Capítulo Cinquenta e oito - Louca

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Hannah Miller

Perdi a noção do tempo por conta dos estudos. Quando focamos em um único objetivo, o tempo passa depressa, como um rolar de olhos. Eu não tinha razões para pensar em outras coisas, principalmente quando elas doíam demais, por isso resolvi me isolar por um tempo. Por semanas, posso dizer. 

 Brad ainda estava ao meu lado, mas a saudade que eu sentia de Dylan estava me corroendo, como se todos os meus ossos estivessem virando pó. Ele permanecia na minha cabeça vinte e quatro horas por dia, mas eu forçava os livros didáticos a tirarem-no de lá. Dylan me perseguia até nos meus sonhos. Era difícil não pensar nele, mas focar nos estudos diminuía a frequência com que ele tomava todos os meus pensamentos. Estava mais difícil do que quando ele foi embora por dois anos. Era pior porque eu sabia que havia o perdido para sempre, e era tudo culpa minha. A minha estupidez nunca seria perdoada.

Joguei os livros de lado, em frustração; Dylan já havia tomado os meus pensamentos outra vez.

Caminhei até a minha janela que era de frente a sua, abrindo a cortina com brutalidade, encarando a sua janela fechada. Ele não a abria há muito tempo. Dylan havia me cortado da sua vida de diversas formas. Aquilo estava me mantando, eu precisava falar com ele outra vez, esperar não era uma boa decisão para uma pessoa ansiosa.

Sem prestar atenção, acabei esbarrando na minha pilha de livros antes de voltar para a minha escrivaninha, fazendo um barulho consideravelmente alto. Ouvi os passos acelerados de Olívia vindo em direção ao meu quarto. Ela estava com medo que eu acabasse com depressão e acabasse me auto punindo  por me sentir culpada. Minha irmã passou a me observar com bastante frequência, o que era chato já que eu precisava fingir estar bem para não preocupá-la.

— Tudo bem por aqui? — Abriu a porta, colocando a cabeça para dentro do quarto.

— Sim, só derrubei alguns livros.

Olívia deu um sorrisinho, entrando completamente no quarto.

— Sabe... — começou — estava me lembrando da proposta que tia Regina te fez.

— Que proposta?

— De você estudar em Brasília. Acho que seria legal, você sempre adorou ir pra lá.

— Morar é diferente de visitar. — Dei de ombros, sentando-me na cadeira de frente à escrivaninha.

— Poderia ser uma das suas opções de Universidade pelo menos. Deve ser muito legal dar uma mudada na vida, não acha?

— Odeio mudanças. — Como eu odiava...

— Mas você ficaria livre dos seus problemas.

— Está querendo que eu saia de casa, é isso? — A olhei indignada.

— Não, não... eu só... eu só quero que volte a ficar bem; não pode viver assim para sempre, irmãzinha.

— Olívia, se estou assim é problema meu, a culpa foi minha ao final de contas. Se estou assim, é porque mereço.

— Não seja tão cruel consigo mesma, problemas amorosos acontecem na vida de todo mundo.

— Mas eu destruí uma das coisas que mais amava, a minha relação com os meninos.

—  Brad ainda fala com você.

— Eu consigo ver a dor nos olhos dele, acha que me sinto bem com isso?

— Isso cicatriza com o tempo, pode apostar.

— Não venha dar uma de otimista!

— Tenha calma, não precisa ficar tão irritada.

— Me desculpe... ando meio desequilibrada. — Apoiei o rosto nas mãos.

— Percebi.

Revirei os olhos.

— O aniversário de Dylan está se aproximando.

— Eu sei, nunca me esqueceria do aniversário dele.

— Pretende fazer alguma surpresa?

A encarei perplexa, completamente chocada com as palavras ridículas que saíram da sua boca. Era óbvio que ele não aceitaria nada vindo de mim, a pessoa que desgraçou o seu coração.

— Sabe que ele não aceitaria.

— Duvido que ele rejeitasse.

— Não me dê falsas esperanças, por favor, é doloroso.

— Vocês estão fazendo tempestade em um copo d'água!

— Fala isso para ele, não fui eu quem me mandou ir embora.

— Ele deve pensar que fez o melhor para você, mas...sinceramente. — Passou as mãos pelo cabelo, com uma leve irritação presente em sua face. — Não desista dele, Hannah. Se ele te faz bem, apenas não desista.

— Já insisti demais, Olívia; ele não me quer, deve estar bem feliz com a Thalita.

— Eles não estão juntos!

— Como pode ter tanta certeza?

— Murilo me contou.

— O quê?

— Dylan conversa com o irmão, assim como nós duas. Ao que parece, Thalita tenta conquistá-lo, mas ele não se sente pronto para entrar em uma relação.

— Por quê? — Não consegui esconder o fundo de alegria na minha voz. Alegria e receio. Alegria por ele não ter me trocado, receio por ter quebrado o seu coração ao ponto dele não conseguir amar outra vez.

— Não é óbvio? Porque ele ainda te ama!

— Do que adianta ele me amar? Não é o suficiente para ele me querer por perto. Se ao menos ele aceitasse a minha amizade, mas nem isso ele quer!

— Tente o surpreender, faça alguma demonstração de amor no aniversário dele. Dê à vocês essa última chance.

Última chance... aquela primeira palavra parecia extrema demais, última. O meu amor por ele nunca teria uma última vez, ainda mais agora, quando descobri que não era apenas um amor fraternal, mas sim um amor romântico. Eu nunca desistiria de nós dois, por mais que ele me colocasse de escanteio.

— Saia daqui, me deixe estudar! — Apontei para a porta.

— Tudo bem, já vou... mas, me prometa uma coisa antes que eu saia.

— O quê?

— Que dará uma pesquisada sobre as Universidades de Brasília.

— Isso é sério?

— Seríssimo.

— Por quê?

— Lá você estará longe dos problemas e de toda esse energia negativa. Pense com carinho. —Ela saiu do quarto, me deixando sozinha outra vez.

Não consegui pensar no que ela havia sugerido, minha mente estava completamente voltada à Dylan e ao seu aniversário. Como uma abelha e o pólen, a minha cabeça não viveria sem a essência dele. Talvez eu estivesse ficando louca ou a minha culpa estava em um nível extremo demais. Não sei dizer, talvez fosse uma mistura dos dois. Tudo em volta me remetia a ele, até a mais estúpida das coisas. Era desesperador inalar Dylan mas não tê-lo por perto. Olívia tinha razão, eu devia tentar mais uma vez, afinal, não sabia por quanto tempo mais conseguiria ficar longe dele.

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⏰ Última atualização: Jun 27 ⏰

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