Capítulo Cinquenta e três. - Encarando os problemas.

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Fiquei uma semana sem ir para a escola, não tive coragem de encarar os meninos. Eles não me procuraram, e eu também não fui atrás deles. Se eles precisavam de espaço, eu respeitaria, simples assim. Não havia mais nada que eu pudesse fazer.

Era óbvio que eu queria resolver a nossa situação, mas para resolvemos algo desse tipo, precisamos resolver o nosso interior, e eu não estava bem comigo mesma. Tive medo de piorar ainda mais as coisas. Fui covarde.

— Eu não acredito que você ainda está deitada nessa cama! — Meu pai disse ao entrar no quarto.

— A mamãe mandou o senhor vir falar comigo?

— Eu vim porque não gosto de te ver assim!

— Eu acabei com tudo, pai, mereço sofrer.

— Não seja dramática! — Mesmo estando há bastante tempo no Brasil, o seu sotaque ainda é bastante forte ao pronunciar a letra R, principalmente quando ela é antecedida por outra consoante.

— Nenhum dos dois quis vir falar comigo.

— E por que você não fala com eles?

— Porque eles precisam de espaço.

— E como vocês irão se resolver?

— Sinceramente, eu não sei.

— Vá atrás, resolva a situação!

— Não sei se ainda tem jeito de resolver isso, eles estão muito magoados.

— Filha, nessa vida só não se tem jeito para a morte. Então, se a resolução está no seu alcance, não hesite, apenas resolva.

Sentei-me na cama, arrastando-me até ele. Aconcheguei o meu corpo junto ao do meu pai, o envolvendo em um abraço.

— Obrigada, pai, não sei como te agradecer por esse concelho.

— Simples, apenas vá à escola! Esse problema com os garotos não pode estragar o seu futuro!

— Mas é difícil estar lá, as pessoas vão me julgar, me criticar...

— Não se importe com isso, não deixe que as más opiniões afetem a sua essência.

— Mas, e se eles estiverem certos?

— Você tem que se conhecer para saber que eles não estão. Quando sabemos quem somos de verdade, os julgamentos alheios não nos afetam. Ninguém pode te conhecer melhor do que você mesma, filha.

— O senhor é o melhor pai do mundo!

— Pare de me enrolar e vá se arrumar, você já está atrasada! — Se levantou.

— Tenho mesmo que ir? — Choraminguei.

— Sim!

Suspirei, derrotada.

— Você já faltou demais, mocinha, e esse é um ano decisivo!

Não haviam argumentos, ele tinha a razão.

Juntei toda a minha força e fui me arrumar.  Passei dias evitando sair de casa, dias evitando vê-los. Meu corpo se tremia em nervosismo ao ver que a hora de sair se aproximava, na verdade, eu já estava atrasada.

Encarei meu reflexo no espelho, tentando transmitir para mim mesma uma coragem inexistente.

Acrescentei uma casaco com capuz ao meu look, mesmo estando bastante quente lá fora, uma grande parte de mim queria se esconder. Quero morrer de tristeza, vergonha e culpa em todas as vezes em que me lembro do que aconteceu. Como pude ser tão estúpida?

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora