Capítulo Cinco. - Preciso entender.

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Minha mãe preparou um jantar de boas-vindas para os Ribeiro. Eles disseram que não precisava, mas ela insistiu, e eles acabaram cedendo. Particularmente, achei uma ótima ideia. Passar mais tempo com Dylan era tudo o que eu precisava. Também queria entender o porquê de ele ter agido tão estranhamente mais cedo. Ele agiu normalmente com Brad, mas não comigo. E isso estava me remoendo por dentro.

Me olhei mais uma vez em frente ao espelho e analisei o meu reflexo. Não estava nada mal, aquele vestido me caiu muito bem. Terminei de me ajeitar e fui para sala. A minha mãe também havia chamado Brad e sua família. Me senti como nos velhos tempos. Todos juntos. Aquilo realmente enchia o meu coração de alegria. 

Todos estavam conversando na sala, com exceção dos meus dois amigos. Fui até Olívia, que falava com Murilo.

— Você sabe onde os garotos estão? — perguntei.

— Acho que estão lá fora.

Sorri em agradecimento, e saí da casa. Os dois estavam encostados em um carro, e riam de alguma coisa.

— Do que estão rindo? — puxei assunto.

—O Dylan estava lembrando da vez em que decidimos acampar aqui fora, mas não conseguimos ficar a noite toda porque ficamos com medo dos morcegos.— Brad disse rindo.

— Você quase desmaiou de medo! — zombou Dylan. E ali estava o meu melhor amigo, atrás daquele sorriso.

— Vocês nem me esperaram pra acampar, fiquei chateada na época!— brinquei.

— Você estava viajando.— disse Brad.

— Isso é uma desculpinha esfarrapada!

— Eu vou entrar. — Dylan disse se afastando.

Olhei todo o seu trajeto até dentro da minha casa. Agora eu tinha certeza, ele estava me evitando. Uma imensa vontade de chorar surgiu em mim. Eu estava perdendo ele, e eu nem fazia ideia do porquê. Eu não podia desistir dele tão facilmente, eu tinha que correr atrás e descobrir a razão de tudo isso.

— Ele está me evitando, não é?

— Não sei...

— Pode ser sincero, Brad.— disse ao me virar em sua direção.

— Dylan não me disse nada, acho que ele deve ter mudado.

— E por que foi justo comigo? — disse chorosa.

— Vem cá.

Brad me envolveu em um abraço reconfortante. Tive que me conter para não desabar em lágrimas na frente dele.

Por alguma razão, eu me sentia culpada por Dylan estar com raiva de mim. Será que fiz alguma coisa errada de que não me lembro?

— Você acha que ele me odeia?

— Ele jamais te odiaria, Hannah.

— Espero.

Ele se afastou do abraço e apoiou suas mãos em meus ombros.

— Ninguém nunca conseguiria te odiar, entendeu?

— Eu duvido muito. — Ri sem graça.

— Pelo menos eu nunca conseguiria odiar você.

Depois das doces palavras proferidas por Brad, meu coração quase errou as batidas. Como ele pode ser tão perfeito desse jeito?

— Eu também nunca conseguiria odiar você.

Ele sorriu de lado.

— Vamos entrar? Estou morto de fome! — disse brincalhão.

— Vamos. — Sorri.

Entramos em casa e procurei por Dylan com os olhos. Quando finalmente o avistei ele não me olhou de volta. É muito ruim quando alguém que você gosta muito se afasta repentinamente. Mas, mesmo que ele não queira, nós vamos conversar, ele me deve isso. Preciso entender o que está acontecendo.

Tudo estava estranho, principalmente o clima. O silêncio de Dylan mexeu demais comigo. Sempre foi muito fácil falar com ele, mas agora, eu estava com medo. Depois do jantar, Brad e sua família se recolheram para casa, e quando a família de Dylan estava prestes a fazer o mesmo, eu fui até ele e o segurei pelo braço.

— Aí, eu preciso falar com você.

— Fala.

Olhei as pessoas em volta, e disse:

— Vamos conversar lá fora.

Ele seguiu até o lado de fora em silêncio, e eu apenas o segui. Eu não iria enrolar, iria direto ao ponto. Essa dúvida estava me matando.

— Eu te fiz alguma coisa? — perguntei.

— Como assim?

— Vamos lá, Dylan, nós nunca tivemos segredos. Me conta o que tá acontecendo com você!

Ele ficou em silêncio e baixou a cabeça. Levantei seu rosto com delicadeza, e o fiz olhar em meus olhos.

— Eu estou aqui.

— Esse é o problema!

— O quê? — disse chocada.

— Eu não queria voltar, Hannah. Eu não queria mais te ver!

Naquele momento eu desabei. O meu melhor amigo não queria me ver. Ele não havia sentindo a minha falta. Lágrimas fujonas insistiram em cair no meu rosto. Aquilo foi como uma facada para mim.

— O que eu fiz para você? Me diz!

— Isso não importa, Hannah.

— É claro que importa!

— Nós passamos dois anos afastados, tá legal? É claro que acabaríamos nos afastando.

— Isso é mentira, eu nunca quis me afastar de você! E isso não explica o fato de você não querer mais ficar perto de mim...

— Isso explica muita coisa.

O encarei por um tempo, em busca do velho Dylan, mas falhei miseravelmente .

— Achei que eu fosse o suficiente para você.

— O problema é que você sempre quis mais do que o suficiente. — ele disse, me deixando para trás.

— Quem é você? — bradei.

— Sou o Dylan. — ele nem sequer olhou para trás ao proferir essas palavras. Fiquei parada ali, sem reação. Eu realmente havia perdido o meu melhor amigo. Nunca pensei em que um dia isso aconteceria. Achei que só a morte fosse nos separar.

Entrei em casa, e subi as escadas correndo. Tranquei a porta do quarto e me joguei na cama, me permitindo chorar ainda mais.

— Filha, você quer conversar? — Minha mãe gritou por detrás da porta.

—Não, quero ficar sozinha.

— Tem certeza?

— Estou bem, mãe!

Com certeza ela não tinha acreditado nessa mentira, mas preferiu me deixar sozinha, e eu a agradeci mentalmente por isso. Eu só conseguia me perguntar aonde foi parar o velho Dylan. Quem era esse cara, e o que fez com ele?

O Dylan que eu conheço nunca me machucaria desse jeito. O que será que aconteceu? O que eu fiz de errado? Será que tudo isso é culpa minha?
Eu preciso entender o que aconteceu. Eu preciso descobrir. Não quero ficar sem o Dylan, mas parece que ele quer ficar sem mim.

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora