Capítulo Cinquenta e quatro. - Me escute.

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A conversa que tive com Brad me encorajou. Eu não podia deixar que as coisas continuassem daquele jeito com Dylan. Sei que ele precisava de espaço para digerir o que aconteceu, mas eu já tinha esperado demais. Eu não podia mais adiar. Não podia ficar mais tempo longe dele.

Toquei a campainha da casa dele, sentindo uma onda fria percorrer todo o meu corpo. Fechei os olhos, na tentativa de controlar as minhas emoções. Tia Valquíria abriu a porta, dando um pequeno sorriso ao me ver.

— Hannah, que bom te ver!

— É bom te ver também, tia Valquíria. — Tentei sorrir. — Dylan está em casa?

— Sim, ele está. — Deu espaço para que eu passasse. — Entre, ele está no quarto.

Ela disse que eu podia subir as escadas e bater na porta do quarto dele. "Para que formalidade com uma pessoa que já é de casa", foi o que ela disse. Cada degrau parecia um passo para o abismo. Eu não fazia ideia de onde aquela conversa iria parar, mas eu torcia para que fosse em um bom lugar. Bati na porta e ele murmurou alguma coisa, achando que estava falando com a sua mãe. Ele ficou paralisado quando me viu ali. Nos encaramos por um tempo, e pude jurar que os seus olhos penetraram a minha alma.

— Hannah, o que faz aqui? — Falou depois de quase um minuto de silêncio.

— Vim resolver as coisas entre nós.

— Achei que tínhamos feito isso no dia do seu aniversário.

— Dylan...

— Eu já entendi, Hannah, sempre será ele para você.

— Não é verdade, eu escolhi você!

— Mas ele sempre estará na sua vida... e no seu coração.

— Você é o suficiente para mim!

— Não precisa fazer isso, de verdade. Não anule os seus sentimentos por conta dos meus. Eu vou ficar bem.

— Mas eu quero você, Dylan!

— Me responde uma coisa, se eu não tivesse voltado, e ele tivesse se declarado, vocês estariam juntos agora?

Aquela pergunta realmente me pegou de jeito. Fiquei em silêncio, sem saber o que responder, porque a resposta era bastante óbvia na minha cabeça.

Se Dylan não tivesse voltado, provavelmente eu nunca teria descoberto os meus sentimentos por ele. Eu ainda estaria perdidamente apaixonada por Brad. Eu ainda seria a velha Hannah. Então, sim, provavelmente eu teria me entregado de corpo e alma a Brad. E é doloroso pensar que tudo seria mais fácil se tivesse sido assim.

— Tá vendo? É tão óbvio. — Riu sem humor.

— Mas as coisas não aconteceram dessa maneia, Dylan, tudo é diferente agora! — Segurei em suas mãos.

— Nós só vamos nos machucar ainda mais. Olha toda merda que aconteceu! — Puxou suas mãos de volta, cruzando os braços.

— Vamos tentar mais uma vez, por favor. Eu não posso ficar longe de você!

— Você já ficou por dois anos.

— Não faz assim...

— Eu já entendi que o meu cargo é só de melhor amigo, mas eu não vou aguentar fazer isso, Hannah. Ficar perto de você só vai me machucar, porque isso — apontou para nós dois — não vai dar certo. Preciso me priorizar dessa vez. Se priorize também; viva a sua vida. Estou nos libertando, já que não fomos destinados a ficarmos juntos.

— Você não pode estar falando sério! — Falei com os meus olhos cheios de lágrimas, me segurando para não chorar.

— Eu nunca vou ser o suficiente para você. — Sua voz saiu trêmula, e ali percebi que ele também estava se segurando para não chorar.

— Mas você é!

— Eu nunca fui, se eu fosse nada disso teria acontecido.

Aquilo me jogou no chão, mas eu me mantive de pé.

— Você precisa de mais um tempo para assimilar as coisas.

— Tive uma vida inteira para isso, Hannah. Sei do que estou falando, mais do que ninguém, acredite.

— Eu amo você, Dylan!

— Eu também te amo, e é por isso que estou fazendo isto.

— Deve ter outro jeito de resolvermos as coisas... — choraminguei.

— Acho melhor você ir embora.

— O quê?

— É melhor acabarmos dessa forma, sem termos raiva um do outro. Sem estragar a história que tivemos.

— Acho que ela já foi estragada, pois ficaremos tristes ao lembramos daquilo que perdemos.

Ele baixou a cabeça, ficando em silêncio. Suspirei pesadamente, me dando por vencida. Eu conhecia Dylan, ele não mudaria de ideia, ao menos não naquele momento. Aquele garoto sempre foi cabeça dura. Me virei para descer as escadas, mas, daí, escutei a sua voz chamar o meu nome:

— Hannah.

O olhei por cima dos ombros.

— Tudo bem se você ficar com ele, não deixe de fazer isso por mim. Sei o quanto sempre quis que isso acontecesse. Eu vou ficar bem.

Eu não podia acreditar no que ele tinha dito, aquilo parecia tão absurdo. Quem ele achava que eu era?

Não consegui responder, as palavras simplesmente não vinham a minha boca. Então eu fui embora, assim como ele tinha pedido há minutos atrás.

NÃO ERA VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora