Capítulo Um. - Um novo ciclo.

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Observei a casa de Brad, por uma das janelas do meu quarto, enquanto Eva me contava sobre o seu fim de semana agitado. As férias de janeiro estão chegando ao fim, o que quer dizer que estou mais perto do que nunca de encerrar o meu ciclo escolar. A minha única frustação é de não ter vivido um romance adolescente. É ridículo, eu sei. Mesmo estando apaixonada por Brad há quase dez anos, sinto que não vivi nada. Às vezes penso que essa paixão me privou de muitas coisas, inclusive de conhecer pessoas novas.

— Por que você está tão para baixo? — Eva perguntou enquanto arrumava o seu cabelo recém iluminado na frente do espelho.

— Não é nada.

— Sei que tem algo rolando nessa sua cabecinha, então, pode começar a falar!

Eu e Eva somos amigas desde o fundamental. Para todos os efeitos, ela é a minha melhor amiga, não como Dylan um dia foi, é claro. Acho que ninguém nunca vai superar o elo que nós tivemos. Fazem dois anos desde que ele se mudou. Conseguimos manter contato no primeiro ano, mesmo que pouco, mas nós mantínhamos. No segundo ano, a rotina puxada fez com que não nos falássemos tanto assim. As mensagens foram apenas de " feliz aniversário " " feliz natal". A última quem mandou fui eu, ela dizia " estou com saudades". Mas ele nunca respondeu. Não sei o que fiz para ele me evitar assim, e isso me mata por dentro.

— Terra chamando, Hannah!

— Oi.

— No que estava pensando? 

— Só estava pensando no nosso último ano escolar.

— Só nisso?

— Também estava pensando no Dylan. — Admiti.

— Se você não fosse louquinha pelo Brad, eu diria que você é apaixonada pelo Dylan!

— Credo, é lógico que não! Ele é como um irmão pra mim.

— Sei...

— Não duvide disso!

— Vou tentar.

Joguei uma almofada no rosto dela.

— Ei, não bagunce o meu cabelo!

— Você mereceu.

Duas batidas foram dadas na porta, e antes que eu liberasse a entrada da pessoa, minha irmã entrou no quarto.

— O que você quer, Olívia?

— Você viu a minha blusa rosa?

— Qual?

— A que tem uma frase em inglês.

— A mamãe deve ter se confundido e ter colocado no meu armário, pode olhar.

— Obrigada.

— Como é a vida de uma universitária, Olívia? — perguntou Eva.

— Cansativa. — Disse enquanto mexia no meu armário.

— Não vejo a hora de chegar onde você está! — ela disse animada.

— E eu não vejo a hora de me formar! Quero me tornar uma grande advogada o quanto antes.

— Você ainda vai ficar mais dois anos na faculdade.  — A lembrei.

— Eu sei.

E mais uma vez a porta do meu quarto foi aberta, mas dessa vez sem avisos. Minha mãe entrou no quarto com a cara de quem tinha alguma fofoca para nos contar. Ela estava com o pano de prato em cima do ombro, o que deu a entender que ela estava na cozinha e descobriu a fofoca agora.

— O que aconteceu? — perguntei.

— Os inquilinos da casa dos Ribeiro's estão de mudança.

— Ué, por quê? — Olívia disse assim que encontrou a sua blusa.

— Não faço ideia.

— Tenta descobrir, mãe.— influenciei.

— Vou tentar, mas não digam nada ao pai de vocês, porque se ele descobrir vai me chamar de fofoqueira! — ela disse, nos fazendo rir.

— Vou indo, já achei a minha blusa!

Olívia e minha mãe saíram do quarto, conversando sobre a mudança dos inquilinos dos Ribeiro.

— A sua família é uma graça.

— Ainda bem que você já está acostumada com ela! - brinquei.

                                                         ♤

— Pai, eu posso ir no shopping com a Eva? — perguntei.

— Só se me prometer que vai voltar cedo! — respondeu com aquele seu sotaque inglês.

Meu pai é inglês, mas veio para o Brasil à procura de um novo estilo de vida. E nessa busca, ele acabou conhecendo a minha mãe. Por isso um dos meus sobrenomes é inglês. Eu acho chique, mas tem gente que ri da minha cara por isso.

— Eu prometo.

— Sua mãe deixou?

— Sim.

— Então pode ir.

— Obrigada! — disse ao beijar sua bochecha.

Eu já estava arrumada, porque minha mãe já havia deixado dês de ontem, e o meu pai sempre faz as minhas vontades.

Peguei meu celular e chamei um carro por aplicativo. Eu poderia pedir a minha irmã para me levar no carro dela, mas ela está dormindo e o mau humor que ela fica quando alguém a acorda é trágico. Fui para fora de casa quando o aplicativo disse que o carro chegaria a cinco minutos. Meu coração disparou quando vi Brad saindo pra colocar o lixo fora.

— Oi, Hannah! — disse assim que me viu.

— Oi!

Ele sorriu de lado e atravessou a rua, vindo até mim. Meu Deus, eu amo este garoto.

— Como você está? — perguntou.

— Estou bem, e você?

— Melhor agora que te vi!

Não pude conter um sorriso.

— Sabe, estava pensando se a gente não poderia fazer alguma coisa nesses dias. Reunir a galera, ir pro cinema...

— A galera...? — tentei não soar desanimada.

— Sim.

Por um segundo pensei que ele queria fazer algo só comigo. Mas daí eu lembrei que ele tem uma namorada, e uma bem ciumenta por sinal. 

Brad vivia mudando de namoradas, e uma parte de mim esperava que eu fosse a próxima; na minha cabeça ele duraria comigo. Ele não durou com as outras porque elas não eram a garota certa, mas talvez eu fosse.

— E a sua namorada, também vai?

— A Tamires?

Afirmei com a cabeça.

— Eu terminei com ela. Ela era possessiva demais.

— Tenho que concordar. — tentei conter um sorriso. Mas Brad achou graça em minha fala e deu aquele sorriso pelo qual sou completamente apaixonada. O sorriso desse garoto pode hipnotizar qualquer um. Quase derreti quando ele passou a mão nos seus lindos fios lisos e castanhos. Eu amo cada detalhe dele.

— Hannah Miller? — o motorista chamou a minha atenção.

— S-sou eu mesma —gaguejei.

— Te vejo mais tarde.— disse Brad.

— Vou esperar por isso.

Ele deu uma piscadela e eu entrei no carro. Podem passar anos, mas o efeito que esse garoto tem sobre mim nunca vai mudar. Um dia eu ainda vou ser a namorado de Brad, e nós vamos fazer isso dar certo.

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora