58° capítulo

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Sarah.

— você lembra quando o papai disse que oque ele faz não é errado? — concordo a Ben, sentada no nosso tronco de árvore favorito, lado a lado, em cima da árvore alta da floresta.

— eu lembro, oque tem Ben? — ele parecia pensar e olhava pra frente. Lá longe, o lugar proibido.

A pequena cidade de Fremont.

— papai me mandou buscar uma mochila na cidade ontem. — me olhou, não soube oque dizer.

— e oque tem, Ben? — pergunto novamente, me sentindo tão inferior ao meu irmão, em questão de tamanho e idade.

— lá tem TVs melhores que a nossa, pituca. — olho para a cidade ao longe também, parecia que ela estava lá em baixo e era minúscula. — tinha várias tvs em uma vitrine... O homem disse que outro homem foi preso depois que ele fez coisas iguais as que papai faz. — olho para Ben, confusa.

— oque papai faz, Ben? — me olha, desconfortável.

— tudo que papai faz é errado, pituca. — penso, não entendendo nada.

— até quando ele desce pro porão?

— principalmente quando ele desce pro porão. — me olhou firme, parecia muito nosso papai.

— eu não acho que seja errado. — dou de ombros.

— você é pequena, você não entende.

— mas se é errado, por que papai desce pro porão? — Ben suspira.

— você já viu como aquelas moças choram? — concordo fraco. — e você já se cortou? — penso, logo concordando novamente. — dói?

— sim, as vezes.

— é, agora imagina oque elas passam com papai... Papai corta elas inteiras, pituca. — penso sobre isso, lembrando de algumas cenas, logo olhando para baixo.

Estávamos muito longe do chão.

— é errado pituca, é errado por que dói e por que papai tira a vida delas. — não é errado.

— papai disse que elas são pessoas más.

— mas não é verdade. Você lembra da moça que tinha uma filha? — papai disse que levou ela de volta pra cidade...

— papai não matou ela.

— é oque ele diz, ela deve estar enterrada no cemitério da floresta junto da mãe dela. — engulo em seco. — ela era uma mãe boa, papai a matou e depois matou a filha dela... Não existem pessoas ruins pituca... Nosso pai é ruim. — Ben se levanta, me fazendo sentir a leve tremedeira do tronco.

Queria chorar.

Será que eu sou uma pessoa errada também?

— Ben, me espere! — o vejo descer e começo a fazer o mesmo.

Minhas mãos eram muito pequenas para os troncos grossos, então eu tinha que ter cuidado.

Papai não gosta quando viemos aqui, e nem em qualquer outra árvore.

Se a gente se machucar, teremos que ir no lugar mais amaldiçoado de todos... O hospital.

— você acha que o papai matou a mamãe, Ben? — ele me pega no colo quando já estávamos lá em baixo, me tirando de cima do último galho.

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