadar e morrer na praia, não é?

Mas ela não exibiu reação alguma. Nem mesmo dor. Suas mãos ensanguentadas caíram do lado do corpo.

– Ei, fique comigo, ok? – Eric pediu, segurando o rosto dela para cima, a cabeça pesando em sua mão. Procurou seu olhar, mas não o encontrou. – Mantenha os olhos abertos.

Olhos de CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora