Capítulo Cinquenta e cinco. - A culpa era minha.

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Agosto se foi como o vento, levando consigo uma das melhores coisas que a vida havia me dado, a companhia de Dylan. Tive que lutar para não ir atrás dele, para não me jogar aos seus pés, implorando para que voltasse a falar comigo. Resolvi respeitar o tempo dele e focar nos meus estudos. O vestibular estava cada vez mais perto, e eu tinha que me esforçar. Eu não podia desistir dos meus sonhos por conta de um coração partido. Talvez aquele fosse o início da minha transformação, talvez eu só precisasse sair do casulo para virar uma borboleta.

Eu não estava saindo muito de casa, só ia para a escola. Preferi me isolar no meu próprio mundinho até que eu me sentisse melhor. Quando focamos em algo, os problemas ao redor não parecem ser tão grandes assim. Brad voltou a falar comigo, e nós continuamos a ir juntos para a escola, mas eu podia sentir que a nossa relação não era mais a mesma. Eu temia que ela nunca mais voltasse a ser o que era antes. Havia um muro entre nós, uma parede que impedia que nos sentíssemos à vontade com aquela amizade. Tudo estava estranho... Mas o que eu podia fazer se era culpa minha?

Peguei o costume de observar Dylan nos intervalos, era uma forma dele ainda estar presente na minha vida. Ele voltou a me evitar, a se isolar, e não havia nada o que eu pudesse fazer, afinal, ele ainda estava machucado. Eu tinha que lutar contra uma onda de tristeza em todas as vezes em que me lembrava do ocorrido. Quando me lembrava do que perdi.

— As meninas me chamaram para participar do comitê da formatura. — Eva disse enquanto balançava os pés no ar. Estávamos sentadas na arquibancada, esperando o intervalo terminar.

— Mas o comitê foi montado no início do ano, por que só te chamaram agora?

— Uma delas se mudou e teve que sair da escola.

— Nossa, que chato.

— Não para mim! — Sorriu perversa. — Sempre quis participar de algo do tipo.

— Que bom então... — Tentei soar animada, mas fora em vão.

— Quando vai superar o que aconteceu? — A compaixão predominava a sua voz.

— Acho que nunca.

— Devia fazer terapia para se libertar desse problema. Você está presa nele desde o início do ano, e já estamos quase no fim!

— Esse problema sempre existiu, Eva, mas só se aflorou esse ano.

Ela esticou os lábios grossos em um sorriso minimalista, apoiando a mão em meu joelho.

— Ainda acredito que as coisas vão se resolver.

— Obrigada. — Dei duas batidinhas em sua mão, em forma de gratidão. — Mas é difícil de acreditar.

A esperança já não mais habitava o meu peito. Na minha cabeça, era quase impossível conseguir concertar as coisas. Era mais fácil que elas desmoronassem ainda mais do que voltassem para o seu devido lugar. Venho tentado não pensar muito sobre isso, é mais fácil aceitar do que ficar remoendo pelo que perdi. Porque eu perdi uma das coisas que mais importavam para mim, a minha relação com Brad e Dylan.

Prendi a respiração assim que o vi passar pela quadra. Thalita estava com o braço enroscado no dele, e os dois pareciam rir de alguma coisa. Aquela cena quebrou o meu coração, mas eu não podia reclamar, a culpa era minha.

— Você acha que eles vão ficar juntos agora? — perguntei para Eva, que também os observava.

— É muito recente para ele entrar em outro relacionamento e, além disso, ele já a rejeitou uma vez, por quê mudaria de ideia?

— Porque dessa vez ele desistiu de mim. 

Como doeu dizer aquilo... tive que lutar com as lágrimas que insistiram em se acumular nos meus olhos.

— Vamos mudar de assunto? — falou ao reparar em meu estado.

— É uma boa ideia. — Ri sem graça.

Os observei sair pelo outro lado da quadra, ainda rindo de alguma coisa. Thalita devia estar verdadeiramente feliz, agora ela o tinha, como sempre quisera. Ele era todo seu e tinha me expulsado de sua vida, e do seu coração. Era ridículo sentir ciúmes... sentir inveja. Suspirei aliviada quando eles saíram do meu campo de visão.

Não demorou muito para que o sinal tocasse, me obrigando a voltar para a minha tortura psicológica, mais conhecida como sala de aula. Era muito difícil estar no mesmo ambiente que eles. Era torturante estar tão perto e tão longe ao mesmo tempo, o clima era tão tenso. Doía quando eu lembrava que costumava ser tão fácil... costumava ser tão bom. Tive que lutar contra as lágrimas mais uma vez.

Dylan estava sentado no fim da sala, e Brad estava ao lado oposto ao meu. Eu não sabia se eles também sentiam a tensão que aquele lugar havia se tornado. Era torturante estar ali, ao menos para mim. Viver no lugar onde sempre vivi se tornou uma tortura.

As horas pareceram caminhar junto a uma tartaruga para que aquela aula terminasse. Fiquei extremamente grata quando chegou a hora de ir para casa. Me despedi de Eva e caminhei até os portões da escolas, onde Brad já me esperava. Fiquei imaginando como ele havia chegado ali antes de mim. Talvez eu realmente ande devagar demais. Caminhei desajeitadamente até ele, que deu um curto sorriso ao me ver.

— Vamos? — perguntou.

— Claro...

Começamos a andar em silêncio, e aquela parede existente entre nós pareceu ficar ainda mais grossa. Ele parecia tão incomodado quanto eu, mas não havia mais nada que pudéssemos fazer. Tentei cantar algumas músicas em minha mente, para afastar os pensamentos depressivos. Aquela tática pareceu dar certo, eu estava distraída, tão distraída que não vi o carro se aproximar quando atravessamos a rua. Por sorte, Brad me puxou a tempo, parecendo estar mais assustado do que eu. O agradeci de imediato, mas ele só pareceu raciocinar quando já estávamos do outro lado da rua.

— Você quase me matou do coração! — falou assustado, colocando a mão no peitoral.

— Desculpa, estava distraída.

— Ainda bem que te puxei a tempo!

— Sim, obrigada mais uma vez.

Ele envolveu meu rosto em suas mãos, conectando seus olhos aos meus. Senti meu coração acelerar, mas logo tratei de reprimir aquela sensação; ela já havia me trazido problemas demais.

— Por um segundo pensei que algo fosse acontecer com você. Tente ser mais atenta, Hannah, eu não suportaria te perder.

Não consegui mais evitar que o meu coração acelerasse. Me senti como me sentiria há meses atrás, e aquilo era errado demais. As pessoas tinham razão, era difícil de se esquecer do seu primeiro amor. Meu corpo me traiu, não ouvindo a minha mente, envolvendo Brad em um abraço apertado. Ele retribuiu na mesma intensidade.

— Obrigada por ainda se importar comigo. 

E naquele momento eu quis chorar, mas não cheguei a me permitir.

— Eu sempre vou me importar com você.

As lágrimas rolaram sem a minha permissão, mas logo tratei de enxugá-las. Me afastei de Brad, o lançando um sorriso que ele fez questão de retribuir. Voltamos a caminhar, mas não totalmente em silêncio. Era egoísta, mas era bom saber que ele ainda se importava comigo. Era bom saber que eu ainda tinha um dos dois. Mas algo um tanto apavorador foi comprovado com aquela interação, meu coração ainda batia por Brad, mas não na mesma intensidade que ele batia por Dylan. O que era errado, porque ele não devia mais bater por nenhum dos dois. Eu não os merecia.

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora