Enxuguei a testa com a mão. Estou toda suada. Eva me convenceu mais uma vez a acordar cedo em pleno sábado, para caminhar. Ao menos ela pegou leve dessa vez!
Não pude deixar de olhar pra casa dos Ribeiro's quando passei na frente dela. Valquiria estava colocando algumas caixas na mala do carro. Fiquei parada, observando cada movimento. Eles vão embora de novo? Não é possível.
Antes de entrar em casa, ela olhou em minha direção e sorriu.
--- Bom dia, Hannah!
--- Bom dia. - sorri de volta.
--- Você está ocupada?
--- Não.
--- Os garotos sairam pra surfar e se esqueceram de me ajudar a colocar as doações no carro.
Doações, são apenas doações.
--- Quer ajuda?
--- Eu adoraria, são muitas caixas!
Ela pediu para que eu entrasse em sua casa. Fazia tempo des da última vez que estive aqui. É tão nostálgico.
--- Você pode pegar a caixa que está no quarto do Dylan?
--- Claro.
--- Obriguei a todos eles a encherem no mínimo uma caixa. Você sabe como os homens são bagunceiros!
--- A maioria, sim.
Subi as escadas, e me deparei com a porta de seu quarto. Será que ele vai ficar com raiva por eu estar invadindo o seu espaço?
Balancei a cabeça para espantar os pensamentos, e entrei no cômodo. Ainda me lembro da última vez em que entrei aqui. Foi no dia em que ele foi embora. Ficamos abraçados por cinco minutos, enquanto choravamos, já com saudades um do outro.
O quarto não havia mudado tanto assim. Só alguns móveis estavam em lugares diferentes.
Avistei a caixa do lado da sua cama, caminhei até lá, e antes que eu a pegasse vi o livro que estava em sua escrivaninha. Era o meu livro preferido. Razão e Sensibilidade, da Jane Austen.
A curiosidade falou mais alto, em que capítulo ele está?
Peguei o livro com cuidado, para não tirar nada do lugar, e quando o abri me surpreendi com o marca páginas.
Calafrios percorreram por todo o meu corpo.
É a tirinha de fotos minhas que o enviei no cartão de natal do ano retrasado.
A minha boca está aberta em um perfeito "o".
O que isso significa?
Escutei passos. Fechei o livro o mais rápido que pude, e o coloquei de volta no lugar. Peguei a caixa e andei até a porta.
--- Tudo certo? - perguntou a mãe de Dylan.
--- Tudo.
Ela sorriu, e pediu para que eu levasse a caixa até o carro, assim eu fiz. Depois carreguei mais algumas caixas para ajudá-la. Mas a minha cabeça não saia daquele bendito livro e o seu marca páginas.
Me despedi de Valquiria e fui pra casa. Corri pro banheiro e tomei um banho de cabeça.
Estou confusa.
Acho que aquele livro o faz lembrar de mim, por isso o marca páginas. Mas se ele me quer longe, então, por qual razão ele usuária minhas fotos como um marca páginas?
Enrolei o meu cabelo na toalha e me sentei de frente a minha penteadeira. Girei a pulseira azul que nunca tiro do pulso em busca de manter a calma. Como se aquele ato fosse me dar alguma resposta.
Eu me lembro da nossa chamada de vídeo nesse natal. Me lembro de quando ele recebeu o meu cartão postal.
Tínhamos combinado de mandar cartas um pro outro no natal. Era uma forma de estarmos perto naquela época do ano.
Abri a gaveta da penteadeira, tirei algumas coisas de cima e, lá estava, o cartão de natal que ele me mandou naquele dia, onde tinha escrito:
" Feliz natal, Nana! Sinto a sua falta, muito mais do que você possa imaginar."
Ele havia desenhado corações em algumas partes.
Meus olhos se encheram de lágrimas ao lembrar que ele não sentia mais a minha falta. De que ele estava alí, na casa ao lado da minha, mas não era mais o meu melhor amigo. Não era mais o meu Dylan.
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Flashback:
--- Você recebeu a minha? - Dylan disse do outro lado da linha.
--- Acabou de chegar! - sorri alegre.
Estavamos em ligação por vídeo. Dylan pegou a carta que eu havia o enviado e colocou na frente da câmera.
--- Quem abre primeiro? - perguntei.
--- Pode ser você, tenho certeza que a minha carta está menos elaborada.
--- Não seja modesto!
--- Não estou sendo.
Ri de seu comentário, e abri o envelope. Li o que ele tinha escrito, achando fofo.
--- Eu adorei! - sorri mostrando os dentes. - Agora abra o seu.
Ele sorriu de lado e abriu o seu envelope. Eu não havia escrito algo a mais do que já vinha escrito no cartão. Ao invés disso, mandei uma tirinha de fotos minhas.
--- Fotos? - ele riu.
--- As tirei especialmente pra você! - brinquei, o fazendo sorrir ainda mais. - É pra você nunca se esquecer de mim.
--- Impossível.
--- Amo você, Dylan.
--- Eu também te amo, Nana.
Sorrimos um pro outro.
Não ficamos muito tempo em ligação, ele tinha que ajudar a mãe com a ceia de natal.
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Dias atuais:
Deitei na cama, e me permiti chorar, sentindo a falta do meu melhor amigo. A falta do meu Dylan.
O que será que aconteceu?
O que fez tudo mudar entre nós?
Espero que ninguém venha no meu quarto hoje, quero ficar sozinha.
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NÃO ERA VOCÊ
RomanceHannah nutria uma paixão ardente pelo vizinho. Seus olhos nunca se desviaram para mais ninguém, mas tudo poderia mudar com o retorno de seu melhor amigo. Dylan, por sua vez, guardava uma paixão secreta por sua melhor amiga, mas nunca ousou declarar...