Capítulo Sete. - Volta às aulas.

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- A escola tá cheia de novatos, e eles são muito gatos! - Eva disse ao se abanar com a mão. Mal havia começado o ano letivo e ela já planejava passar o rodo.

- Eles nem são tudo isso.

- É claro que você pensa assim, só tem olhos pro Brad!

Nisso ela tinha razão. Nenhum garoto - além de Brad - encheu os meus olhos de uma forma romântica. Pra mim, Brad era o cara mais bonito do planeta.

- Não me julgue!

- Não estou fazendo isso, só acho que você deveria se abrir para novas oportunidades, e para novas pessoas.

- É difícil.

- Porque você só pensa no Brad!

A nossa conversa foi interrompida pelo sinal. Fomos para a sala nova, e escolhemos os nossos lugares. Nos sentamos na frente, como nos anos anteriores.

- Somos oficialmente o terceirão! - Eva disse empolgada.

- Pois é.

- Credo, que falta de animação.

- Desculpa, ando sem ânimo ultimamente.

- Ainda é por causa do Dylan?

- Exatamente.

- Não se esquenta com isso, ele só deve estar em uma fase rebelde.

- Queria acreditar nisso.

- Hannah, ele é o Dylan. Você sempre foi tudo pra ele, sabe disso.

- Eu era.

- Não diga isso.

- Esses dois anos em que ficamos afastados o mudaram por completo. Me pergunto se ainda o conheço...

- Não diga bobagens!

Antes que eu a respondesse, Dylan entrou na sala, e por essa razão fiquei em silêncio. Tudo o que eu menos preciso agora é que ele escute os meus desabafos sobre a nossa relação. Ele se sentou no fundo da sala, o que era novo pra mim, porque Dylan sempre se sentava na frente. Ele sempre foi o mais estudioso da turma. O que será que aconteceu com ele nesses dois anos? O que o fez mudar dessa forma?

- O Dylan no fundão?! É... ele realmente está mudado. - Eva sussurrou em meu ouvido.

- Eu te disse.

As duras palavras de Dylan voltaram a minha mente. Me dói demais saber que ele não quer ficar perto de mim, quando tudo o que quero é ficar perto dele. Sinto falta das nossas conversas, das nossas brincadeiras, e de tudo o que nós vivemos. Sei que passamos dois anos afastados, mas pelo menos nesse tempo pude ter a esperança de que quando ele voltasse teríamos tudo aquilo de novo. Mas eu estava enganada.

Brad entrou na sala, ele ria de alguma coisa. O que era tão engraçado?
Uma pontada de ciúmes surgiu em meu peito com a possibilidade de uma garota o fazer rir desse jeito. Sei que já deveria estar acostumada com isso, mas é inevitável.

Ele sorriu ao me ver, e eu o correspondi prontamente. Sempre me agarrei a cada demonstração de carinho que ele me dá. Isso alimenta as minhas esperanças de que um dia nós ainda vamos ficar juntos. Brad se sentou atrás de mim, o que fez o meu coração palpitar.

- Ansioso para o nosso último ano escolar? - perguntei.

- A palavra correta seria nervoso.

- Você está nervoso? - se meteu Eva.

- E você não?! Quando este ano acabar vamos ser praticamente adultos.

- Você tem razão. - concordei.

- Quero ser adulta logo, por isso não estou nervosa.

- Você sempre tem que ser do contra. - brincou Brad.

- É o meu charme, docinho. - piscou.

Docinho... ela não devia o chamar assim. Mas que droga de ciúmes!

A professora de português entrou na sala. Ela começou a explicar sobre o conteúdo que daria nesse primeiro semestre. Meus olhos brilhavam a cada palavra proferida pela professora. Essa é definitivamente a minha matéria preferida. Não é atoa que o curso de letras é minha primeira opção para a Universidade.

O carro da minha mãe deu problema, e agora vou ter que voltar andando pra casa. A distancia entre a escola e a minha casa não é tão grande assim. Fui até Brad e pedi pra voltar com ele. Quando mais novos os nossos pais revezavam as idas e voltas para a escola, e nós três sempre voltávamos juntos. Mas desde que Brad começou a namorar com a sua última namorada, ele passou a levá-la todos os dias.

Saímos da escola e começamos a caminhada. Me perguntei se Dylan havia ficado na escola. Eu me preocupo muito com ele. Hoje ele estava muito calado e isolado, e ele não era assim. Bom... ao menos ele não era à dois anos atrás.

- Gostou do primeiro dia? - Brad puxou assunto.

- Sim, tirando a parte do novo Dylan ser antisocial.

- Acho que ele deve estar passando por uma fase difícil.

- Que fase?

- Sei lá... um termino, talvez.

Termino? Será que Dylan teve uma namorada? Ele teria me contado, certo?
Espera... ele não me conta mais nada.

- Não sei, antes de se mudar daqui ele ainda era bv.

- Duvido que ele ainda seja!

- Por incrível que pareça, eu também.

Brad segurou em meu braço antes de atravessarmos a rua. Ele sabe que sou meio desatenta, por isso sempre me protege dos carros. Quando chegamos do outro lado eu sorri em agradecimento.

- Você sente falta dele? - perguntou.

- Do Dylan?

Ele afirmou com a cabeça.

- Sinto, e muita.- admiti.

- Ele vai voltar a falar com você, acredite.

- Espero. Mas você precisava ver o modo como ele falou comigo, eu não o reconheci.

- Sei como é difícil.

- Pelo menos ele fala com você!

- Mas ele está diminuindo a frequência. É como se ele quisesse nos excluir da sua vida.

- E isso me machuca demais.

- A mim também.

Dylan sempre foi o mais gentil e carinhoso do grupo, por isso essa mudança de temperamento nos pegou de jeito. Vou pedir para minha mãe tentar descobrir o que aconteceu com ele, já que ela e tia Valquíria são amigas.

- Ainda bem que tenho você, Brad! - sorri de lado.

- Eu sei, todos adoram a minha companhia! - brincou.

- Palhaço - disse rindo. - Mas estou falando sério, não sei se suportaria te perder também.

- Ei - ele parou de andar e segurou meu rosto. Pude olhar no fundo dos seus profundos olhos castanhos, o que trouxe as borboletas em meu estômago. - Eu vou sempre estar aqui por você.

- Posso dizer o mesmo.

Pode ser coisa da minha cabeça, mas naquele momento senti que rolou um clima entre nós dois. Tudo que eu sempre quis foi que Brad me olhasse com outros olhos, e naquele momento pude acreditar que em algum dia isso seria real. Resolvi fingir que não havia sentido nada, como costumo fazer, e continuamos o nosso caminho de volta pra casa. Mas o meu coração estava acelerado, e não era pela caminhada. Estava longe de ser por isso.

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora