Capítulo Três. - Estou de volta.

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O despertador tocou, me tirando da terra dos sonhos. Odeio acordar cedo, mas Eva havia me convencido a caminhar com ela. Segundo ela, nós precisamos estar saradas e gostosas até o fim do ano. Eu a disse que não precisávamos disso, mas é impossível mudar a cabeça daquela garota.

Tomei uma banho rápido, pus uma calça legging e uma camiseta branca. Amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo, escovei os dentes, e desci correndo para a cozinha. Peguei uma maçã, e comecei a comer-la antes de sair de casa. Marcamos de nos encontrar em um parque que fica  perto daqui. Dei de cara com Brad assim que saí de casa.

— Acordado a esse hora? — Comentei bem humorada.

— Meu pai me obrigou.

— Vão ir fazer compras?

— Acertou. — Falou, sorridente.

— Até mais tarde! — Despedi-me.

O pai de Brad adora sair de casa bem cedinho para ir ao supermercado. Ele diz que as verduras vão estar mais frescas, e o local estará vazio. Tio João sempre chamava Brad para ir com ele. Era um lance de pai e filho. Brad podia até reclamar por acordar cedo, mas ele adorava passar mais tempo com o seu pai, sei disso.

Eu já havia terminado de comer a maçã quando cheguei ao parque. Eva ainda não tinha chegado. Sentei-me em um dos balanços, e as lembranças do passado invadiram a minha mente. Dylan e Brad sempre apostavam uma corrida para ver quem chegava primeiro no balanço, e eu só sabia rir da cara dos dois, principalmente quando algum caia com ela no chão. Queria poder viver tudo aquilo de novo. Era muito bom ser criança. Era muito bom passar os dias com aqueles dois. As minhas tardes eram deles, todos sabiam disso.

— Desculpa a demora, é que a minha casa fica mais longe do que a sua. — Eva disse ofegante.

— Tudo bem.

Me levantei do balanço e nós começamos a caminhar. Eva achou que nós estávamos andando muito de vagar, então, acabou me obrigando a correr com ela. Ela disse que assim o exercício teria mais efeito no nosso corpo. Corremos por dez minutos. Voltamos ao parque e nos despedimos. Minha amiga disse que seria legal se nós corremos amanhã novamente, mas a despistei, dizendo que iria pensar na proposta. 

Resolvi voltar para casa andando no meu ritmo. Eva corria rápido demais, e aquilo me cansou. Quando entrei na minha rua, espantei-me ao ver um caminhão de mudanças ao lado da minha casa. Os antigos inquilinos dos Ribeiro já haviam se mudado. Quem seria a nova família que iria morar ali?

Não havia nenhum indício dos novos inquilinos. Só estavam presentes alguns homens tirando os móveis do caminhão.

Entrei em casa e fui direto para cozinha, beber água. Preciso tomar outro banho, suei demais nessa pequena corrida. 

Ouvi um som de motor, de carro, vindo do lado de fora. Logo o meu modo fofoqueira foi ativado e corri para a grande janela que havia na sala. Os meus novos vizinhos saíram do veículo, eles não me pareciam estranhos. Demorei para reconhecer a Tia Valquíria e o Tio Carlos. Meus olhos quase se encheram de lágrimas quando avistaram uma silhueta masculina e uma cabeleira castanho-claro. Era ele. Era Dylan. Ele estava de volta.

Sem pensar duas vezes, corri para o lado de fora, e todos me olharam quando perceberam a movimentação. Todos estavam de volta, até o irmão mais velho de Dylan, o Murilo.

— Ai, meu Deus, vocês estão de volta! — falei empolgada.

Antes que alguém me respondesse, corri e envolvi Dylan em um abraço singelo, cheio de saudades. Não me importei em estar suada, a emoção era maior. O meu melhor amigo havia voltado. Estava me sentindo completa outra vez.

— Eu não acredito que você está aqui! — Exasperei ao me afastar.

— É, eu estou. — disse sem emoção.

— E você nem para me contar! — comentei, sem ligar para o humor do garoto à minha frente. Nem eram dez horas da manhã, quem estaria animado, não é mesmo?

— Acho que ele queria fazer uma surpresa.— disse tia Valquíria. — Oh, você está tão crescida e ainda mais bonita! — comentou.

— Obrigada. E a senhora continua maravilhosa! — disse antes de envolve-la em um abraço.

— E aí, Hannah, como vai o meu velho amigo Robert? — tio Carlos perguntou.

— Está ótimo.

— Senti falta daquele gringo! — comentou brincalhão.

— Olha para você, está crescida mesmo, Hannah! — Murilo disse brincalhão.

— Não mais do que você.— Me referi a sua altura.

Murilo estava muito alto, e não pude deixar de notar que Dylan também estava. Um dos homens chamou tio Carlos, e tia Valquíria e Murilo o seguiram. Deixando Dylan e eu sozinhos.

— Você não faz ideia do quanto que senti a sua falta! — Admiti.

— Também senti a sua.

Aquilo era para soar fofo, mas senti que faltava sentimento nas palavras de Dylan. Será que ele não havia sentindo a minha falta e só estava fingindo? Vou ficar arrasada se realmente for isso. Não conseguiria viver em paz se Dylan não gostasse mais de mim. Será que ainda sou o suficiente para ele?

— Estou tão feliz por você está aqui! — Falei, ignorando o que me torturava.

— É... vou ajudar ao meu pai com a mudança, depois a gente se fala.

— Tá certo...

Observei os passos dele se afastando de mim, Dylan nem sequer olhou para trás. A lembrança da última mensagem que havia o enviado invadiu minha mente. Ele nem tinha me respondido. E agora, não aparenta mais me ver como antes. Senti vontade de chorar com a possibilidade dele não querer mais ser o meu amigo, mas logo afastei esses pensamentos, afinal, ele é o Dylan, e nós sempre seremos o suficiente um para o outro.

Voltei para casa e contei as boas novas para a família. Minha mãe não se aguentou de felicidade e logo foi falar com a sua amiga Valquíria. Subi as escadas, entrei no banheiro e tomei um banho. Não fui atrás de Dylan depois disso. Queria que ele viesse até mim, para ter certeza de que ainda seriamos melhores amigos. Mas ele ainda não tinha vindo. Minha mãe os convidou para almoçar, mas eles recusaram educadamente, dizendo que estavam com saudades do seu restaurante favorito da região. Depois da hora do almoço, Brad voltou pra casa com o seu pai. Eles geralmente passavam uma boa parte do dia fora quando faziam compras. Esperei um tempo até que ele guardasse as compras e fui até lá, o chamando para conversar.

— Oi, Hannah! — Me cumprimentou, bem-humorado.

— E aí, como foram as compras?

— A mesma coisa de sempre.

— Não venha com essa, aposto que gostou!

— Você me conhece bem, não é? — Sorriu.

— É nisso o que dá sermos amigos por tanto tempo.— brinquei.

— É verdade.

— Tenho uma novidade pra você! — Falei animada.

— Vamos lá, me conte.

— Adivinha.

— Como vou saber o que quer me dizer? — Riu.

Antes que eu o respondesse, uma figura masculina surgiu atrás de mim, e disse:

— Acho que ela quer dizer que estou de volta.

— Minha nossa! — Brad disse chocado. — Cara, você nem me avisou!

Brad se aproximou de Dylan, e os dois deram um abraço de mano. Era tão bom os ver juntos outra vez. Era como se tudo estivesse voltando ao normal. Desde a partida de Dylan, um vazio se instalou em nossas vidas, ao menos na minha. Brad sempre ficou ao meu lado, tentando fazer com que eu me sentisse melhor, mas eu sabia que ele também sentia falta do amigo.

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora