Capítulo Quarenta e cinco. - Conselhos de família.

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Minha família está toda reunida à mesa, almoçando e colocando a conversa em dia. O meu corpo está presente no local, mas a minha mente está em Dylan. Me pergunto o que ele deve estar fazendo. Me pergunto no que está pensando, e se os seus pensamentos também estão sendo designados a mim. Hoje é o meu primeiro dia em Brasília, e já estou com saudades dele.

— E Você, Hannah, já decidiu o que quer fazer da vida? — perguntou tia Regina, trazendo-me de volta a realidade.

— Pretendo cursar Letras, gosto muito dessa área.

—  As universidades daqui são ótimas, devia tentar entrar em alguma.

— Não queira roubar a minha filha; não tenho culpa se a sua está na Florida!

—  Não quero roubar ninguém, Ana, só acho que a minha sobrinha pode ter um futuro promissor aqui. Saiba que pode contar comigo, Hannah, a minha casa também é sua!

— Obrigada, tia.

—  Estou falando sério. Paulo e eu mal paramos em casa, seria maravilhoso ter alguém que ficasse lá e nos fizesse companhia. 

— Vou pensar no assunto.

— Pense bem, porque vale a pena.

— Ainda diz que não quer roubar minha filha...

Olívia e eu trocamos olhares zombeteiros, nos controlando para não dar uma risada.

— Você tem um certo problema de interpretação, irmãzinha.

— Parem com isso, já estão velhas demais para ficar brigando! — Vovó repreendeu as duas com o olhar, enquanto colocava a sobremesa em cima da mesa. — Hannah decidirá o que quer fazer da vida, não vocês.

— Fui deixar a minha filha decidir o seu caminho, e agora ela está em outro país!

—  Nós já falamos sobre isso, querida. — Tio Paulo acariciou o ombro da esposa.

— Eu sei, mas é difícil ver os nossos filhos crescerem. E a minha nasceu com o espírito livre, igual a tia. 

— E em falar nisso, como está a minha sobrinha preferida? 

— Agatha decidiu ser arquiteta, e já está na metade do curso.

— Vi que ela tem um namorado; ele é lindo!

— Ah, o Jake, ele é um ótimo rapaz! 

—  Paulo ama este garoto. 

— E você, Olívia, já tem algum pretendente? —  minha vó perguntou risonha.

— Você tem, filha? — Meu pai, que estava, por um bom tempo, calado, resolveu abrir a boca pela primeira vez.

— Bom, estou focando nos meus estudos. Pretendo finalizar a faculdade com louvor.

 — Garota, você está deixando a sua tia orgulhosa!

A aproximação dela com Maurício surgiu na minha cabeça. Acho que ela apenas não quer admitir que tem alguém, já que eles, provavelmente, não têm nada sério.

Todos começaram a se deliciar com o famoso pudim de leite da dona Nena. Minha vó é famosa pelas suas sobremesas. A conversa mudou de rumo, e fiquei feliz pelo assunto "namorado" não chegar em mim. Como explicaria a minha vida amorosa? Sem condições...

— Família, tenho um anúncio a fazer! — Minha vó falou de repente, chamando a atenção de todos. — Vou vender essa casa e me mudar para um asilo com as minhas amigas.

— Mãe, por que está fazendo isso?

— Essa casa se tornou grande demais para mim, não vejo mais razões de continuar nesse lugar.

—  A senhora pode vir morar conosco!

—  Você e Paulo mal param em casa, querida, eu acabaria ficando sozinha de qualquer jeito.

—  Me desculpe, mamãe, mas não vejo necessidade da senhora fazer isso!

—  Não cabe a vocês decidirem se devo ir ou não, é a minha decisão, apenas a respeitem. 

— A senhora tem certeza?

— Sim. Vocês podem ir me visitar quando quiserem, será um prazer!

Eles começaram a discutir sobre o assunto, e tudo o que a minha vó fez foi começar a retirar os pratos da mesa. Levantei-me e comecei a ajudá-la. Minha vó sempre foi uma mulher determinada; quando ela colocava alguma coisa na cabeça, ninguém conseguia a fazer mudar de ideia. Queria ser que nem ela; saber exatamente o quero, sem me importar com a opinião de alguém.

— Também está me julgando, pequena? —  Limpou os pratos, os colocando na pia em seguida.

— Não, estou admirando a sua determinação.

— Pelo menos a caçula da família me entendeu! — disse animada.

— Como a senhora faz pra saber exatamente o que quer?

— Quando sinto que algo é certo ou seguro, meu coração pede para seguir em frente. E assim eu faço.

— O meu coração é bem indeciso, sabia?

 — Porque ainda é jovem demais. Você vai aprender com o tempo.

— Posso te fazer uma pergunta?

—  Sou toda ouvidos.

— Minha mãe sempre diz que a senhora era cheia de pretendentes; como soube que o vovô era o homem certo?

Ela suspirou, sorrindo logo em seguida, como se tivesse recordando o seu passado.

— O seu avô era o amor da minha vida. A minha alma gêmea. Gosto de pensar que fomos destinados, e que as nossas almas foram feitas para se encontrarem. Ele era tudo pra mim, assim como eu era tudo pra ele. E além de amante, ele era o meu melhor amigo, o meu confidente. Minha mente nunca precisou ter certeza de que era ele, pois o meu coração já sabia.

— O amor de vocês é lindo!

—  Vou lhe dar um concelho; quando achar alguém especial, aproveite cada momento, porque o tempo passa rápido e é bastante severo. 

— Tenho medo do tempo.

—  Todos nós temos, pequena, todos nós. 

 

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora