Capítulo Doze. - O que é isso?

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A professora de educação física nos obrigou a dar cinco voltas na quadra antes de jogarmos uma partida de queimado. Nesses momentos enxergo o quanto que sou sedentária. Nem as caminhadas com Eva conseguiram acabar com essa parte de mim.

Nem todos estavam jogando queimado, a quadra por ser grande estava dividida em duas partes. Um grupo jogava queimado, enquanto o outro jogava sete cortes. Estou no grupo de queimado, onde posso fugir da bola. Parece que tenho um imã na cabeça, porque sempre acabo levando uma bolada. Já perdi a conta de quantos calos já fiquei.

Dylan e Brad estavam jogando sete cortes, e Eva me acompanhava no queimado.

Quase todos do meu time estavam " mortos", só restavam Eva e eu. E como já era o esperado, nós perdemos. Eu realmente não nasci para a vida atlética. Até agora não achei nenhum jogo em que eu fosse boa.

Um tempo depois a professora soprou o apito, indicando o fim da aula. Ela fez a chamada, e pediu a nossa ajuda para recolher o material da aula. Apesar de nós só termos usado duas bolas, a professora havia levado um saco delas. Um verdadeiro exagero. Penso que ela havia imaginado que nos dividiríamos em mais grupos, muito mais grupos.

— Hannah, você pode levar essa sacola para o deposito? — perguntou a professora.

—Claro.

Tentei carregar a grande sacola, mas as bolas simplesmente escaparam. Vendo a minha situação, a professora tomou uma atitude que me fez gelar.

— Dylan, ajude a garota.

Ele não falou nada, apenas veio até mim. Meu corpo vibrava em nervosismo. Ele carregou o saco, e eu peguei as bolas que haviam caído no chão. Caminhamos em silêncio até o deposito da escola. O clima tenso estava me deixando ainda mais nervosa. O que era estranho, porque o clima sempre era leve com Dylan por perto. Bom... ao menos era.

Me aproximei da porta de metal e a empurrei com toda a força do meu corpo, ela parecia estar enferrujada. Dei passagem para Dylan passar, e ele entrou.

— Onde eu coloco? — quase me assustei com o som da sua voz.

— Ali, no canto.

Ele não disse nada, apenas assentiu. Me desencostei da porta, para guardar as bolas, e ela se fechou, fazendo um grande barulho. E mais uma vez, eu quase me assustei. Não ficaria impressionada se eu enfartasse agora.

A sala ficou um verdadeiro breu, porque a única iluminação vinha do lado de fora. Soltei as bolas no chão, e fui abrir a porta, mas não consegui. Ela estava trancada.

— Não consigo abrir.

Dylan caminhou até mim, e forçou a porta, mas ela não abriu.

— Merda. — murmurou.

— Vou procurar o interruptor, as coisas ficam piores no escuro.

Ótimo, isso era tudo o que eu precisava: ficar presa com Dylan, no escuro. A minha vida deve ser uma piada, só pode!

Passei as mãos pelas paredes em busca do interruptor, enquanto Dylan forçava ainda mais a porta.

— Não adianta, acho que ela só abre por fora. —  comentei.

— Porra. — Bufou.

— É tão ruim assim ficar na minha companhia?

Me arrependi na mesma hora de ter perguntado aquilo. Tenho que parar de ser tão impulsiva. O meu arrependimento só aumentou quando ele não respondeu.

Suspirei pesadamente, e voltei a caçar o maldito interruptor, mas não o encontrei.

— Será que você pode me ajudar a achar o interruptor?

E mais uma vez ele ficou em silêncio, mas senti a sua movimentação naquela pequena sala, acho que estava atendendo ao meu pedido.

— Vão vir atrás da gente, não se preocupe. — comentei.

E mais uma vez ele ficou em silêncio.

— Será que dá pra você trocar uma palavra comigo?! — não consegui esconder a raiva no meu tom de voz.

— O que você quer que eu diga? — disse cínico.

Sorri sem humor.

— Eu realmente não entendo você, não mais.

— Não precisa me entender.

— Às vezes acho que você se esqueceu que era o meu amigo, o meu melhor amigo.

— Por sorte, não sofro de amnésia.

— Então, por que age assim comigo? Por que me afasta? — indaguei.

— Você não entenderia.

— Eu não sou burra, posso muito bem entender!

— Não me importo.

— Sei que ainda se importa comigo, ao contrário não teria me defendido na resenha na casa do Jônatas.

— Faria aquilo por qualquer um.

Caminhei até ele, com cuidado para não tropeçar em nada.

Dylan não me contaria nada se eu não insistisse. E se o destino nos deu aquele tempo à sós, eu não iria perder a oportunidade.

Segurei o seu rosto, o obrigando a olhar em meus olhos. Mesmo com a escuridão ainda conseguia enxergar os traços de seu rosto. Se Dylan já era bonito, esses dois anos colaboraram para que ele ficasse ainda mais.

— O que  fiz pra te chatear tanto assim? Por favor, me diga. Você não faz ideia do quanto o seu afastamento me tortura. — minhas palavras pareciam-se com sussurros.

 — Não vai mudar em nada se você souber.

— Como pode ter tanta certeza?

— Porque seria você a se afastar.

Me aproximei mais um pouco, na tentativa de ler os seus olhos, mesmo com a escuridão atrapalhando. Por que eu me afastaria de Dylan? Isso é algo que seria impossível na minha cabeça.

Só fui perceber que estávamos a centímetros de distância quando senti a sua respiração bater em minha pele. Meu coração ficou acelerado espontaneamente. Por dois segundos senti os meus lábios formigarem, e uma necessidade de me aproximar ainda mais se instalou em meu corpo.

Mas que merda é essa?

O que tá acontecendo comigo?

Antes que eu raciocinasse algo para lhe responder a porta foi aberta bruscamente, e me afastei dele na velocidade da luz.

— Ah, vocês estão aí! Esqueci de avisar que aporta estava com problema. — A professora disse apressada.

Claro que ela não tinha avisado.

Forcei a garganta antes de falar.

— Sem problemas.

Quando saí do depósito meus olhos arderam com a mudança de iluminação. Dylan saiu depois de mim, e voltou a ficar em silêncio.

Foi inevitável não passar o resto do dia pensando no que aconteceu, do desejo louco que senti. O que estava acontecendo comigo? Eu queria beijá-lo? Não, é lógico que não. Foi apenas o calor do momento. Não tenho olhos para nenhum outro garoto, apenas pra Brad. E Dylan é o melhor amigo, pelo menos ele era...




NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora