Capítulo Nove. - É impossível esquecer.

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Flashback:

Dylan e eu tínhamos uma brincadeira que fazíamos dês dos nossos cinco anos de idade. Nós acampávamos na sala da minha casa, e contávamos os nossos maiores sonhos um para o outro. Era a nossa cabana dos desejos. Nós deitávamos no colchonete e olhávamos para o lençol que fazíamos de cabana. Aquele era o nosso local mágico, onde imaginávamos que tudo era possível, até os nossos sonhos mais loucos.

— Quer começar? — perguntou ele.

Afirmei.

— Sonho em conhecer a neve, e fazer aqueles bonecos que vejo nos filmes.

— É um ótimo sonho.

— Obrigada. Agora diga o seu.

— Sonho em poder fazer tudo isso com você.

Dei um sorriso banguela. Para uma garotinha de nove anos, aquele era o melhor sonho de todos. Flocos de neve e o melhor amigo, nada seria mais perfeito.

— Sonho em ser sua melhor amiga pra sempre.

— Isso não é um sonho, é a realidade! — juntou as nossas mãozinhas. — Você vai ter que me aguentar pro resto da vida.

— Eu amo você, Dylan. — senti minhas bochechas corarem.

Aquela foi a primeira vez em que disse que o amava. Tinha medo que ele não me amasse de volta, mas quando ele sorriu, minhas dúvidas sumiram, afinal, ele era  Dylan, o meu melhor amigo.

— Também amo você, Hannah.

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Dias atuais.

Caminhei pelos corredores da escola, até chegar na minha sala. O local estava vazio. É um milagre eu ter sido a primeira a chegar, geralmente sou uma das últimas. Não demoraria muito até que Eva chegasse. Dylan entrou na sala. Meu coração acelerou com a expectativa de que ele viria falar comigo, mas ele não veio. Achei que depois daquela noite tudo voltaria a ser como à dois anos atrás. Sei que o meu melhor amigo ainda está ali, mesmo que na parte mais profunda de seu coração. Podemos mudar o nosso jeito, mas a nossa essência nunca muda, e eu conheço a de Dylan.

Não demorou muito até que o resto da turma chegasse. Confesso ter ficado aliviada. Adoro a companhia de Dylan, mas não é tão agradável quando ele está me evitando.

As primeiras aulas passaram na velocidade da luz, e nós já nos encontramos no intervalo. Eu e Eva estamos sentadas na arquibancada, como de costume. Adoramos ver os caras jogando, eu especificamente, venho pra ver Brad jogar. Adoro o ver jogar futebol. Dylan também costumava jogar, mas desde que voltou, parou.

— Você já superou o que aconteceu na resenha?— perguntou Eva.

— Mais ou menos, mas tudo o que consigo sentir é raiva. Gustavo é um tremendo idiota!

— Ele é mesmo.

— Mas agora já foi. O melhor que posso fazer é esquecer.

— É verdade.

— Já superou o Jônatas? — mudei de assunto.

— Sim, sou demais pra ele. — piscou.

— A sua autoestima é maravilhosa! — brinquei.

— E você a inveja. — fingiu deboche.

Nós ficamos alí até o fim do intervalo. O tempo estava passando depressa, logo estaríamos na sala novamente.

Quando as aulas acabaram, Brad se ofereceu pra voltar andando comigo. Pensei em chamar Dylan, mas ele sempre some nesse horário, e além disso, duvido muito que essa sua nova versão aceitasse a minha companhia.  

Caminhar ao lado de Brad é realmente adorável. Não precisamos nem falar, mas só o fato dele estar ao meu lado, torna tudo mágico. Às vezes  tento superar o que sinto por ele, mas quando ele está por perto, esquecer esses sentimentos se torna impossível. O esquecer me parece ser impossível.   

— O que achou da resenha? — puxou assunto.

— Foi legal.

Ele ficou uns segundos em silêncio, até que perguntou algo que me pegou totalmente desprevenida.  

— Você realmente ficou com o Gustavo?

Olhei pro chão. Naquele momento me senti como uma traidora. Mesmo que Brad não fosse o meu namorado, parte de mim sentia que devia fidelidade a ele. Criei coragem, e o encarei ao responder:     

— Sim... eu fiquei com ele.

Ele não falou nada de imediato. Pode ser alucinação da minha cabeça, mas ele  parecia estar chateado. Brad sempre foi um cara alegre, mas agora... não sentia essa alegria vinda dele.

— Você gostou de... beijar ele? — falou as últimas palavras apressadamente.

— Por que essa pergunta?

— Só fiquei curioso.

— Entendi.

— Mas você gostou? — insistiu.

— Pra ser sincera, não, eu não gostei.

Ele sorriu sem graça.

— Você tem que ter cuidado ao escolher com quem ficar.

— Isso é verdade. — ri.

—  O Gustavo não te merece, ele é um babaca, e você é demais pra ele.

— Demais? - sorri de lado.

— Sim, você é incrível Hannah, um cara tem que ser muito bom pra te merecer.

— Não sei como você me enxerga dessa forma... sou uma garota qualquer.

— Não existe esse lance de " uma garota qualquer ", todas são diferentes.

— Você é um fofo!

— Sei que sou. — brincou.

— Ainda bem que você terminou com a Tamires, senti falta de passar mais tempo com você. — admiti.

— É, eu também. - sorriu.

O meu carro já havia saído da mecânica, mas pedi a minha mãe pra voltar andando com Brad. Eu poderia o oferecer uma carona até, mas nós não teríamos esse tempo, sozinhos. Se eu tivesse que andar todas as vezes que ficasse perto dele, eu andaria por toda a eternidade.

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora