Capítulo Cinquenta e seis. - Ela.

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Dylan Ribeiro

Me sentei no banco da praça, observando Thalita vir em minha direção. Ela deu um sorriso tímido ao se sentar ao meu lado. As coisas pareceram ficar estranhas entre nós desde a festa de São João, mas, depois que terminei com Hannah, Thalita começou a agir como se nada tivesse acontecido. Cheguei a me questionar sobre a razão de tudo isso, mas preferi acreditar que ela só queria ser minha amiga. Eu precisava de um amigo, e ela sempre estave ao meu lado.

— Vim assim que li sua mensagem!

— Obrigado por ter vindo. — Sorri fraco.

Eu não aguentava mais ficar em casa, tudo em minha volta me levava à ela, a Hannah. Era impossível me manter longe, principalmente quando a sua essência gritava ao meu redor. Por isso, resolvi passar a tarde fora de casa, na tentativa de fugir dos meus conflitos. Na tentativa de fugir dela.

— Sabe como é, é só me chamar que eu venho — falou brincalhona.

— Você é uma amiga e tanto.

— Falando em amiga... Sei o que está passando, Dylan, você pode desabafar comigo. Não precisa se esconder atrás de uma máscara, como vem fazendo. — Colocou a mão na minha perna. — Percebo o seu olhar tristonho, como este que me olha agora. Não finja ser forte, não finja que o ocorrido não te machucou. Você não precisa fingir, não ao meu lado.

Os seus olhos eram profundos, me transmitindo confiança. Eu não podia contar os meus sentimentos para ela, não sabendo o que ela sentia por mim. Não era justo, e eu, mais do que ninguém, sabia como doía ouvir. Quando Hannah me falava de Brad, era como se fosse um lembrete de que nós nunca ficaríamos juntos.

— Obrigado. — Dei duas batidinhas em sua mão, e logo ela a retirou da minha perna.

— Isso não é um desabafo!

— Por que acha que quero desabafar?

— Porque você não costuma me chamar no meio da tarde, dizendo que não aguenta mais ficar em casa!

— Tudo bem — ri —, você me pegou!

— Então desembucha! — Ela colocou as mãos no queixo, fazendo pose.  Um vento frio passou sobre nós, soprando os seus cabelos cacheados, fazendo com que seu perfume doce entrasse pelas minhas narinas. Me perguntei como ela podia ser tão forte, como ela fazia para aguentar me ouvir falando de outra garota. Thalita é uma garota boa, de bom coração. Não merece uma confusão como eu. As coisas teriam sido bem mais fáceis se eu tivesse me apaixonado por ela.

— Tem certeza? — Tomei cuidado com o meu tom de voz, para não acabar a ofendendo.

— Tá tudo bem, Dylan, isso não vai me machucar. — Disse ao compreender o verdadeiro sentido em minha fala; ela disfarçou o clima, que começara a ficar estranho, com um sorrisinho.

— Hannah me procurou há alguns dias atrás. Ela meio que falou que queria voltar comigo... 

— Ah, e não era isso o que você queria?

— Bom, eu sei que foi Brad que a beijou, mas pense comigo — suspirei, derrotado —, o que adianta insistir em algo que não vai mudar...? Ela ainda gosta dele, e ele ainda está na vida dela. Os problemas só iriam se repetir, e nós três ficaríamos ainda mais machucados. — Thalita me ouvia com atenção. — O coração dela sempre baterá por ele, e não há nada o que eu possa fazer. Sei que ela também gosta de mim, mas ela gostou dele a vida toda. Como posso competir com isso? Sinto que só estou atrapalhando  o destino deles.

— O que te faz pensar que eles estão destinados a ficarem juntos?

— Primeiro, ele também gosta dela; segundo, ela nunca vai conseguir anular o que sente por ele. Se não fosse tão doloroso para mim, eu diria que é uma bela história de amor.

— É difícil se esquecer do primeiro amor, talvez ela só precise de tempo.

— Estou dando a ela, sei que ela precisa. Mas não sei se é possível se esquecer de alguém que amamos tão intensamente. Olhe para mim, Hannah é o meu primeiro amor, e sinto que nunca vou amar alguém da mesma forma que eu a amo. O que me garante que ela não se sinta da mesma forma em relação a Brad? Não posso ser tão egoísta, não posso pedir para que ela tente anular algo tão intenso. — Me arrependi de ter falado sobre a intensidade dos meus sentimentos quando me lembrei com quem estava falando. O rosto de Thalita estava imóvel, sem expressão alguma. Me senti um pouco aliviado por ela não parecer estar magoada.

— Pelo o que vejo, ela está disposta a te amar. Devia se permitir a viver essa história de amor, nem todos têm essa sorte, Dylan.

— Não posso ser tão egoísta com ela.

— O problema é que você pensa demais nela, e não pensa nem um pouco em você.

— Não há muito o que eu possa fazer...

— Ela nem quis te assumir, Dylan!

E ali estava o motivo de eu não ter desabafado com ela antes; as palavras de uma pessoa com o coração partido podem mudar o rumo das coisas. Palavras postas para fora no momento errado podem mudar tudo. Podem destruir histórias.

— Pra que remoer? Isso não vai mudar o passado.

— Então, vai a entregar de bandeja para o outro? — Disse ao perceber o modo como havia falado. O modo como os seus sentimentos dominaram aquela situação. Eu não podia julgá-la, aquilo já havia me ocorrido por diversas vezes.

— Vou a entregar de bandeja para o destino. Não quero me magoar mais, nem sei se aguentaria.

— Você vai superar isso, te garanto!

— Queria ter essa certeza.

— Só para registrar — levantou as mãos —, se ela for burra em te perder, vou fazer de tudo para que goste de mim!

— Thalita... — A compaixão era presente em meu tom de voz. Eu entendia exatamente como ela estava se sentindo.

— Não, Dylan, estou falando sério! Quero o melhor para você, e se não for ela, eu serei.

Olhei para o céu, desviando o seu olhar do meu.

— Vai se machucar.

— Posso lidar com isso.

Mas eu não podia, porque nenhuma mulher no mundo significaria o que Hannah significa para mim. Ela é o complemento da minha alma. É mais do que o suficiente, ela é tudo o que mais quero na minha vida. E, por isso, preciso vê-la feliz, mesmo que não seja ao meu lado. Hannah precisa se desvencilhar de mim para seguir o seu caminho, para descobrir o que realmente quer. Ou melhor, quem realmente quer.

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora