Capítulo Quinze. - Do outro lado da janela.

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Desde que me entendo por gente, todas as vezes em que fico com a cabeça cheia de paranóias, costumo ficar sentada de frente a grande janela da sala olhando o movimento da rua. Pra mim, é terapêutico ficar olhando a vida alheia.

Por mais que eu tente esquecer, as palavras de Dylan não saem da minha cabeça. É uma grande incógnita que se formou em meu cérebro. O que eu não deveria saber? E porquê eu me afastaria se soubesse?

Tenho que arrumar um meio para descobrir.

Observei Brad sair de casa para jogar o lixo. Ele não sabe que estou o vendo, tem fumê no vidro da janela. Só quem está dentro consegue ver o lado de fora. Ou seja, ele não consegue me ver.

Sorri ao vê-lo se atrapalhar com a tampa da lata. Ele olhou em volta, pra ver se alguém tinha visto, e pareceu aliviado quando não viu ninguém na rua. Coitado... se soubesse.

Senti a movimentação de alguém se sentando ao meu lado. Nem me dei ao trabalho de ver quem era, afinal, eu já imaginava.

— Se ele soubesse da sua obsessão, sairia correndo. — Olívia disse com um ar de riso.

— Não sou uma obcecada.

— Você está literalmente o observando jogar o lixo como se fosse a coisa mais divertida do mundo!

—  Só gosto de vê-lo.

— Quando vai se declarar?

— Nunca, talvez.

Ela balançou a cabeça em negação.

— As coisas nunca vão ir a diante se você permanecer em silêncio.

— Acredita que o Brad pensava que eu era apaixonada pelo Dylan?

— Acredito. — Ela não parecia estar surpresa.

— Como assim? —  Quem estava surpresa era eu.

— Vocês dois sempre foram muito próximos.

— Como amigos.

— Às vezes eu me perguntava se você  era apaixonada pelo Dylan, e não pelo Brad.

Estou em choque. O que levava eles a pensarem assim?

— Isso não faz sentido. — comentei.

— Claro que faz, você que nunca quis admitir.

A olhei com um olhar de reprovação. Como ela podia deduzir sobre o que eu sentia com tanta propriedade?

— Quais são as fontes? As vozes da sua cabeça? — Fui irônica, e ela me mostrou o seu dedo do meio.

— Tá vendo só? É só tocar nesse assunto que você fica na defensiva.

— Não fico.

Ela sorriu em forma de deboche.

— O que foi? — perguntei.

— O que custa admitir pra si mesma que já teve uma queda por ele?

— Porque eu não tive!

— Tem certeza?

— Você está me deixando confusa.

— Se tive tanta certeza como diz, não estaria.

— Acho melhor você mudar o seu curso pra psicologia, é mais a sua cara. Oh, senhora leitora de mentes. — Mudei a voz na última frase.

— E você seria a minha cliente mais frequente.

Não retruquei, era verdade.

— Mudando de assunto... acho que o Dylan tá saindo com a Thalita.

— Aquela bonitona da sua sala?

Balancei a cabeça positivamente.

— Ele é um cara de sorte.

— Ela também é uma mulher de sorte.

Falei tão espontaneamente que nem raciocinei o que disse.

Mas era verdade, Dylan sempre foi um cara doce e educado. Ele possui um bom coração. É um menino de ouro.

Olívia me olhou com uma cara como se dissesse "Tem certeza de que não gosta dele?".

— Não começa, sei que concorda comigo!

— Eu não disse nada. — se fez de sonsa.

Encaramos a rua vazia. Brad já tinha entrado em casa a alguns minutos atrás.

Olívia se levantou do chão, espalmou a mão, e me disse que voltaria a estudar. Mas quando ela estava prestes a sair me lembrei de algo, de pedir algo.

— Olívia.

— Sim?

— Você e o Murilo são amigos, não é?

— Pode se dizer que sim.

Me levantei do chão e caminhei até ela.

— Você pode descobrir o que ele sabe sobre o afastamento de Dylan?

— Você quer que eu pergunte ao irmão do seu melhor amigo sobre o que ele sabe sobre o afastamento dele?

— É basicamente isso.

— Ok, posso fazer isso por você.

— Obrigada.

— Mas você vai ficar me devendo uma!

— E aonde fica a caridade para a irmã mais nova?

— No seu coração.

Mostrei a língua.

— Mas, vem cá. Não era mais fácil você falar logo com o Dylan?

— Eu tentei, mas ele disse que se eu soubesse seria eu a me afastar.

—  Uou, que interessante...

Fechei a cara.

— Nem tudo são casos que precisam ser investigados e julgados. — falei.

— Tenho que melhorar nesse aspecto. — Deu uma piscadinha.

Quando Olívia saiu do local, uma grande luz se acendeu em minha mente.

Será que Dylan achava que eu era apaixonada por ele e por isso se afastou?

Mas eu sempre deixei claro os meus sentimentos por Brad, ao menos pra ele.

Será que eu realmente nunca senti nada por Dylan?

Será que Olívia tem razão?

Será que eu nunca admiti pra mim mesma que sentia algo?

Mas e o que eu sentia por Brad?

É possível gostar de duas pessoas ao mesmo tempo?

Não, é claro que não.

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora