Capítulo Quarenta e seis. - Conflitos internos.

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— Temos que começar a planejar o seu aniversário de dezoito anos, filha! — Minha mãe falou com empolgação. Ela adora planejar festas, principalmente quando são para as suas filhas. Dona Ana ficou devastada quando me recusei a ter uma festa de quinze anos. Não tive animação para algo desse tipo, não naquela época. Como poderia estar feliz quando o meu melhor amigo estava prestes a ir embora? A partida de Dylan me deixou devastada.

— Não sei se quero fazer uma festa.

— Como não?

— Sei lá, só não estou com vontade.

— Nem venha com essa! É uma data importante, querida.

— A senhora pode planejar tudo, ok?

— Sério? — A euforia era nítida na sua voz.

— Sim.

— Tudo bem, se é o que deseja. — fingiu não dar importância.

Estamos sentadas no sofá do enorme quintal da minha vó. É estranha a sensação de saber que essa será a última vez em que estarei aqui. Tenho tantas memórias da minha infância nesse lugar; é estranho ter que dizer adeus.

— A senhora vai sentir falta dessa casa?

— Um pouco. No fundo, eu já esperava por algo do tipo, por isso fiquei conformada com a venda. Mas nunca pensei que a sua avó fosse querer ir para um asilo.

— Ela sabe o que é melhor para ela.

— Sua avó é uma pessoa determinada.

— Acho isso admirável, queria eu ser assim.

Minha mãe me encarou abismada, provavelmente, ela não esperava por essa resposta.

Subi para o quarto no fim daquela tarde. Peguei todas as roupas que guardei no pequeno armário, as jogando na mala. Voltaremos para casa amanhã à noite. Mal posso esperar para ver Dylan novamente. E tenho que confessar estar nervosa para rever Brad. O que direi a ele? Não posso partir o seu coração. Ele é bom demais para ter um coração partido.

Sentei-me na beirada da cama, afundando as mãos em meus próprios cabelos.

O que estou fazendo da minha vida?

O que estou fazendo com eles?

Isso não está certo, simplesmente não está.

Meu celular começou a vibrar, e o nome de Dylan brilhou na tela. Suspirei fundo, tentei colocar meu melhor sorriso no rosto, na esperança de que ele não notasse o meu desequilíbrio emocional.

O seu rosto preencheu a minha tela. Dylan está com um sorriso estonteante nos lábios. Como pude machucar tanto um ser tão doce? Como pude ser tão estúpida? Não o mereço, ele é demais para mim.

— Estou contando as horas para te ter de volta.

— Eu também.

— Ainda bem que não são tantas horas de voo.

— Pois é.

— Você está bem, Nana?

Meu coração acelerou com aquele apelido. Ele realmente tinha voltado a me chamar assim. O meu Dylan definitivamente estava de volta. Tenho medo de perdê-lo outra vez. Não quero que nos afastemos de novo, quero que fiquemos juntos para todo o sempre.

— Estou sim.

— Estou te achando meio aflita.

— Impressão sua.

— Sabe que não consegue esconder nada de mim, não é?

Sorri com o comentário.

— Só estou pensativa, só isso.

— Se quiser compartilhar seus pensamentos, estou aqui.

— Eu te amo, Dylan. — Falei de repente.

Uma parte de mim sente que essa confusão irá se aflorar quando a rotina voltar. Dylan e Brad no mesmo lugar; o que farei? Brad espera por mim, mas já tomei minha decisão. E se as coisas saírem do meu controle? O que vou fazer?

— Eu também te amo, mas por quê isso do nada?

— Porque preciso que saiba que eu te amo. Eu te amo da mesma forma que você me ama. Vou te dizer isso sempre que puder; já te fiz esperar demais por isso.

— Você não manda no seu coração, Nana, não podia se obrigar a gostar de mim.

— Mas podia enxergar o que você sentia por mim. Devia ter enxergado o que eu sentia por você.

— Como assim?

— Sempre precisei de você, Dylan. Sempre senti ciúmes das outras garotas que se aproximavam. A sua presença motivava a minha existência, e sempre entendi tudo isso da forma errada. Acho que nunca te enxerguei apenas como um amigo, só demorei demais para perceber, entende?  

As palavras vinham à minha boca, como se meu coração estivesse confessando algo a mim mesma. Coloquei aquilo tudo pra fora, mesmo sem saber que estava engasgado na minha garganta. Mas a verdade é essa: eu sempre gostei de Dylan, não só como um melhor amigo, mas como namorado.

Ele sempre esteve lá quando precisei. Ele sempre fez o meu coração acelerar. Ele sempre me amou, ainda mais do que eu o amei. Mas agora tudo está vindo à tona, isso porque não soube interpretar os meus próprios sentimentos. Eu simplesmente não me conheço. Sou uma farsa. Machuco os outros por simplesmente não saber o que realmente quero fazer. O que eu realmente quero?

Dylan baixou os olhos. Aquilo realmente deve ter o tocado.

— Está falando sério?

— Tudo parece claro agora. Não esclareci algo apenas para você, esclareci para mim mesma.

Um sorriso bobo predominou a sua face.

— Você não faz ideia do quanto é bom ouvir isso!

— Acredite, eu sei.

Tudo parece uma loucura agora. Como uma pessoa não percebe o que sente por vários anos? Tudo teria sido diferente. As coisas seriam mais fáceis. Tudo seria melhor se eu me conhecesse. Sou uma bagunça, uma bagunça que machuca àqueles que ama.

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora