Minha família está toda reunida à mesa, almoçando e colocando a conversa em dia. O meu corpo está presente no local, mas a minha mente está em Dylan. Me pergunto o que ele deve estar fazendo. Me pergunto no que está pensando, e se os seus pensamentos também estão sendo designados a mim. Hoje é o meu primeiro dia em Brasília, e já estou com saudades dele.
— E Você, Hannah, já decidiu o que quer fazer da vida? — perguntou tia Regina, trazendo-me de volta a realidade.
— Pretendo cursar Letras, gosto muito dessa área.
— As universidades daqui são ótimas, devia tentar entrar em alguma.
— Não queira roubar a minha filha; não tenho culpa se a sua está na Florida!
— Não quero roubar ninguém, Ana, só acho que a minha sobrinha pode ter um futuro promissor aqui. Saiba que pode contar comigo, Hannah, a minha casa também é sua!
— Obrigada, tia.
— Estou falando sério. Paulo e eu mal paramos em casa, seria maravilhoso ter alguém que ficasse lá e nos fizesse companhia.
— Vou pensar no assunto.
— Pense bem, porque vale a pena.
— Ainda diz que não quer roubar minha filha...
Olívia e eu trocamos olhares zombeteiros, nos controlando para não dar uma risada.
— Você tem um certo problema de interpretação, irmãzinha.
— Parem com isso, já estão velhas demais para ficar brigando! — Vovó repreendeu as duas com o olhar, enquanto colocava a sobremesa em cima da mesa. — Hannah decidirá o que quer fazer da vida, não vocês.
— Fui deixar a minha filha decidir o seu caminho, e agora ela está em outro país!
— Nós já falamos sobre isso, querida. — Tio Paulo acariciou o ombro da esposa.
— Eu sei, mas é difícil ver os nossos filhos crescerem. E a minha nasceu com o espírito livre, igual a tia.
— E em falar nisso, como está a minha sobrinha preferida?
— Agatha decidiu ser arquiteta, e já está na metade do curso.
— Vi que ela tem um namorado; ele é lindo!
— Ah, o Jake, ele é um ótimo rapaz!
— Paulo ama este garoto.
— E você, Olívia, já tem algum pretendente? — minha vó perguntou risonha.
— Você tem, filha? — Meu pai, que estava, por um bom tempo, calado, resolveu abrir a boca pela primeira vez.
— Bom, estou focando nos meus estudos. Pretendo finalizar a faculdade com louvor.
— Garota, você está deixando a sua tia orgulhosa!
A aproximação dela com Maurício surgiu na minha cabeça. Acho que ela apenas não quer admitir que tem alguém, já que eles, provavelmente, não têm nada sério.
Todos começaram a se deliciar com o famoso pudim de leite da dona Nena. Minha vó é famosa pelas suas sobremesas. A conversa mudou de rumo, e fiquei feliz pelo assunto "namorado" não chegar em mim. Como explicaria a minha vida amorosa? Sem condições...
— Família, tenho um anúncio a fazer! — Minha vó falou de repente, chamando a atenção de todos. — Vou vender essa casa e me mudar para um asilo com as minhas amigas.
— Mãe, por que está fazendo isso?
— Essa casa se tornou grande demais para mim, não vejo mais razões de continuar nesse lugar.
— A senhora pode vir morar conosco!
— Você e Paulo mal param em casa, querida, eu acabaria ficando sozinha de qualquer jeito.
— Me desculpe, mamãe, mas não vejo necessidade da senhora fazer isso!
— Não cabe a vocês decidirem se devo ir ou não, é a minha decisão, apenas a respeitem.
— A senhora tem certeza?
— Sim. Vocês podem ir me visitar quando quiserem, será um prazer!
Eles começaram a discutir sobre o assunto, e tudo o que a minha vó fez foi começar a retirar os pratos da mesa. Levantei-me e comecei a ajudá-la. Minha vó sempre foi uma mulher determinada; quando ela colocava alguma coisa na cabeça, ninguém conseguia a fazer mudar de ideia. Queria ser que nem ela; saber exatamente o quero, sem me importar com a opinião de alguém.
— Também está me julgando, pequena? — Limpou os pratos, os colocando na pia em seguida.
— Não, estou admirando a sua determinação.
— Pelo menos a caçula da família me entendeu! — disse animada.
— Como a senhora faz pra saber exatamente o que quer?
— Quando sinto que algo é certo ou seguro, meu coração pede para seguir em frente. E assim eu faço.
— O meu coração é bem indeciso, sabia?
— Porque ainda é jovem demais. Você vai aprender com o tempo.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Sou toda ouvidos.
— Minha mãe sempre diz que a senhora era cheia de pretendentes; como soube que o vovô era o homem certo?
Ela suspirou, sorrindo logo em seguida, como se tivesse recordando o seu passado.
— O seu avô era o amor da minha vida. A minha alma gêmea. Gosto de pensar que fomos destinados, e que as nossas almas foram feitas para se encontrarem. Ele era tudo pra mim, assim como eu era tudo pra ele. E além de amante, ele era o meu melhor amigo, o meu confidente. Minha mente nunca precisou ter certeza de que era ele, pois o meu coração já sabia.
— O amor de vocês é lindo!
— Vou lhe dar um concelho; quando achar alguém especial, aproveite cada momento, porque o tempo passa rápido e é bastante severo.
— Tenho medo do tempo.
— Todos nós temos, pequena, todos nós.
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NÃO ERA VOCÊ
RomanceHannah nutria uma paixão ardente pelo vizinho. Seus olhos nunca se desviaram para mais ninguém, mas tudo poderia mudar com o retorno de seu melhor amigo. Dylan, por sua vez, guardava uma paixão secreta por sua melhor amiga, mas nunca ousou declarar...